Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

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  1. INTRODUÇÃO: JUDAÍSMO – Judaísmo é o nome dado à religião do povo judeu, a mais antiga das três principais religiões monoteístas. Surgido da religião mosaica, o judaísmo, apesar de suas ramificações, defende um conjunto de doutrinas que o distingue de outras religiões: a crença monoteísta D´us.

Há diversas tradições e doutrinas dentro do judaísmo, criadas e desenvolvidas conforme o tempo e os eventos históricos sobre a comunidade judaica, os quais são seguidos em maior ou em menor grau pelas diversas ramificações judaicas conforme sua interpretação do judaísmo. Entre as mais conhecidas encontra-se o uso de objetos religiosos como o quipá, costumes alimentares e culturais como kashrut, brit milá e o uso hebraico como língua litúrgica.

  1. TRADIÇÕES JUDAICAS Brit milá – A circuncisão tem sido praticada em judeus do sexo masculino há quase 4.000 anos, desde que Avraham assim foi ordenado por D’us. A história, as leis e a prática do Brit Milah são extremamente ricos em significados. Em primeiro lugar, ele pode ser visto como um ritual de iniciação, de entrada na comunidade judaica. É o selo da Aliança, através da qual reconhecemos D’us e nos comprometemos com Sua Palavra; desta forma nos tornamos sagrados, e recebemos Suas promessas de vida e fertilidade. E nos conectamos a uma corrente que une virtualmente todos os homens judeus desde Avraham até nosso filho, ali, pequenino e frágil, diante de nós. Essa é uma forma muito intensa e profunda de receber uma criança e de lhe transmitir o pertencimento a uma família e a um povo. O Brit está também relacionado ao crescimento pessoal, questão central no judaísmo.

Conta o Midrash que certa vez um governador romano perguntou a Rabi Akiva, “Se D’us realmente deseja que as crianças sejam circuncidadas, porque elas já não nascem assim? O sábio lhe mostrou então espigas de trigo, e logo em seguida, pães assados. E disse: “D’us deu leis e mandamentos a Israel para que nos purificássemos através deles”.

Para a tradição judaica, a missão do homem é aperfeiçoar o mundo que lhe foi dado pelo Todo-Generoso Criador, mas essa tarefa começa por si próprio. O Brit Milá simboliza o primeiro passo nessa jornada, nos abrindo as portas em direção ao Sagrado. Para o judeu, o ritual da circuncisão representa o início de um trabalho – este processamento” diário de trigo em pão – que o acompanhará por  toda sua vida: o do desenvolvimento espiritual.

Um Brit Milah é, portanto, muito mais que uma cirurgia. É claro que nos dias de hoje ele deve  ser realizado com todos os mais avançados cuidados técnicos. É preciso que o Brit seja seguro, e também que haja a preocupação de causar o menor desconforto possível à criança. Com as técnicas disponíveis hoje em dia, ambos os objetivos podem ser alcançados.

Mas ele  pode  ser vivido também como um momento de grande emoção, onde expressamos gratidão pelo milagre  que representa um filho recém-nascido, e pedimos para ele bênçãos de uma vida de paz, amor, saúde e grandeza espiritual. Como um ritual intenso, que reúne as dimensões de passado, presente e futuro, conectando o recém- nascido e a família ao Tempo e à História. Mais do que  tudo, o Brit Milá é um ato de fé.

A palavra hebraica para fé, Emunah – traduzida também como confiança – expressa melhor este  significado. Ao entregar um filho ao ritual do Brit, o judeu reconhece uma dimensão da vida  que é maior que todos nós, e na qual estamos todos imersos. Neste momento, todos, dos mais afastados aos mais religiosos, nos igualamos a Avraham em Har HaMoriah. Neste momento  estamos dizendo também: acredito; reconheço; entrego. Está escrito em nosso olhar.

  1. Bar Mitzvá E Bat Mitzvah- Ao completar 13 anos, o jovem atinge a maioridade religiosa judaica. Para marcar esta passagem, é celebrado o Bar-Mitzvá, uma cerimônia que ressalta a importância de  cada um dos judeus na corrente ancestral do judaísmo. É nessa data que o jovem, pela primeira  vez, coloca os Tefilin e é chamado para ler na Torá. O judaísmo considera o jovem de 13 anos maduro o suficiente para ser responsável por seus atos.  O Código de Lei Judaica ensina que, a partir dessa data, os jovens passam a ser totalmente  responsáveis pelo cumprimento dos Mandamentos Divinos, as mitzvot, não mais os cumprindo apenas porque assim seus pais lhe ensinaram.

Em hebraico, Bar-Mitzvá e Bat-Mitzvá (menina de 12 anos), significam literalmente “filho ou filha do andamento”.  A própria palavra revela a importância espiritual da data, quando a ligação de um jovem com o judaísmo se torna imutável. O judeu, em sua essência, é filho da mitzvá, ou seja, da Palavra e  Vontade Divina transmitidas a nosso povo por D’us.

Foi naquele momento, ao pé do Monte  Sinai, que a ligação espiritual entre o D´us e o povo de Israel se tornou eterna. Façamos aqui um paralelo com a relação entre filho e pai. O filho pode até se afastar de seu pai, mas ele sempre  continuará a ser seu filho. Da mesma forma, um judeu, ao longo de sua vida, ainda que se afaste  de suas raízes, o vínculo de sua alma com D’us e com o judaísmo é eterno.

Ensina a Cabalá que no dia de seu Bar (13 anos para menino) ou Bat-Mitzvá (12 anos para menina), todos os judeus recebem uma alma  adicional, cujo único desejo é fazer o bem, apegar-se a D’us e cumprir Seus mandamentos.  Esta  nova alma é diferente da alma de uma criança, cujos desejos são quase inteiramente materiais.

O Bar-Mitzvá costuma ser comemorado na sinagoga, na segunda ou quinta-feira mais próxima  da data do aniversário do jovem segundo o calendário judaico. Diante da comunidade, durante  as preces da manhã, o menino lê o primeiro segmento da Parashá – a Porção Semanal da Torá –  que será lida, por inteiro, no Shabat seguinte. A leitura da Torá é elemento fundamental da cerimônia, já que receber uma aliá – ou seja, ser chamado a ler a Torá – é uma dádiva espiritual que só pode ser dada a um judeu que já tenha completado 13 anos de idade.

Na tradição sefaradita, a cerimônia do Bar-Mitzvá tem início com a colocação de um novo talit {um pano sagrado que envolve os homens durante as rezas} sobre o qual o jovem recita bênçãos que são seguidas pelo shehechianu – a brachá tradicional de agradecimento a D´us por nos ter  dado o privilégio de estar vivenciando tal data.

  1. Casamento judaico – O dia do casamento judaico para os noivos é como um Yom Kipur pessoal. É passado em jejum, oração, atos de bondade (tsedacá) e reflexão espiritual. A tradição nos diz que neste dia D’us perdoa completamente ambos pelas transgressões cometidas em suas vidas, para que possam começar suas vidas de casados em um estado totalmente puro. Antes da  núpcias, a noiva deve imergir nas águas do micvê para uma purificação espiritual.

A assinatura da Ketubá, contrato judaico de casamento, demonstra que os noivos não vêem o casamento apenas como uma união física e emocional, mas também como um compromisso legal e moral. Dois homens seguidores das mitsvot servem de testemunhas no ato da assinatura  da Ketubá, assegurando que tudo seja feito de acordo com a prática legal e tradicional judaica.

A cerimônia do casamento deve ser realizada preferivelmente sob céu aberto, lembrando a bênção de D’us para que a semente de Avraham fosse tão numerosa como as estrelas. A cerimônia ocorre sob a chupá, cobertura ou proteção, que representa a casa que o novo casal irá  estabelecer unido. Da mesma forma como a tenda de Avraham era aberta nos quatro lados para  acolher hóspedes de todas as direções, a chupá aberta simboliza o desejo de sempre se ter um lar aberto e acolhedor.

A chupá envolvendo os noivos representa a bênção infinita de D’us em resposta a busca de ambos. Uma bênção que ajudará a frutificar seus desejos de construir um lar sobre a fundação de Torá e mitsvot. A chupá por cima da cabeça dos noivos simboliza que estas duas almas estavam inicialmente interligadas e unidas, e que seu encontro e casamento constitui realmente uma reunificação. Isto explica a grande alegria de um casamento. Uma reunião após uma separação temporária é muito mais emocionante que a união de algo completamente novo.

A chupá sob o céu aberto, reflete a esperança de que esta união será abençoada com muito brilho, como as estrelas que iluminam o céu. Às vezes, uma estrela parece não ter muita claridade, mas dá para reconhecer que ela está emitindo luz na imensa escuridão do céu.

Assim também na vida de um indivíduo ou de um casal, há mérito e valor em cada ato, palavra ou pensamento por mínimos que sejam. Ao chegarem à chupá, a noiva circundam o noivo sete vezes. Este é um costume de origem cabalística, difundido apenas entre as comunidades judaicas ashkenazitas (ocidentais). As voltas são alusivas aos sete dias da Criação. Após terminar as sete voltas, a noiva fica ao lado direito do noivo, em sinal que estará sempre a seu lado para qualquer ajuda. Já que o casamento é uma mitzvá, preceito Divino, uma bênção é recitada antes de sua execução em agradecimento pela santificação de D’us à união.

A entrega da aliança pelo noivo e sua aceitação pela noiva constitui o ato central da santificação  do casamento. É um vínculo eterno que fica estabelecido. A partir do momento em que a aliança é colocada no dedo da noiva, o casal, de acordo com a Lei Judaica, é considerado  casado. A aliança simboliza o elo numa corrente, também um círculo sem fim representando o ciclo da vida. O ato de dar o anel também simboliza a transferência de poder e autoridade.

Assim o marido simbolicamente transfere à sua nova esposa a autoridade sobre seu lar e tudo que se encontra nele. A partir deste momento tudo em sua vida será repartido. O anel também simboliza a proteção que o marido dá a sua esposa; assim como o anel envolve o dedo, também  sua aura de proteção envolve a esposa. A aliança simboliza a confiança e lealdade que envolve  o casal pelo resto de sua vida.

O costume é que a aliança seja redonda, de ouro sólido, simples e perfeitamente lisa, sem pedras preciosas, desenho ou gravação, nem mesmo por dentro (após o casamento pode-se gravar o que quiser nela) para que represente um simples círculo inquebrável e ilimitado entre o casal.

A aliança deve ser colocada no dedo indicador da mão mais forte da noiva (canhota ou direita), sem interferência de luvas (caso estiver usando alguma), mas diretamente em seu dedo. Ao aceitar o anel, a noiva consente ao kidushin, consagração, significando a singularidade do casamento judaico, estabelecendo uma relação em um lar onde D’us, Ele mesmo, habita.

A ketubá logo em seguida é lida em voz alta para todos os presentes e são recitadas, Sheva  Brachot, Sete Bênçãos aos noivos.  O ato final da cerimônia é a quebra de um copo de vidro pelo chatan, lembrando a todos que mesmo na maior alegria pessoal devemos lembrar a destruição do Templo Sagrado de Jerusalém e continuar a almejar pela sua reconstrução.

  1. Shivá – A palavra “Shivá” significa “sete”, e se refere ao período de sete dias de luto contados a partir do dia do enterro. A tradição tem origem na Torá, quando José “chorou sete dias” pelo seu pai, Jacob (Gênesis 50:10). Durante uma semana, os enlutados ficam em casa,abstendo-se de quaisquer atividades profissionais ou de lazer. Parentes e amigos fazem visitas de condolências a casa dos enlutados, e três vezes por dia (de manhã, à tarde e à noite) realizam-se serviços religiosos.

A instituição da Shivá tem como finalidade dar a família folgas psicológicas e espirituais para  continuar depois da perda de um ente querido. O enlutado não está só; muito pelo contrário, ele  faz parte da “comunidade dos enlutados de Sion”. É esta consciência de grupo que lhe dá conforto, já que recebe o apoio e o consolo dos familiares e amigos durante estes dias e que lhe permite emergir fortalecido, preparado para enfrentar as vicissitudes da vida, e pronto para reassumir suas responsabilidades perante o seu povo . [1]

Os Doze Meses –   O período de 12 meses conclui integralmente o luto para quem perdeu os pais, assim como 30 dias concluem o luto por outros parentes. Deve-se notar que a contagem dos 12 meses não segue as regras usadas na contagem de shivá (7 dias) e shloshim (30 dias).

Veja as diferenças a seguir:

1 – Ao contar os 12 meses não seguimos o princípio de que uma porção do dia é igual a um dia completo e que, portanto, uma porção do mês é igual a um mês inteiro. Devemos contar os doze meses completos.

2 – A contagem dos 12 meses começa a partir do dia da morte, não como na contagem de shivá, a partir do dia do enterro. Assim, alguém que faleceu no primeiro dia do mês hebraico de Tevet é pranteado até o final do primeiro dia de Tevet do ano seguinte. Se a morte ocorreu no segundo dia, o luto inclui o segundo dia do ano seguinte, e assim por diante.

3 – A duração das observâncias do luto são de 12 meses. Assim, num ano bissexto, quando o Calendário Judaico acrescenta um mês inteiro, chamado Adar Sheni, somente 12 meses são observados, mas não o décimo terceiro que é acrescentado para tornar o ano bissexto. Isso se aplica a todas as observâncias do luto, exceto para o cadish, que é recitado somente até os 11 meses.

Relação das Leis e Costumes para um ano

1 – O corte de cabelo, tecnicamente proibido por 12 meses, é permitido quando ocorrer reprovação social, isto é, criticarem seu comprimento ou sua aparência, após o shloshim, como indicado acima.

2– Da mesma forma, usar roupas novas é permitido no caso de “reprovação social” após o shloshim, e após ter sido usada por um curto período de tempo por outras pessoas, embora tecnicamente seja um período de observância de 12 meses.

3 – O enlutado deve mudar seu assento usual na sinagoga na hora da prece. No Shabat ele pode sentar no lugar de costume.

4 – O enlutado deveria, em geral, prestar atenção a questões educativas, de caridade e religiosas pois estas, dizem os Sábios, são os tributos mais eloquentes aos ensinamentos do parente falecido. Assim, é costume que o enlutado estude uma porção de Torá antes ou após os serviços diários. Ele deveria também aprender a liderar todo, ou parte, dos serviços da congregação.

5 – Não deverá receber presentes se estiver de luto por seus pais, mas poderá recebê-los caso esteja de luto por outros parentes.

6 – Luto pela perda de um dos pais continua, até o final de doze meses. A obrigação dos filhos para com os pais é expandida por causa do mandamento na Tora: “Honra teu pai e tua mãe”, que aplica-se mesmo após o falecimento deles.

7 – Ele não pode comparecer a um evento onde haja música. Pode comparecer a um brit milá ou a um serviço pidyon haben, mas não à refeição de comemoração. Casamentos e outras festas, somente poderão participar ao término deste período, caso esteja de luto por seus pais.

8 – Após a recitação do cadish pelo período de 11 meses e o fim do período de luto de um ano, a memória do falecido deverá ser santificada com prece, tehilim e recitação do Cadish durante todos os anos de seu Yahrtzeit, (data do aniversário de seu falecimento) bem como acendendo-se uma chama dedicada à sua memória.

9 – O estudo da Torá e a realização de obras beneficentes em nome da pessoa falecida enaltecem sua neshamá, (alma judia) e é o maior tributo que se pode prestar à sua memória e à ascensão de sua alma aos vários estágios que atinge nos céus a cada ano, após seu falecimento. [2]

Fonte: [1] FIERJ: http://www.fierj.org.br/judaismo.pdf

[2] Por Maurice Lamm, Chabad: http://www.chabad.org.br/ciclodavida/Falecimento_luto/luto/ano1.html

 

Coordenador: Saul Stuart Gefter



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