Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

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  1. Ama Teu Próximo – Nós Somos Um

Ama teu próximo como a ti mesmo”– Vayicrá (Levítico)
Este é um princípio importante da Torá” – Rabi Akiva
Uma alma entra neste mundo por setenta ou oitenta anos apenas para fazer um favor a outra” – O Baal Shem Tov (fundador do Hassidismo)

Talvez nada tenha sido tão negativo para o povo judeu como a ideia moderna de que o Judaísmo é uma religião. Não somos uma religião. Somos uma única alma irradiando em muitos corpos, unindo-os como um só.

Um corpo sadio é aquele no qual todas as partes trabalham em harmonia. Um povo judeu saudável é uma família grande, carinhosa, na qual cada indivíduo ama o outro como a si mesmo. Onde um judeu enfrenta tempos difíceis e os outros seguram sua mão. Onde um encontra boa sorte e todos nós celebramos. Onde ninguém é rotulado ou alienado por suas crenças, comportamento ou origem. Onde cada qual corre para fazer um ato de bondade para outro e fecha os olhos e ouvidos à vergonha do outro.

Siga a regra de ouro de Hillel: “Aquilo que você não quer que façam a você, não o faça aos outros.” O amor por aqueles mais próximos do lar alimenta o amor pela família inteira da humanidade, e a partir dali, o amor por todas as criaturas de D’us. Porém se o amor não começa em casa, então de onde virá?

Falando de maneira prática…

1) Comece toda manhã dizendo: “Aceito sobre mim a mitsvá de amar meu próximo judeu como a mim mesmo.”

2) Siga a regra de ouro de Hillel: “Se você não quer que algo seja feito a você, não o faça ao outro.”

3) Fale somente o bem sobre o próximo judeu. Não dê ouvidos a uma má palavra, a menos que algum real benefício venha através da sua conversa.

4) Cuide da propriedade do seu próximo como se cuidasse da sua própria.

5) Sempre corra atrás de oportunidades de fazer um favor a seu próximo.

6) Aproxime os judeus uns dos outros. Rompa as falsas barreiras da idade, afiliação e etnia.

7) Convide outros judeus a compartilhar o que você tem de mais precioso, nossa Torá e mitsvot. [1]

  1. Perspectiva judaica sobre o amor – O amor é um valor central para a ética e a teologia judaica. O judaísmo apresenta uma variedade de pontos de vista sobre o amor a Deus, entre os seres humanos e para com os animais.

Fundamentos – O amor tem sua obrigatoriedade definida no Levítico, 19:18 – “Tu não deves tomar vingança, nem conservar ira aos filhos de teu povo – mas deves amar ao seu vizinho (como alguém) a si próprio. Eu sou YHWH!” – Maimônides diz ser este um mitzvá… pois, como está escrito, “amar seu próximo (como alguém) a si mesmo” impõe a necessidade de cantar seus louvores, e mostrar preocupação com seu bem-estar financeiro, como faria para o seu próprio bem-estar e como faria para sua própria honra – e qualquer um que se aproveita do seu próximo para se elevar não tem participação na vida futura; em contraposição, Nachmânides pondera que, embora seja um mitzvá, a condição de amar ao próximo como a si mesmo é demais para qualquer ser humano, e já o rabino Akiva ensinava que “sua vida vem antes da vida de seu amigo”; ele remete ao preceito de amar ao estrangeiro como a si mesmo, também previsto no Levítico (19:33-34), relativizando o ensinamento, para desejar ao próximo todo o bem, sucesso e sabedoria.

No Shabat 31-A do Talmude Babilônico é narrada uma história onde um gentio procura Hilel, e lança-lhe o seguinte desafio: resumir toda a Torá durante o tempo em que conseguisse ficar em pé sobre um só pé; o sábio o repeliu, mas em seguida respondeu-lhe: “O que for odioso para ti, não faça ao teu próximo, esta é toda a Torá; o resto é comentário. Vá e estude-a!”

Para a gemátria o amor é essencial; a palavra ahavá (amor em hebraico) tem valor numérico 13, que equivale à metade do valor atribuído ao nome divino (26), de onde o rabino Haim Vital concluiu que a combinação do amor de duas pessoas (13 + 13) aumenta a presença divina entre elas – sejam elas cônjuges, amigos, pais, etc.

Palavras hebraicas para o amor – Havendo tantas formas diferentes de manifestação do amor, existem na língua hebraica diferentes palavras que definem o amor. Os tipos tradicionais consagrados na tradição judaica incluem o amor familiar, de aliança, de compaixão, amizade, romântico e entre vizinhos. Vários estudiosos judeus têm abordado o amor nas diversas facetas da vida, tais como atos de doação, na guerra e na paz, ao meio ambiente, na prática do Kosher, o perdão, etc. Em todas essas abordagens, a justiça é um termo que frequentemente vem relacionado ao amor.

A palavra hebraica básica para o “amor”, ahavah (אהבה), assim como no português, é usado para descrever sentimentos entre pessoas ou relacionamentos íntimos ou românticos, como o amor entre pais e filhos em Gênesis 22: 2; 25: 28; 37: 3; o amor entre amigos íntimos em I Samuel 18: 2, 20:17; ou o amor entre um jovem e jovem no Cântico dos Cânticos.

Outra palavra usada frequentemente para o amor, chesed (חסד), é freqüentemente traduzido como “benevolência” ou “amor inabalável”. Inclui aspectos de carinho e compaixão. O professor Daniel Judah Elazar sugeriu que chesed não pode ser facilmente traduzido, pois significa algo como “amar pela obrigação da aliança”, um tipo de amor que vai além da preocupação com as convenções, as leis.

Outras palavras em hebraico às vezes traduzido como “amor” incluem Re’ut (o amor por um amigo ou companheiro).

Amor entre os seres humanos – Um dos mandamentos fundamentais do judaísmo é “ame o seu próximo como a ti mesmo” (Levítico 19:18), às vezes chamado O Grande Mandamento. Este mandamento está no centro do livro central na Torá. Os sábios talmúdicos Hilel e Rabi Akiva indicaram que este é o mandamento central da Torá. O mandamento encoraja as pessoas a tratarem uns aos outros como iguais, o que requer primeiro valorizem a si mesmos, a fim de serem capazes de espelhar esse amor para os outros.

Da mesma forma, um outro mandamento significativo é o de “não cruzar os braços ao teu próximo” (Levítico 19:16), que pode ser exibido em muitas formas. Algumas fontes judaicas têm enfatizado a importância do auto-sacrifício no que diz respeito a colocar as nossas necessidades em segundo plano, embora a lição de Rabi Akiva diga que “Sua própria vida tem precedência sobre a do outro”, o que contradiz seu próprio enunciado de amar o teu próximo como a si mesmo.

Amor aos animais no judaísmo – Algumas fontes do judaísmo também destacam a importância do amor e da compaixão para com os animais não-humanos. Nesta linha, por exemplo, o filósofo judeu Lenn Goodman fala de como as leis relativas ao sofrimento dos animais idealmente “criam uma sensibilidade de amor e bondade”. Hava Tirosh-Samuelson, historiador judeu, acreditava que o cerne do judaísmo era a um modelo de aliança entre o povo judeu, D-us e a terra de Israel, o que explica a “obrigação de reponder pelas necessidades do outro”; ele pensou sobre os possíveis significados deste modelo, expandindo-o para incluir a Terra como um todo, ressaltando a importância de tratar todos os seres vivos com respeito.

Amor a D-us – O amor a D-us significa pautar a vida segundo os Seus mandamentos e está condicionado pelo amor à Torá. De fato, o amor a D-us é a entrega voluntária da vida e de tudo que se tem em Sua honra; é o serviço altruístico a D-us – segundo várias passagens do livro sagrado; é um amor inigualável, que enfrenta sofrimento e martírio, estabelecendo a relação única entre D-us e Israel, de modo que “nenhuma das nações pode extinguir esse amor” – de tal forma que se reflete também na liturgia. Para ser um verdadeiro “amante a D-us”, contudo, a pessoa precisa “receber a ofensa e não se ressentir; ouvir palavras de injúria e não revidar, de agir apenas movido pelo amor e se regozijar como prova de puro amor”.

Bahya Ibn Pakuda diz que o amor a D-us é muito mais acentuado quando praticado através da ação. [2]

III. Amor ao Próximo – As leis da Torá foram dadas para refinar o ser humano. Se D’us tivesse nos dado leis fáceis de cumprir, não teria nenhuma graça, nem mereceríamos nenhuma recompensa. De fato, a mitsvá de amar o próximo como a si mesmo é muito difícil. Como a Torá pode exigir isto?

Quando me doi o dedinho do pé, sinto isso muito mais do que ler no jornal que um terremoto acabou com a vida de milhares de pessoas! Portanto, no caso desta mitsvá, a palavra chave é “como” – deve se amar o próximo da mesma maneira como se ama a si; i.e., assim como uma pessoa não enxerga normalmente seus próprios erros, e quando já os percebe, vai justificando suas falhas, é desta maneira que devemos agir com o próximo; procurar justificar seus atos e atitudes que nos incomodam e irritam. Esta é a maneira mais elevada de cumprir esta mitsvá.

Como foi dito acima, esta é uma mitsvá difícil e pode se perceber isso pelo dito do Sábio Hilel que disse ao homem que queria conhecer toda a Torá num pé só: “Não faça ao próximo aquilo que não quer que os outros lhe façam.” (Esta é a mitsvá de amor ao próximo, expressa de maneira negativa ou proibitiva.)

Depois Hilel ainda acrescentou: “Esta é toda a Torá (i.e.: ‘Você acabou de estudar a Torá inteira num pé só; e se quer conhecer os detalhes, agora vá estudar’).” Faz-se a pergunta, como Hilel comparou a mitsvá de amor ao próximo à “toda a Torá”? À primeira vista, é apenas metade da Torá, pois a Torá é composta de leis entre a pessoa e D’us e outras leis entre a pessoa e seu semelhante. Enquanto o amor ao próximo pode englobar as leis entre a pessoa e seu semelhante, como pode também incluir as leis entre a pessoa e D’us?

A resposta para esta pergunta é a seguinte: Como mencionado acima, é impossível ter um amor ao próximo igual a si mesmo. Para chegar a isto, para alcançar este nível de sentir pelo próximo e pensar nele igual ao que se sente e pensa sobre si, a pessoa tem que elevar-se de seu nível físico.

Normalmente eu sou eu e ele é ele; como pode ele ser como eu? Somente quando considero o outro um verdadeiro irmão ou parente próximo, posso chegar a pensar e sentir por ele como por mim, pois irmãos são unidos por laços além do físico apenas. É uma ligação inata, natural e inexplicável somente de maneira racional. Quando uma pessoa pode considerar o próximo como um verdadeiro irmão, realmente conseguirá cumprir esta mitsvá.

Mas como é possível considerar seu semelhante, um estranho, come se fosse um irmão? Somente quando a pessoa se eleva além do plano físico e material e considera o próximo um irmão de alma, pois pelas almas somos todos irmãos; somos almas de um só Pai (trata-se da alma Divina). Quem chegou neste nível – de considerar o próximo um verdadeiro irmão – está dando prioridade à alma sobre o corpo, pois de outro jeito nunca sentirá que o próximo é um verdadeiro irmão.

Quando a pessoa chegou neste nível de dar prioridade à alma, isto é verdadeiramente “toda a Torá”, como disse Hilel. Somente com esta explicação chassídica da mitsvá de amar o próximo, é possível entender o que Hilel disse. Sem esta interpretação, continuamos com a dúvida original.

Realmente, o mundo está repleto de competição, cada um querendo mostrar que possui mais ou que consegue mais ou que é maior e melhor em termos sociais, financeiros, etc. E é difícil (porém não impossível) viver uma vida correta no meio de tudo isso. Porém nossos Sábios explicaram por que D’us fez as coisas desta maneira. Se não fosse pelo instinto (yêtser hará) de querer superar o próximo, ter mais do que o próximo, ser o maior, etc., o mundo não teria ido para a frente. O que impulsiona o desenvolvimento é justamente esta corrida onde cada um quer buscar e atingir mais. E D’us quer um mundo habitável e não um deserto. Por isso Ele criou o ser humano com esta natureza.

Nossos antigos Sábios queriam abolir o “yêtser hará”. Assim sendo se reuniram, rezaram a D’us e pediram e com seu poder espiritual e sobrenatural finalmente conseguiram afastar o instinto mal do homem. No dia seguinte ninguém sentiu nenhuma vontade, paixão, inveja, etc. Parecia um mundo perfeito. Mas por outro lado, ninguém estava com vontade de trabalhar, construir, realizar projetos, etc.; até a galinha não quis botar mais ovos.

Então os Sábios entenderam que esta não é a maneira certa de fazer as coisas e que realmente D’us tinha razão em fazer o ser humano ter todas as características humanas, inclusive as de cobiçar as coisas do próximo. Isto (o fato que D’us deu ao ser humano uma natureza com instintos baixos) é em termos gerais. Mas cada um em particular deve se esforçar para viver sua vida dentro dos parâmetros da Torá e direcionar estes instintos naturais para o bem do próximo. Existe muita gente boa nesta multidão que se dedica ao bem estar do próximo, se ocupa com os pobres, os abandonados, os miseráveis, etc.

Nossos Sábios nos aconselharam a olhar para cima, para quem tem mais em termos espirituais e tentar imitá-lo; e olhar para baixo para quem tem menos em termos materiais e ficar feliz e satisfeito com o nosso quinhão. Sempre tem aquele que encontra tempo para estudar, participar de uma aula de Torá, ligar para a mãe mais freqüentemente, fazer um favor mesmo não tendo sido solicitado, e assim por diante.

Devemos tomar isso como um exemplo e tentar imitar tal comportamento. Isto significa usar a competição de maneira positiva. Por outro lado em vez de querer mais para si, vejamos quantas pessoas têm muito menos do que nós. A felicidade não depende da quantidade de dinheiro ou tempo que a pessoa tem e sim da maneira como os aplica para uma boa causa. [3]

Fontes: [1] Chabad: http://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1127624/jewish/Ama-Teu-Prximo.htm

[2] Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Perspectiva_judaica_sobre_o_amor

[3] http://ajudaica.blogspot.com.br/2009/08/amor-ao-proximo.html

Coordenador: Saul Stuart Gefter



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