Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

Tempo de leitura: 15 Minutos
 

“Ivdu et Adonai b’simchá” (“Sirvamos a D`us com alegria”)

 

I. Introdução – O que pensa o Judaismo sobre Satan e os demônios?  Em textos anteriores afirmamos que o Judaísmo não acredita, na sua essência, em anjos (como seres humanoides que fazem coisas milagrosas), mas o Judaísmo afirma que os malachim (termo hebraico que é traduzido como anjos) são as forças ativas que ocorrem no Universo, como por exemplo a lei da gravidade. Entendido isso, falta agora explicar e provar que demônios também não fazem parte do pensamento judaico e que quando são citados é de forma alegórica para o entendimento dos que não estão familiarizados com a sabedoria da Torá (Bíblia judaica). Mas antes precisamos entender o sentido da palavra Satan, que literalmente significa inibidor/ evitador/ impossibilitador. Inibir quer dizer “tentar impedir alguém de realizar algo”.

 

Disso aprendemos que foi D-us quem criou as diversas dificuldades, obstáculos da vida, os quais temos que enfrentar neste mundo, exatamente para nos conduzir à auto superação e nos levar ao progresso. Satán é o responsável por tornar as coisas difíceis, por desafiar e assim colaborar para que tenhamos a chance de vencer a nós mesmos; para passarmos no teste da vida. A “tentação” existe dentro de nós, por intermédio dos dois instintos que D-us mesmo criou no homem, tanto o que o inclina ao bem como o que inclina ao mal. O mais importante é que somente esta habilidade de escolha absoluta torna possível que façamos o bem e o mal, com total e absoluta decisão pessoal.

Temos a plena capacidade de recusar fazer o mal. Esta é a noção exata de que temos o direito de escolher tanto o bem como o mal. Portanto, para nos induzir a escolher o bem é que HaShem nos oferece o bem através do ciclo da bondade (se praticamos atos bondosos iremos obter bondade, se praticamos atos de maldade iremos ter a maldade). E para que mereçamos isso, é preciso que algo nos iniba, algo que tente nos impedir e que tenhamos que superar.

Satán, portanto, é nossa inclinação ao mal (Ietzer hará). É a inclinação ao mal tentando nos impedir de fazer o bem, pois HaShem tem ordenado a ele fazer exatamente isso. Porque? Para nos garantir livre arbítrio. Para que nossa escolha pelo bem seja sempre voluntária e consciente.

Cada um de nós, todos os dias luta contra o seu mau instinto. Todos temos várias tentações que se manifestam durante o dia nas mais diversas formas, como por exemplo enganar nos negócios, mentir com a intenção de prejudicar um terceiro…ou simplesmente dormir um pouco mais ao invés de levantar no horário combinado.

Todas as ações que nos levam a fazer o contrário do que é bom e correto chamamos no judaísmo de Ietzer hará ou como é mais conhecido Satan. Assim, se conseguimos entender que Satan é uma ação negativa dentro de nós que nos impede…nos inibe a fazer a coisa certa, compreendemos então que não existe nenhum anjo que se rebelou contra D-us (o que é inaceitável para o Judaísmo).

Vamos imaginar a seguinte situação: Se um anjo se rebelou contra D-us, ele provavelmente teria um instinto dentro de si que seria muito maior que ele, um satan do satan! Mas está muito claro que só seres humanos têm os dois instintos citados (Ietzer hará, inclinação para fazer o mal, e Ietzer tov, inclinação para fazer o bem), só seres humanos têm o mal instinto para tentá-los. Mas “anjos” não têm agentes que possam tentá-los…

Afinal, quem seria o Satán do próprio Satán? Um ultra…mega…master Satán???   Caros leitores, seres humanos podem melhorar a si mesmos, e este é seu propósito no mundo. Os “anjos” não podem melhorar nem progredir, assim como os animais não progridem moralmente. Essa é a lógica da criação.  A essência do Ietzer hará é o “fervor do sangue”. E a arma do Ietzer hará é a imaginação, o devaneio. Mas o Ietzer hará por si mesmo não é mau, assim como a imaginação ou o devaneio não é mal por si mesmo. O que ocorre é que a pessoa que caracteriza as forças dentro de si, tornando-as boas ou más.

Outro conceito importante é que somente o ser humano pode ser mau. Portanto, o Ietzer hará é a natureza humana voltada – pela própria pessoa – para o mal. Talvez agora ficará claro para o leitor entender as seguintes passagens das Escrituras Hebraicas, em que diz que o Altíssimo colocou no mundo tanto o bem como o mal, como está escrito em Devarim (Deuteronômio) 30:15. “Vê que pus diante de ti hoje a vida e o bem, a morte; e o mal.”

E em Ieshaiáhu (Isaías) 45:7, o profeta descreve o plano da criação de D-us expressando assim: “Eu formo a luz e crio a escuridão; Eu faço a paz e Sou Eu quem cria o mal; EU SOU o ETERNO que tudo faz.”

Agora sim está claro o texto, pois se D-us criou essas forças dentro de nós que lutam entre si para que nós possamos fazer as devidas escolhas, está evidente que se praticamos o mal, estamos criando o mal, e como somos criaturas de D-us, o profeta judeu está afirmando que D-us criou o mal. Mas se escolhemos de forma correta as nossas ações e elas são boas para nós e aos que vivem a nossa volta teremos o bem, e isso o profeta judeu também atribui a D-us…pois D-us criou o bem e o mal dentro de nós…de cada ser humano.

Se a pessoa analisar as escrituras hebraicas de forma mais criteriosa verá que não existe nenhuma ideia que justifique a crença em seres demoníacos. Por isso iremos analisar outro texto em Melahim 1 (I Reis) 11:23 ao 25: “D-us levantou contra Salomão ainda outro adversário (a palavra usada originalmente em hebraico é “Satán’), Rezom, filho de Eliadá, que tinha fugido de seu senhor Hadadézer, rei de Zobá. Pois ele ajuntara a si homens, e se fizera capitão de uma tropa, quando Davi matou os de Zebá; e, indo-se para Damasco, habitaram ali; e fizeram-no rei em Damasco. E foi adversário (a palavra satán é usada novamente aqui) de Israel por todos os dias de Salomão, e isto além do mal que Hadade fazia; detestava a Israel, e reinava sobre a Síria.”

E temos ainda em Divrei HaIamim 1(I Crônicas) 21:1 – “Então Satán (inibidor/opositor) se levantou contra Israel e incitou David a recensear o povo de Israel”.

Como já sabemos que a palavra satan é uma referência aos nossos instintos mais difíceis de controlar, fica claro no verso acima que o Rei Davi fez algo que não deveria fazer naquele momento e o seu instinto falou mais alto que a sua racionalidade. Se entendermos que satan não existe como ser humanoide que tem vontade própria e sai por ai fazendo maldades e induzindo as pessoas ao pecado, ficará mais fácil para entender que demônios também não existem no conceito judaico e que toda maldade existente no mundo é em decorrência das ações que cada um de nós escolhemos para seguir.

Ninguém nasce mal…mas se torna mal ao longo de sua vida por uma opção pessoal, eis a grande mensagem da Torá para as pessoas que buscam se aprimorar. Reflitam, caros amigos, que a melhor opção para a humanidade é a pratica do bem e não por interesses pessoais, mas porque é o melhor para a coletividade humana. Se nossas ações são pautadas na justiça e bondade para com o próximo iremos fazer desse mundo o nosso verdadeiro Paraíso. Desejo a todos uma ótima semana…Shalom! [1]

 

  1. Demônios na crença judaica – De fato, nem os cristãos compreendem como é que um anjo de D’us tentou e seduziu outros a desobedecer ao próprio D’us. E esta idéia é completamente contrária a tudo o que o Judaísmo ensina! Nós estudiosos das Escrituras Hebraicas, rejeitamos esta teoria de forma plena. O que é que, então, o Judaísmo explica com relação ao Satán? Para começar, a palavra hebraica שטן “Satán” significa literalmente “Inibidor/ Evitador/ Impossibilitador”. Inibir quer dizer, tentar impedir alguém de realizar algo. Disso aprendemos que D’us foi quem criou as diversas dificuldades, obstáculos da vida; os quais temos que enfrentar neste mundo, exatamente para nos conduzir a auto-superação, e para nos levar ao progresso. Satán é o responsável por tornar as coisas difíceis, por desafiar e assim colaborar para que tenhamos a chance de vencer a nós mesmos; para passarmos no teste. Satán é um Maláh (por hora, entenderemos como Anjo) cujo propósito é especificado por D’us.

    A “tentação” existe dentro nós, por intermédio dos dois instintos que D’us mesmo criou no homem, tanto o inclinando ao bem como ao mal. O mais importante, é que somente esta habilidade de escolha absoluta torna possível que façamos o bem e o mal, com total e absoluta decisão pessoal. Temos a plena capacidade de recusar fazer o mal. Esta é a noção exata de que temos o direito que escolher tanto o bem como o mal. A habilidade de escolher entre o bem e o mal é o que nos garante a noção de livre arbítrio.

  2. Portanto, para nos induzir a escolher o bem é que HaShem nos oferece o bem no mundo vindouro, e para que mereçamos isso, é preciso que algo nos iniba, algo que tente nos impedir e que tenhamos que superar. Satán, portanto é nossa inclinação ao mal (Ietzer Hará). E a inclinação ao mal tenta nos impedir de fazer o bem, pois HaShem tem ordenado a ela fazer exatamente isso. Porquê? Para nos garantir livre arbítrio. Para que nossa escolha pelo bem seja sempre voluntária. Cada um de nós, todos os dias luta contra seu mau instinto.

Todos temos várias tentações que se manifestam durante o dia. A habilidade de escolha entre o bem e o mal nos garante a liberdade. E assim como no exemplo de Iáacov (Jacó), temos a capacidade de vencer até mesmo os Malahím (entendamos como anjos por enquanto) se assim nos prepararmos. Porquê? Porque temos livre arbítrio. Portanto, o Talmud nos ensina que os homens são, neste sentido, mais importantes que os anjos, pois nós podemos lutar com qualquer anjo e até vencê-lo. Um anjo não pode mudar a nossa vontade.

O Satán não é – como pensam os cristãos – um anjo rebelde. Tal coisa é simplesmente impossível. Os anjos são seres de matéria elevada e sagrada porque foram criados desta forma, assim como os animais são animais porque foram criados desta maneira; os anjos estão constantemente contemplando a irradiação de HaShem por toda parte. Agora, acaso uma pessoa poderia estar no mar sem se molhar?

Do mesmo modo um anjo não pode evitar a Divina Presença e por isso, não consegue deixar de ser sagrado. A santidade de toda criação, de todo o universo é contemplada de foram elevada pelos seres que são neste sentido, elevados; e por isso eles não podem parar de servir ao ETERNO, nem podem escolher não fazê-lo. Eles não possuem o livre arbítrio. Não podem contemplar outra coisa senão o ETERNO diante de si. Além disso, seres humanos tem o mal instinto para tentá-los. Mas “anjos” não tem agentes que possam tentá-los… Afinal, quem seria o Satán do próprio Satán? Um ultra Satán?

A verdade é que o Satán tem uma missão a cumprir como todo e qualquer “anjo”. E “anjos” não possuem livre arbítrio para escolher suas missões. Eles são apenas reflexos da vontade de D’us, no sistema em que foram criados para propósitos específicos.

Um homem certa vez, veio até um grande rabino, muito preocupado. Ele disse ao rabino: “Por favor, faça uma oração à Hashem para que remova minha má inclinação. Eu cometo muitos pecados e eu desejo parar!” O rabino respondeu: “Mas então, qual será o seu propósito no mundo quando você não mais tiver má inclinação? Se o seu propósito é viver para vencer sua má natureza?! Foi para isso que você foi criado! HaShem já tem  bastantes anjos nos céus! Ele não precisa de mais. Ele te criou humano, para que você progrida na senda da justiça”.

Seres humanos podem melhorar a si mesmos, e este é seu propósito no mundo. Os “anjos”, não podem melhorar nem progredir, assim como os animais não progridem moralmente. Este não é, sequer, o propósito da sua existência. Por isso, anjos são descritos como seres constantemente, “em pé diante de HaShem”. Eles não podem fazer melhor que isso, não podem se elevar nem se diminuir.

Eles então são descritos como estáticos: Seres sem personalidade. É sobre isso que Ieheskél (Ezequiel) estava falando quando disse: E no meio da chama algo que se assemelhava a quatro [tipos de] animais do campo; e sua aparência parecia com a de seres humanos, … mas cada um tinha quatro rostos, e quatro asas,….

…seus pés eram retos e suas plantas eram como as das patas de um bezerro, e brilhavam como a cor do cobre polido. … Sob suas asas tinhas mãos humanas nos quatro lados, … e elas estavam unidas entre si. Quanto aos rostos, estes não se viravam quando os seres caminhavam, voltados sempre para frente. … Tinham a aparência do rosto de um homem, e os quatro tinham a aparência de um leão do lado direito, de um touro do lado esquerdo, mas tinham também a cara de uma águia.

Estes seres com aparência humana e animal descreve a missão destes anjos entre os homens, exatamente como a missão dos animais; servir aos propósitos do ser racional, o ser humano. O profeta Ieshaiáhu (Isaías); quando descrevendo suas visões celestiais, disse que “Acima [para atendê-los], se postavam Sefarins…” (Ieshaiah 6:2). Ora os Serafins são os “anjos” elevados e considerados superiores.

E eles são descritos como parados em pé, no nível que HaShem lhes determinou. Seres humanos são completamente diferentes. Humanos podem melhorar-se e elevar-se. E por isso o profeta Zehariáh disse ao Sumo Sacerdote, “Assim disse o ETERNO dos Exércitos: Se andares no Meu Caminho e cumprires Meus Mandamentos, praticares justiça em Minha casa e Guardares os Meus pátios, darei a ti livre acesso entre os [“anjos”] que estão à nossa volta”. (Zehariah 3:7).

Em outras palavras, Hashem estava dizendo que prometia ao Sacerdote a existência no mundo vindouro, em meio aos justos que lá estavam e que neste próximo mundo, eles caminharão entre os que estão à nossa volta [parados], ou seja, “anjos”. E do mesmo modo que anjos são seres perpetuamente estacionados, nós somos os que nos movemos rumo a um estágio mais elevado. E nosso propósito é especialmente, mover-nos rumo ao progresso moral e espiritual.

Como nós poderemos fazer isso? Sendo constantemente teimosos em procurar vencer nossa má inclinação. Em observar os Mandamentos de D’us. Portanto é preciso revisar os conceitos de muitos sobre o que as Escrituras Ensinam sobre o Satán. Satán não é, e nem poderia ser um anjo caído. Satan é apenas um anjo com um trabalho que para nós é desafiador. Satán não tem um reino paralelo. Satán não está competindo com D’us nem está atrapalhando a criação.

Ele sequer se satisfaz quando a pessoa se deixa vencer pela má inclinação. Ele sequer decide suas próprias missões. Satán é um anjo que nos impõe desafios, ao mando de D’us; um anjo que não permite que enganemos a nós mesmos com falsa modéstia ou hipocrisia moral; um anjo que traz a punição divina ao homem; que executa a correção do Criador. Satán não tem aparência maquiavélica, nem chifres, nem pele vermelha, nem rabo, nem mora em chamas, nem mesmo se veste de terno e gravata!

Satán é uma força, impessoal, enviada para nos desafiar, uma prova, uma avaliação que temos que superar para provar nosso valor, nossa real escolha. Satán pode ser percebido por meio de um desejo impróprio dentro de você. Claro, não existem coisas criadas justamente para nos fazer errar. Nós é que escolhemos errar. A possibilidade do erro faz-nos sentir a necessidade de melhora e nos induz ao progresso para o qual fomos criados.

Mas tudo depende das escolhas que fazemos. O Satan executa sua missão de se opor a nós, por meio das coisas que nós mesmos valorizamos no mundo. Então, se uma pessoa vem ao seu encontro e lhe oferece um objeto roubado por um preço insignificante, por exemplo; esta pessoa não é o Satán e nem está sendo “usada” pelo Satan. Esta pessoa é uma que não resistiu a sua própria má inclinação, e não resistindo à oposição do Satán, e por fim decidiu fazer o mal.

Não foi obrigada a isso, mas foi desafiada nas suas convicções morais e testada em sua fé na justiça e no bem. Se esta pessoa falhou e não passou na prova, esta pessoa que cometeu o pecado, quer cometer outro; como dizem os sábios, a recompensa de um pecado é outro pecado, e agora seria a sua vez de escolher.

Como pecou, esta pessoa estará melhor internamente se convencer a si mesma, de que o pecado é algo normal que todos fazem. Se você tratar esta situação como normal, é reflexo da sua decisão, e a forma como tal erro se apresenta em sua mente, e conseqüentemente o resultado da sua escolha também. Todo ser humano deve tentar vencer o mal que há em si.

E muita gente tenta fazer prevalecer sua idéia para aliviar a si mesma da culpa. Ninguém quer pecar sozinho. E pode até ser que a pessoa queira cometer um crime com sua ajuda! Ou talvez a pessoa tenha a satisfação de ver que não está só no erro, ou de ver você contradizer suas convicções; o que seria uma pessoa muito perturbada; porém muito freqüente em nossa sociedade. A pessoa pode ter mil motivações ao pecado.

Do mesmo modo, a figura da serpente no Éden, não se referia ao Satán; a quem os cristãos gostam de atribuir. Cobras não são diabos! São apenas cobras, répteis e nada mais. É apenas uma figuração da própria tentação humana, desenvolvida na mente do primeiro homem e da primeira mulher, motivada pela curiosidade e devaneios de ambos.

E como uma pessoa deve evitar sucumbir quando for testada pelo Satán enviado sob ordem de D’us?

  • Vivendo uma vida de Torá, uma vida de acordo com a Lei Eterna. Isso envolve uma séria de fatores que trabalham juntos. Posso até mencionar alguns:
  • Estudar a Torá diariamente, melhorando tanto quantitativamente quanto qualitativamente seus estudos, sua busca por conhecimentos.
  • Ser humilde e aceitar instrução dos sábios que receberam e preservam a Sagrada Tradição até hoje. Procurar desenvolver suas qualificações morais.
  • Exercitar a introspecção, e o auto desenvolvimento na observância dos Mandamentos.

 

É impossível classificar tais conselhos por ordem de importância, e isso dependerá do nível moral e urgência de cada pessoa. Nenhum de nós é capaz de destruir o Satán. O que nós devemos fazer é usar a oportunidade do desafio para vencer a nós mesmos, procurando compreender onde o Satan foi enviado a servir-nos de opositor, sabendo então que é exatamente nesta determinada qualidade que devemos agora nos superar.

O Talmud nos instrui que a nossa Inclinação ao Mal constantemente tenta nos destruir espiritualmente, e HaShem constamente nos ajuda a vencer nossas fraquezas, pelo simples fato de lutarmos pelo bem. Quando este mundo terminar, no mundo vindouro, o julgamento da história acontecerá.

Após isso, a função do Satan estará cumprida neste mundo. Ele não mais precisará guiar as pessoas rumo ao progresso por intermédio das dificuldades que impõe, pois atingiremos o nível desejado por HaShem para este mundo. Uma vez terminado o julgamento, não precisaremos mais da expiação da morte, e conseqüentemente o Satán não mais será o agente da morte biológica, nem um opositor frente à escolha humana. Satán terá então a sua existência anulada, pois atingirá o propósito para o qual foi criado.

E isso não será uma injustiça com o Satan. Será como desligar uma máquina por não mais precisar usá-la. Acaso alguém choraria por desligar sua TV por não querer mais assisti-la? Do mesmo modo que máquinas, “anjos” não são seres conscientes, como nós humanos somos; não possuem nem emoções nem desejos. Eles apenas existem para seguir as instruções de HaShem e é exatamente isso que fazem.

Nisso, eles se assemelham aos animais e por isso nas visões, são comparados como tais. Portanto, Satan foi criado para nos desafiar e nós podemos escolher vencer todos os desafios e conseqüentemente, vencer a nós mesmos, ou não. Mas, não foi sem propósito que todo ser foi criado. Sejam os animais ou os anjos! Quando nós lutamos contra nós mesmos, controlando-nos e aprendendo a superação, nós somos recompensados e juntamente conosco o Satan que cumpriu sua missão. A recompensa do Satan é a própria continuidade da sua existência! Que por fim atingirá seu ápice e será anulada quando não for mais necessária. [2]

Fontes: [1] Coisas Judaicas: Por Jorge Magalhães: http://www.coisasjudaicas.com/2014/06/o-que-pensa-o-judaismo-sobre-satan-e-os.html

[2] Coisas Judaicas: Por Hai Mendel, economista, da comunidade judaica de São Paulo: http://www.coisasjudaicas.com/2011/03/demonios-na-crenca-judaica.html

Coordenador: Saul Stuart Gefter



Uma resposta

  1. Perfeita análise! O Mundo ocidental efetivamente foi vítima da famosa brincadeira do “telefone sem fio”. O que ocorreu no oriente com o nosso Povo (Am Yisrael), foi deturpado para as demais partes do Mundo, exatamente com o propósito de confundir a verdadeira noção do que seja a nossa Yetser Hará e o seu propósito e, concomitantemente, conceder às pessoas a falsa percepção da irresponsabilidade de suas ações. Efetivamente precisamos vencer a nossa má-inclinação e nos apresentarmos aprovados diante do nosso Elohim.

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