Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

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  1. Homossexualidade no Judaísmo – O assunto da homossexualidade é mencionado no livro Levítico, que define a atividade sexual entre dois homens como abominação, que pode ter como conseqüência a pena da morte, porém hoje em dia, não há permissão de exercer a pena da morte no judaísmo. O judaísmo ortodoxo reconhece a atração entre dois homens e reconhece a existência da homossexualidade, mas não permite o ato sexual e pede para controlar o desejo.

O lesbianismo não é mencionado na Torá, mas também não é aceito pelo judaísmo ortodoxo, pois a Torá oral o proíbe.

Mesmo não sendo aceita no judaísmo, a homossexualidade sempre foi um fenômeno comum na sociedade judaica. Israel de Haan, um importante político ultra-ortodoxo holandês é muito respeitado pela comunidade orotodoxa judaica, mesmo tendo sido homossexual assumido. Não há dados oficiais sobre a homossexualidade em escolas ortodoxas, as Yeshivás, (onde o publico é exclusivamente masculino). Pessoas diretamente ligadas a essas entidades relatam raros casos, que eram no passado ignorados. Atualmente esses casos são encaminhados a pessoas especializadas para aconselhamento.

Na sociedade judaica laicista, que faz a maior parte da população judaica do mundo e de Israel a homossexualidade é bem aceita, em geral, e homossexuais assumidos fazem uma parte integral na sociedade.

O judaísmo reformista permite a homossexualidade e atua casamentos homossexuais. [1]

  1. Lideranças religiosas judaicas ainda não se manifestam abertamente sobre o tema da homossexualidade – Pesquisadoras do Rio de Janeiro não conseguem aceitação expressiva de representantes para discutir a questão. Nos últimos anos, a questão da homossexualidade e da luta de grupos LGBT para ter seus direitos sociais e civis reconhecidos tem ganhado os holofotes da mídia e das discussões corriqueiras do dia-a-dia.

Ainda que, atualmente, a religião não tenha mais a força que já teve, ainda é um aspecto importante da contemporaneidade, e, portanto, não poderia ficar fora desta discussão.

O que as pesquisadoras Maria das Dores Machado, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Religião, Ações Sociais e Política da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Myriam de Barros e Fernanda Piccolo, doutoras em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ, perceberam é que, quando da discussão das relações entre homossexualidade e religião, o judaísmo raramente era citado. Desta noção, surgiu o trabalho “Judaísmo e Homossexualidade no Rio de Janeiro: notas de uma pesquisa”.

Publicado em julho deste ano na revista Religião & Sociedade, o artigo fez parte de uma pesquisa maior, iniciada em 2007, que tentou avaliar as “percepções de lideranças religiosas e de fiéis homossexuais sobre os temas da diversidade sexual e da discriminação em relação ao público LGBT no Rio de Janeiro”, dizem as autoras no artigo.

As pesquisadoras enfrentaram dificuldades ao tentar abordar o tema com representantes do judaísmo: depois de contato com sinagogas e amigos, conseguiram o agendamento de apenas duas entrevistas. E, quando entraram em contato com grupos LGBT buscando judeus homossexuais, receberam como resposta que “como esse tema não era bem visto pela maioria dos judeus”, elas não obteríam acesso às pessoas com essa identidade religiosa e orientação sexual, relatam.

O depoimento dos dois rabinos que se dispuseram a conversar, um identificado como “ortodoxo” e outro como “liberal conservador”, bem como a negação da maioria de conversar sobre o tema, mostrou que, no judaísmo, a homossexualidade não chega a ser propriamente condenada. Parece ser, antes disso, não considerada digna de discussão, uma vez que se trataria de uma opção que diz respeito ao âmbito privado. Para as autoras, “é importante notar que a homossexualidade também é percebida como uma opção individual, que mesmo que não seja legitimada, não chega ser qualificada como ‘demoníaca’”.

Essa relação do judaísmo com a homossexualidade aparece às vezes de forma curiosa, como a total negação da homossexualidade feminina. Um dos rabinos chega a afirmar que “na definição de sexualidade tem que existir penetração, então, tecnicamente a homossexualidade feminina não existe”, contam no artigo.

De acordo com a publicação, no judaísmo, “a família é o âmbito por excelência da transmissão de tradições e de legados”, sendo o matrimônio encarado como “uma instituição essencialmente destinada a engendrar e criar filhos”. Além disso, as pesquisadoras citam também a percepção de estudiosos que dizem que o predomínio da heterossexualidade nesta religião específica está muito ligada “com a visão da complementaridade dos gêneros e com a concepção da subordinação da mulher”.

Dessa forma, a homossexualidade, ao impedir a procriação e colocar o homem na mesma posição da mulher – uma vez que a relação homossexual o priva de seu caráter reprodutor –, teria dificuldades em trespassar estas ideias enraizadas dentro da religião judaica.

As autoras lembram, porém, que a política de se abster da discussão sobre a homossexualidade não é um padrão que se repita em todas as partes do mundo: nos Estados Unidos, por exemplo, “desde o final dos anos 70, muitas organizações judaicas importantes se uniram num movimento de oposição à discriminação baseada na orientação sexual e de defesa dos direitos civis de gays e lésbicas”, afirmam. [2]

III. HOMOSSEXUALISMO – O que se passa na barriga do próximo – por Rabino Nilton Bonder

Reflexões sobre a questão da aceitação de rabinos homossexuais pelo Movimento Reformista nos Estados Unidos

Na sociedade americana, ou melhor, na sociedade americana das grandes cidades, existe uma discussão em marcha sobre a questão da homossexualidade. Não que ela não exista em outras sociedades, mas nesta ela existe não enquanto uma questão teórica. Devido às características desta sociedade, cultua-se um valor de respeito a todas as formas de vida que não ponham em risco os direitos e a integridade de outros cidadãos. Neste contexto, grupos marginalizados buscaram resgatar e afirmar sua identidade. Entre estes grupos, os judeus. Entre estes grupos, os homossexuais. Um conjunto bastante distinto do outro, mas, perante estes valores de respeito, conjuntos semelhantes. Tão semelhantes, que na ausência destes valores ambos os grupos foram perseguidos e compartilharam de campos de concentração.

Os judeus homossexuais não podiam entender o incentivo a assumir sua identidade, e a proposta de empreender uma luta pelo reconhecimento de quem eram sem temores ou vergonha, como sendo algo que dizia respeito apenas ao aspecto “judeu”. Poder usar uma kipá na rua e querer ser aceito nas suas diferenças tem implicações maiores do que apenas os outros aceitarem as NOSSAS diferenças. Alguém poderia dizer: mas não há diferença entre o aspecto “judeu” e o aspecto “homossexual”? Do ponto de vista humano, não. Do ponto de vista moral, para muitos, não. Do ponto de vista do judeu heterossexual, com certeza, sim. Do ponto de vista da tradição, que foi produzida em grande parte por este grupo, sim. Do ponto de vista Divino, no que tange as leis da Tora, também sim.

Cá estamos com mais uma destas questões em que o ponto de vista humano e o ponto de vista Divino se chocam. Nada mal: se bem encaminhadas, estas questões geralmente apontam para questões importantes.

PONTO DE VISTA HUMANO

Não há nada mais complicado do que a diferença. Talvez porque seja impossível estabelecer alguma relação humana com a diferença pensando ou racionalizando. Diferença ou você conhece e permite a convivência ou será sempre um universo desconecto, diferente. Não me refiro às diferenças que não são diferenças, são o mesmo de outra maneira tolerável. Digo da diferença que impede a paz, da diferença que não permite a justiça. Diferenças que nos confundem em sua característica contraditória: temos que aprender a encontrar semelhanças para podermos ver a diferença. temos que tornar próximo para poder tornar humano. Uma das falas favoritas dos rabinos de Iavne era ( Ber.17a):

“Eu sou uma criatura de D’us, e meu vizinho é também uma criatura de D’us. Eu trabalho na cidades e ele trabalha no campo. Eu acordo cedo para meu trabalho e ele também acorda cedo para seu trabalho. Da mesma maneira que ele não pode superar-me com seu trabalho, eu não posso superá-lo com meu trabalho. Você diria que eu realizo grandes obras e ele pouco importantes? Nós aprendemos que não importa se uma pessoa fez muito ou pouco, contanto que dirija seu coração aos céus!”

O Talmude esta nos dizendo que podemos nos alienar do próximo por ser um diferente.

Podemos olhar o mendigo como um não-humano, podemos olhar o soldado inimigo como não-humano. Podemos olhar o homossexual como não humano.

O homossexual é um diferente. Não o diferente estereotipado que conhecemos de nossa cultura, que é diferente por ser extravagante, exibicionista ou inconveniente, e que, na verdade, como qualquer heterossexual com estas características, seria hoje percebido como o “machão”, o “molestador” ou o “sedutor intruso”. Digamos que estamos falando de homossexuais como seres humanos, de homossexuais que querem ir ai “shul”( ou “shil” dependendo da origem deste homossexual), que diferem quanto a sua visão religiosa, alguns ortodoxos, alguns liberais, alguns chassídicos; homossexuais que tal qual heterossexuais dirigem seus corações aos céus.

Grupos de homossexuais criaram em varias cidades americanas sinagogas: em Nova Iorque ( The Gay Sinagogue), em Washington ( Bet Mishpachá), em São Francisco, em Boston e também em Los Angeles. Sinagogas onde se agruparam judeu que tinham uma formação ortodoxa ou uma formação liberal e em muitos casos judeus assimilados.

Sinagogas em separado, pois não eram aceitos em outras sinagogas a não ser que escondessem parte de sua identidade. Sinagogas onde pudessem falar a mesma língua, tal qual os alemães gostam de sermões em alemão, tal qual gostam da ordem que lhes é particular, como prezam os sefaradis de origem árabe seus costumes e particularidades.

Opressão é opressão e os oprimidos se sentem oprimidos. Ninguém melhor do que integrantes do grupo PLAG ( Parentes of Lesbians and Gays) pode expressar isto numa linguagem simples. São estas pais parecidos às mães da praça de Maio? Do ponto de vista humano, sim. Afinal, o grande sofrimento humano é aceitar-se como se é para poder, só a partir deste conhecimento, tornar-se melhor, mais humano. Muitas vezes a diferença tem barreiras humanas dolorosas que devem ser respeitadas. Num relato cômico-trágico, um homossexual na cidade de São Francisco resolveu abrir seu coração a seu Zeide, a quem tinha como a pessoa mais importante. Parecia ser-lhe insuportável ser amado sem saber se o era por ser quem era ou se por ser alguém imaginário, que vinha de encontro a expectativas. Resolveu então levar seu avô à sinagoga gay de São Francisco e aproveitar o Shabat para abrir seu coração. E assim foi. Durante o serviço foi feita uma prédica sobre questões específicas da comunidade gay , grupos de ativistas fizeram anúncios e assim por diante. No final do serviço religioso, quando de volta para casa, perguntou a seu avô: “Nu, zeide, o que você achou?” Este, coçando a cabeça, comentou entusiasmado: “Gostei… gostei muito.” Depois completou: “Eu reparei… você não acha que lá tinha alguns ‘feigales’?”* (* O passarinho – forma pejorativa em idishe para “homossexual”)

Do ponto de vista humano o diálogo se processa entre a necessidade de se assumir a diferença e de que maneira a diferença impõe aos que não são diferentes uma obrigação de serem diferentes. Desde que ambos, diferentes e não-diferentes, se apliquem em sua humanidade, o resultado deste diálogo é o “bom futuro”. O “mau futuro” é a notícia que não reflete esforço ou elaboração.

DO PONTO DE VISTA DIVINO

D’us fez o homem e a mulher e parou por aí, está escrito na Torá. Imaginou um homem e uma mulher que não corresponderiam exatamente às Suas expectativas. Como bom Pai/Mãe, deixou cair sobre os filhos o custo da diferença, mas aprendeu a amá-los a partir de quem se mostravam ser. Tão impressionante a força desta relação, que ela permitiu a existência da Torá, um código de fidelidade a esta relação que não era morto, como teria sido nas mãos dos anjos. Todo dia, a todo instante e em todos os lugares onde há seres humanos, a Torá está em jogo e o D’us vivo, em relação.

D’us criou empatias sexuais para “pru ve-rubu”: “frutificar e multiplicar”. Prosseguimos com as leis da Torá como originalmente estabelecidas numa recordação da matriz das intenções – a intenção divina para sexo é a procriação. No entanto, é prática hoje em dia, não só de “idólatras”, mas de bons judeus, de bons seres humanos, de judeus observantes da lei, experimentar no sexo o prazer com que o Criador nos presenteou, para além do objetivo procriador.

D’us apresentou um projeto de estrutura familiar na Bíblia em que um homem casava-se com várias mulheres.

Rabeinu Guershom ( que estabeleceu a monogamia no século XII para os judeus ashkenazitas ) enviou novas mensagens sobre a humanidade, ou parte da humanidade, ao Criador. Todas estas mensagens, no entanto, não contradizem a proposta do Criador, são todas interpretações de mandamentos positivos.

“Multipliquem-se” não é substituído por sexo, pelo carinho e prazer, nem um casamento monogâmico quebra com os propósitos de juntar uma mulher a um homem.

Quando D’us diz através do texto bíblico: “não deitará homem com homem pois e abominação”. Fica evidenciado que a matriz de “deitar” tem a ver com um homem e uma mulher.

D’us ama suas criaturas e reconhece sua necessidade de crescer e se desenvolver. No Talmud, em um outro contexto totalmente diferente, quando rabinos optam por maior autonomia de D’us, ou seja, por maior auto-determinação no desenvolvimento de sua vida comunitária, D’us sorri e comenta “Nitschuni Banai”, “Meus filhos Me venceram ( tem razão) “. Acho que D’us sorri não de humildade, pois este é um ideal muito humano para imputar a D’us. Acho que sorri com uma certa alegria desafiadora. “Ótimo…ótimo.

De novo vocês optam por sair do paraíso. Vão ter que pagar seus preços. Mas contem Comigo. Já lhes dei a Torá, vou continuar dando a Torá. Esta será, no entanto, cada vez mais complexa…e sagrada.”

Pode estar nas mãos dos homens/mulheres, se estes quiserem. Podem não querer e deixar nas mãos de D’us. A resposta então se encontra acima. Podem, porém, como disse, tomar a si esta responsabilidade. Afastam-se assim do paraíso, mas, quem sabe, podem aproximar-se de dias Messiânicos. Rebi Zalman Schachter certa vez escreveu:

“Este Ser, ou a soma destes seres que chamamos Messias, está prisioneiro na superfície das tensões existentes entre pessoa e pessoa, homem e mulher, velho e jovem, rico e pobre, grupo e grupo, nação e nação. Sempre que a tensão é reduzida, de tal maneira que energia possa ser compartilhada, é realizado um salto quântico rumo a era messiânica. O futuro Messiânico, com suas bênçãos, espera por nós na outra margem de nosso despertar. Pois acendamos as velas de nossas almas e recebamos este Shabat.”

Não me cabe buscar definir neste momento o que é ser homossexual, passar julgamento sobre questões de uma era, ou iniciar um diálogo polemico. Está aí, ainda em nossos dias, colocada mais esta questão à espera dos grandes judeus que levando em conta os ensinamentos de D’us estejam prontos para discutir com Ele/Ela. O filósofo contemporâneo Franz Rosenzweig escreveu: “A alma de um grande judeu pode acomodar muitas coisas. Há perigo apenas para as pequenas almas.”

A ordenação de rabinos reformistas que assumem publicamente sua condição homossexual é com certeza uma decisão da “halachá do coração. Como explicou Rabi Samuel David Luzato, um erudito do século passado na Itália, em seu Iessodei Há-Torá ( Fundamentos da Torá): “A Torá está baseada em três fundamentos, o primeiro sendo da compaixão… A qualidade da compaixão é a raiz do amor, da generosidade e da verdadeira justiça.” Não é uma decisão baseada na lei judaica e que carrega o peso da elaboração e da responsabilidade de “discutir com D’us”.

A nós cabe resgatar esta discussão para alem das polemicas sensacinalistas e trazê-las para nossa vida, nossa Torá. Elas são as causas de muitos de nossos irmãos e irmãs e nossa atitude deve ser a de não excluir ninguém. Tal como na construção do Mishkan ( do primeiro santuário), quando Moisés conclamou toda a comunidade a contribuir, assim devemos também aprender a incluir. Sem os favores da tolerância e sem a superficialidade fraternal deificada pela democracia, a questão é, sem dúvida, de Torá.

E você? Quer saber “Vos tutsich ba iénem in boich”( o que se passa na barriga do próximo) para entrar na discussão ? Para ajudar num processo de Torá viva? Comece se perguntando Vos tutsich ba dir in boich ? — O que vai pela tua própria barriga? [3]

  1. Posicao Masorti Olami Sobre Homossexualidade – Você Também está Certo

(por Dr. David Breakstone)

Todos conhecemos a história de dois postulantes que argumentam diante de um rabino para

poder estabelecer uma disputa entre eles. Após ouvir o caso do primeiro reclamante, o rabino

declara, inequivocamente, que ele está absolutamente certo. O segundo postulante protesta que

ainda não foi ouvido, e então o rabino diz a ele que siga em frente, garantindo-lhe um

julgamento justo. Na conclusão da declaração deste segundo postulante, o rabino declara do

alto de sua autoridade que ele, também, está absolutamente certo. O secretário do rabino

intervém então: “Mas, mestre, se o primeiro requerente está certo, e o segundo argumentou

algo totalmente contrário, então como ele também pode estar certo?” O rabino franze sua testa,

balança sua cabeça e proclama: “Você também está certo!”

Esta é uma história judaica, não uma história de alguma vertente em particular de Judaísmo.

O rabino e a lógica pertencem a todo o povo judeu, desde o mais secular ao ultra-ortodoxo, e

reflete um ensinamento judaico fundamental, dominante no discurso talmúdico: eilu veeilu

divrei elohim chaim. O que isto significa é que há vários modos de compreensão, interpretação

e implementação da lei judaica, e desde que as pessoas que foram autorizadas a elucidar a Torá

cheguem a uma decisão legal (haláchica) – e dentro de uma estrutura reconhecida pelo sistema

religioso – então esta decisão é também considerada como sendo a palavra do D’us vivo.

Consequentemente, as sentenças contraditórias emitidas na semana passada pelo Comitê da

Assembléia Rabínica do Movimento Conservativo sobre Leis e Padrões (CJLS), proibindo e

permitindo simultaneamente o desempenho de cerimônias de compromisso do mesmo sexo e a

ordenação de homossexuais para o rabinato, exemplificam este embasamento fundamental da

tradição judaica sempre em evolução.

Se os ensinamentos da Torá fossem plenamente suficientes para nos orientar eternamente em

qualquer situação e circunstância social, e seus significados fossem claros e inequívocos, então

não teríamos carecido de criar a cultura do Beit Midrash e a Bíblia não teria precisado prover

instrução para sua própria explicação, mas precisou:

“Quando você tiver que julgar uma causa que pareça muito difícil… vá até os sacerdotes levitas e o juiz que estiver em função nesses dias. Eles investigarão e anunciarão a você”.

(Deuteronômio 17:8-9).

As palavras em itálico devem ser entendidas como uma proclamação de princípio de que a Lei

Judaica será naturalmente entendida de forma diferente conforme o tempo e as condições se

modifiquem, um sustentáculo do pensamento haláchico conservativo.

É neste contexto que o resultado das deliberações do CJLS deve ser entendido. Após quase 15

anos de discussão acadêmica e debate apaixonado, e do estudo meticuloso de cinco teshuvot

(opiniões legais) sobre as matérias analisadas, o comitê sancionou como legítimas e válidas

respostas conflitantes às questões que lhe foram confiadas responder.

Este fato foi possível porque as normas do CJLS estipulam que uma teshuvá endossada por até

seis de seus membros é impositiva, ratificando a noção de que há espaço e respeito pelas

opiniões minoritárias dentro da tradição judaica. Enquanto Hillel e Shamai teriam certamente se

colocado lado a lado com a sentença mais tradicionalista nos assuntos em questão, sendo

reativos ao período e ao éthos no qual viviam, há todos os motivos para presumir que eles

teriam respeitado o processo pelo qual as decisões foram alcançadas.

No entanto, a questão que se apresenta agora é se os membros do Movimento Conservativo

também irão agir assim. Não tenho dúvidas de que um número avassalador deles irá, e de que

eles o farão com orgulho. Acredito que eles, assim como eu, têm confiança nas instituições que

construímos e nas academias que formam nossos rabinos. Acredito que eles, assim como eu,

crêem que a estrutura haláchica – ao mesmo tempo elástica e limitadora – é essencial à

preservação do povo judeu. Acredito que eles, assim como eu, estão comprometidos a viver

plenamente no mundo moderno enquanto profundamente enraizados no passado antigo.

Acredito que eles, assim como eu, endossam a qualidade de cavod habriot – respeito por todas

as criaturas de D’us e por todos os seres humanos, independentemente de sua orientação

sexual. E acredito que eles, assim como eu, compreendem a função do CJLS para estabelecer

parâmetros dentro dos quais rabinos, congregações e indivíduos filiados ao Movimento

Conservativo devem se empenhar para viver.

É isto, de fato, o que o CJLS fez, novamente delineando as alas externas das tendas metafóricas

de Iacov, as moradias de Israel que foram louvadas pelo espírito de irmandade que difundiam,

mesmo para aqueles que vinham nos amaldiçoar. A perspectiva conservativa dessas fronteiras

sempre foi mais ampla do que a ortodoxa, e acaba de se tornar ainda mais ampla.

Sempre foi mais restrita do que a reformista, e continua a sê-lo – particularmente em relação à

Autoridade do coletivo rabínico no estabelecimento de limites congregacionais. Assim, a vasta

maioria dos judeus conservativos continuará a proclamar hinê ma tov u ma naim shevet achim

gam iachad –como é bom e agradável quando irmãos e irmãs habitarem juntos – apesar das

diferenças entre nós, apesar do desconforto que é inevitável quando cada ser humano não pode

deixar de escutar a voz de D’us com seus próprios ouvidos.

A mágica reside em saber, como fez nosso proverbial rabino, que por causa do que o que eu

escutei eu estou certo, mas também por causa do que você escutou você também está certo.

(Dr. Breakstone não é rabino. É o Vice Presidente Sênior Internacional do Masorti Olami – Conselho Mundial

das Sinagogas Conservativas, e representa o MERCAZ Olami, a Organização Sionista do Judaísmo

Conservativo nos Conselhos Executivos da Agência Judaica e da Organização Sionista Mundial) [4]

Fontes:

[1] Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade_no_Juda%C3%ADsmo

[2] Unisite-Saude, 09/12/2010: http://unisite.com.br/Saude/27898/Liderancas-religiosas-judaicas-ainda-nao-se-manifestam-abertamente-sobre-o-tema-da-homossexualidade.xhtml

[3] Koh’ma-Controvércias, CJB, Barra de Tijuca, RJ: http://www.cjb.org.br/khokhma/controv/homosex.htm

[4] Comunidade Shalom, São Paulo: http://www.shalom.org.br/quemsomos/masorti/PosicaoMasortiOlamiHomossexualidade.pdf

 

Coordenador: Saul Stuart Gefter



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