Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

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  1. Introdução – Pergunta: Gostaria de um esclarecimento sobre a questão do livre arbítrio. O que exatamente ele vem a ser pela Torá?

Resposta:  Maimônides em suas Leis de Teshuvá escreve que o livre arbítrio é a base primordial para toda a Torá. Se não fosse verdade, não faria sentido D’us ordenar cumprir um preceito, se a pessoa já foi determinada a fazê-lo, ou deixar de fazê-lo. Sendo assim, também não faria sentido a recompensa para quem cumpriu a mitsvá, ou o castigo para quem deixou de cumpri-la, pois isto não foi realizado pela própria escolha da pessoa, uma vez que tenha sido induzida a cometê-lo.

Afirmamos que o homem tem a livre escolha de ser justo ou perverso, bom ou mau, etc. Isto não contrasta com o fato de que tudo no mundo está em conformidade com a vontade de D’us, pois, da mesma forma que D’us quis que o Sol nascesse no Leste e se pusesse no Oeste, que cada planta nascesse no momento certo, etc., Ele também desejou que cada homem tivesse o livre arbítrio e que seus atos seguissem apenas sua vontade, para o bem ou para o mal.

O fato de D’us saber de antemão tudo o que ocorre no mundo, desde a Criação até o final dos tempos, não contradiz a idéia do livre arbítrio, pois Seu conhecimento não induz a pessoa a tomar tal atitude; pelo contrário, o fato de a pessoa assim escolher e agir faz com que D’us tenha conhecimento do ato.

Maimônides diz que o conhecimento humano não consegue captar a sabedoria Divina, pois esta está completamente distante de nossa concepção por sermos limitados em espaço e tempo. O intelecto humano consegue captar tão-somente aquilo a que estamos acostumados. Porém, a sabedoria Divina é ilimitada, sendo-Lhe possível, ao mesmo tempo, conhecer o futuro em detalhes e, por outro lado, dar o total e completo livre arbítrio ao homem.

Um exemplo para entender esta idéia: se alguém conhece os fatos do passado, seu conhecimento não faz com que os fatos ocorram; pelo contrário, sabe algo porque aquilo realmente ocorreu. Seu conhecimento é uma conseqüência, não uma causa. Para D’us, para Quem passado, presente e futuro ocorrem ao mesmo tempo (pois Ele não está limitado pelo tempo e espaço), Seu prévio conhecimento é como o nosso conhecimento do passado.

Isto se aplica às ações das pessoas, que não são determinadas por D’us e, sim, conseqüência do livre arbítrio de cada um. Porém, várias facetas da vida humana são determinadas por D’us desde antes do nascimento de cada um: se será rico ou pobre, com quem irá casar, como será sua vida material, etc.

Estes fatos não são apenas conhecidos previamente por D’us, mas por Ele predeterminados. Esta predeterminação não influi, porém, nas ações, pois em qualquer situação material em que a pessoa se encontre, D’us lhe dá forças espirituais suficientes para que cumpra Torá e mitsvot – depende apenas de sua vontade e esforço.

E assim disseram nossos sábios: “Tudo está nas mãos de D’us, menos o temor a D’us (e o serviço a D’us).” [1]

  1. O Judaìsmo e o signos do Zodìaco- O judaísmo acredita na influência dos astros sobre as pessoas e as criaturas em geral?

O judaísmo não duvida que há um sistema inteiro de constelações, astros e planetas que exercem influência sobre as criaturas. Aliás, o Talmud nos diz que “Malchuta deará ke’en malchuta derakiá“. “O reinado aqui é um reflexo do Reinado Celeste”, da mesma forma que um rei possui ministros e tem a sua corte, assim também funciona nas alturas. Então, não há dúvida de que os habitantes da “mansão Celeste” têm influência.

O Talmud, no Tratado Shabat, ensina que o mazal, o astro, exerce influência sobre a pessoa. Rabi Chanina disse que o mazal pode tornar a pessoa mais rica ou mais sábia. Nossos sábios dizem que não se deve tirar sangue de uma pessoa na terça-feira, pois este dia recebe influência do planeta Marte (o planeta vermelho), astro ligado a assuntos de guerra, sangue, pragas e desastres. A influência dos astros sobre o mundo mineral e vegetal é óbvia. As marés e até o ciclo menstrual dependem dos planetas. O Talmud afirma que não há grama que cresça sem que o seu astro a influencie. Aliás, um dos sinais da Galut é que os fluxos e energia Divina passem por um encadeamento do qual fazem parte as constelações, os astros e os anjos padrões que influenciam todas as criaturas físicas.

Existe, sim, uma influência celeste sobre todas as criaturas, desde os minerais até os seres humanos. O grande mestre, Rabi Isaac Luria, o Arizal, disse que o embrião só se torna perfeito a partir do sétimo mês, quando já passou pela influência de sete planetas principais e importantes.

Até lá, pode faltar algo no desenvolvimento do embrião. Rabi Avraham Ibn Ezra diz que cada povo e cada lugar físico é dependente do seu astro. Por exemplo, o povo de Yishmael (os árabes) depende de escorpião. Já os persas são influenciados por sagitário, os romanos por libra, e assim por diante.

Se há uma influência celeste e uma predestinação, como fica o livre-arbítrio e a responsabilidade do indivíduo?

A influência celeste é apenas uma tendência, pois a pessoa pode ter uma inclinação para certos hábitos, certos comportamentos, mas nada é absoluto e a pessoa pode combatê-la. O livre-arbítrio, a livre escolha, continua sempre e a pessoa pode lutar contra a sua inclinação tentando melhorar. Por exemplo, o Talmud ensina que aquele que nasce na terça-feira, dia sob a influência do planeta Marte (Marte em hebraico é maadim, que se origina da palavra dam, sangue ou o planeta vermelho), terá um caráter sangüinário e apreciará o sangue de tal maneira que poderá chegar a ser um assassino. Dizem os nossos sábios que, para o seu bem, ele deveria tornar-se um mohel ou um shochet; em outras palavras, deveria canalizar essa tendência. Ou seja, não há nada absoluto e a influência astrológica é apenas uma tendência eventual. Prova disto é o dito dos nossos sábios: “Tudo está nas mãos de D’us, exceto o temor a D’us.” O comportamento correto está totalmente entregue ao homem.

O Zohar, livro básico da Cabalá, menciona algo muito interessante. Diz que: “O povo de Israel ficou sob a influência dos astros até a outorga da Torá no Monte Sinai. A partir do momento em que recebeu a Torá, o povo deixou de depender das estrelas e constelações. Obviamente, quando alguém se afasta dos caminhos da Torá, volta a receber esta influência natural dos astros.” Isto fica claro nas palavras dos nossos sábios: “Ein mazal leIsrael”, ou seja, o povo de Israel não depende do mazal e das constelações. Cada um continua com o seu livre-arbítrio. Através da oração e dos bons atos é possível modificar o mazal (influência astral) para o bem. A melhor prova bíblica disto está no fato de o próprio Abraão, pai da nação judia, ter visto nas estrelas que não teria filhos. D’us elevou-o acima das estrelas e mostrou-lhe que Abraão teria filhos, como de fato nasceu já na sua velhice o segundo patriarca, Isaac.

É permitido a um judeu consultar astrólogos ou horóscopos?

Totalmente proibido. Encontramos em vários lugares na própria Torá e no Talmud proibições sobre este procedimento. Na Torá está escrito explicitamente: “Tamim tihiê im Hashem Elokecha.” (Deuteronômio 18:13). “Seja íntegro com Hashem, seu D’us.” Consultar astrólogos ou horóscopos demonstra falta de integridade. Devemos ter fé absoluta em D’us, que Ele dirige o mundo e sabe como e quando fazer, sempre da melhor forma para o ser humano. O homem não deve procurar conhecer e prever o futuro ou os desígnios Divinos.

 

III. Rosh Hashanà e o Livre Arbìtrio – Planeje sua vida.

Quais são seus objetivos? Quando se trata de carreira profissional, você provavelmente tem em mente o que seria um emprego ideal. Tente, então, fazer o mesmo em sua vida pessoal.

No sexto dia da Criação, no primeiro dia do mês de Tishrei, o homem foi criado e, neste mesmo dia, julgado. A essência do seu julgamento foi uma única e solitária pergunta “Aiêca?” Onde você esteve ? A cada ano, em Rosh Hashaná; D’us recria a Sua obra. Portanto, a cada ano, devemos reconquistar o direito de existir. Esta abordagem diferencia-se, até certo ponto, do conceito negativo vigente entre muitos, segundo o qual Rosh Hashaná, também chamado de Dia do Julgamento, é o momento em que D’us diz aos homens que, se não tomarem as atitudes corretas, serão punidos.

O que significa, no entanto, “tomar as atitudes corretas” ? Para entender esta idéia, é preciso tentar compreender, inicialmente, por que D’us criou o mundo antes do homem? Segundo o Ramchal – Rabi Moshe Chaim Luzzatto, 1707, Padua -16 May 1746, Acre (26 Iyar 5506), em “O Caminho de D’us”, a resposta é simples e clara: “D’us criou o mundo para dá-lo aos seres humanos. Ele deseja dar-nos tudo o que há de bom no mundo. Mas para isso, quer que sejamos independentes e independência implica escolha. Por isso, D’us criou o homem, concedendo-lhe o livre-arbítrio. E o exercício deste livre-arbítrio é algo que só pode ser feito por nós”.

Dentro desta perspectiva, Rosh Hashaná pode ser considerado também o aniversário do livre-arbítrio, do momento em que D’us deu vida ao homem e o direito de decidir o seu caminho. É também sobre este princípio de escolha a afirmação talmúdica que diz: “Quão precioso é o homem por ter sido criado à imagem de D’us”. Isto significa que, diferentemente das outras criaturas vivas, o ser humano recebeu o livre-arbítrio, um presente divino único, que dá ao homem a capacidade de mudar o mundo. Se usado de maneira correta, pode construir um mundo bonito e aperfeiçoá-lo cada vez mais. Se dele fizer uso incorreto, poderá destruí-lo.

Ou seja, cabe aos indivíduos apenas aprender a usar esse poder. Diz o Talmud (Pirquei Avot 3:18): “Um dos maiores sinais do quanto somos importantes para D’us é que Ele nos disse que fomos criados a Sua imagem”. Ou seja, presente maior do que o livre-arbítrio propriamente dito é o fato de D’us ter-nos dito que o possuímos.

É preciso, no entanto, entender a essência do que significa o livre-arbítrio. O direito de escolha não se aplica, por exemplo, às situações do cotidiano, como a decisão entre um sorvete de chocolate ou de baunilha. Isto é apenas uma questão de preferência, a qual os animais também possuem. O livre-arbítrio, por sua vez, envolve decisões que só podem ser tomadas pelo homem e que se refletem na maneira como conduz a sua vida, tendo como base a imagem Divina.

 

Várias etapas – O livre arbítrio inclui o princípio de que o homem tem consciência de que pode fazer opções, não deixando simplesmente que aconteçam; ou seja, o homem assume o controle das próprias decisões, sabendo que moldarão a sua vida. Por isso, é preciso sempre conhecer as razões para a tomada de decisão, os seus objetivos e, principalmente, ser responsável por suas decisões.

Para tomar as decisões adequadas às suas características individuais, é preciso que a pessoa se conheça. Não deve assumir como verdadeiros idéias e pensamentos predeterminados pela sociedade, a não ser que concorde integralmente com os mesmos. D’us espera que cada um seja responsável por suas decisões e que as tome sempre por si mesmo e não em função da sociedade.

O livre-arbítrio pressupõe, também, a capacidade do indivíduo de reavaliar decisões, não se prendendo a atitudes tomadas no passado – caso não sejam mais válidas – simplesmente porque o foram algum dia. O direito de recomeçar é parte intrínseca do direito de opção, desde que seja resultado de reflexões profundas e coerentes. Por exemplo, se alguém, um dia, duvidou da existência de D’us, não significa que não possa rever sua posição diante de evidências mais fortes e claras do que as já encontradas no passado.

Livre-arbítrio implica também estar-se consciente das diferenças entre os desejos do corpo e as aspirações da alma. Algumas vezes, o indivíduo sabe, objetivamente, o que é bom para si, mas seus desejos físicos distorcem sua visão. O Talmud afirma que se trava, dentro de cada um, uma batalha feroz entre o que a alma quer e o que o corpo deseja. Mas o que significa esta batalha?

Imagine a seguinte situação do cotidiano. Um indivíduo resolve começar a praticar esportes e conversa consigo mesmo, enquanto corre: “Isto vai me matar”. “Pare de reclamar e vá em frente”. “Como posso fazer isso? Meu coração vai parar”. “Relaxe, nada vai acontecer”. O que este diálogo traduz? Apenas uma batalha interna entre desejos opostos. A alma quer correr, porque é bom para a saúde. O corpo, por sua vez, prefere dormir. A alma quer perder algum peso, e o corpo diz que não consegue. A alma diz, “vamos ver”, e o corpo retruca: “Relaxe, não seria grande a perda se morrêssemos um pouco antes”.

Esse exemplo reflete a essência da batalha que cada um trava dentro de si. A alma quer viver integralmente, ser produtiva, fazer o que está correto, através de cada fibra do ser humano.

O corpo deseja apenas descansar e encontrar o conforto do comodismo, sem fazer nenhum esforço. É preciso, portanto, definir de maneira clara e inequívoca qual dos dois prevalece no íntimo do indivíduo: as aspirações da alma ou os desejos do corpo. Se optar por ouvir a sua alma, o indivíduo estará, com certeza, escolhendo a vida de maneira integral.

O judaísmo costuma dizer que a alma é o verdadeiro ser humano. Se for capaz de se identificar com os desejos da alma, então estará satisfazendo as suas reais necessidades.

Sua meta será, então, treinar o corpo e fazer com que traduza a realidade da alma. O controle sobre o próprio corpo se dá através da identificação com a alma e tem como resultado final a conquista da paz interior e, conseqüentemente, uma aproximação maior com D’us.

Também consta na Torá claramente (Deuteronômio 18:10) que não haverá entre nós feiticeiros, quiromantes e assim por diante. Também o Talmud nos diz que não podíamos consultar os caldeus, que eram astrólogos. Da mesma forma, mencionamos de passagem que os judeus não procuram necromantes (Deuteronômio 18:11), as pessoas que chamam os mortos através do espiritismo. Aliás, o próprio Talmud fala que esta técnica não funciona no Shabat, nem esses médiuns conseguem chamá-los, uma prova clara de que o Shabat é realmente o descanso das almas.

Esta proibição em consultar astrólogos não diminui em nada os conhecimentos da astronomia e astrologia. Os judeus sempre possuíram conhecimentos profundos nestas ciências, como os grandes rabinos Saadia Gaon, Shmuel HaNaguid, Ibn Ezra, Gershônides, Nachmânides, Isaac Abarbanel, Isaac Abohab e assim por diante. Isto, porém, ocorria apenas no âmbito do conhecimento. Por exemplo, Pedro Álvares Cabral, para chegar ao Brasil, utilizou mapas do famoso rabino Zacuto, grande erudito em astronomia e cartografia.

O conhecimento não implica em comportamento. Os judeus nunca consultaram a astrologia para determinar se deviam ou não exercer determinada atividade, cientes de que, afinal, o comportamento do homem era o deter-minante, a cada instante, do seu destino. Judeus não consultam quiromantes e astrólogos, nem sequer os horóscopos impressos nos jornais. Isto não faz parte dos nossos hábitos de leitura.

Muitas vezes alguém lê o horóscopo pela manhã e lá está escrito que não terá sucesso em seu trabalho durante o dia. Este fato o deixa deprimido, o que ocasiona, realmente, um dia fracassado… É por este motivo que nos refreamos de qualquer leitura para deixar o nosso livre-arbítrio intacto, para optar sempre pelo bem, mantendo a confiança e o otimismo.

É permitido aos não judeus consultar os astros?

Sim. De acordo com o código da lei judaica, não há proibição para um não-judeu consultar astrólogos, horóscopos ou até mesmo se comportar de acordo com a influên-cia dos astros, os desígnios celestes. Prova disto é um versículo explícito na Torá (Deuteronômio 4:19) onde D’us diz: “Você poderia levantar seus olhos para o céu e, ao ver o sol, a lua, as estrelas e todas as hostes celestes, deixar-se induzir (…) todavia o Eterno, teu D’us os deu e repartiu para as nações abaixo do céu.”

Também encontramos um versículo parecido nos livros dos profetas, onde Jeremias (10:2) diz: “Assim, disse o Eterno, (…) não se deixem impressionar perante os signos celestiais porque as nações se deixam impressionar perante eles.”

Então, não é proibido que as nações consultem o horóscopo.

E os símbolos do zodíaco? Têm ligação com o judaísmo?

Sem dúvida. Já que o nosso calendário é lunar, e os símbolos do zodíaco correspondem ao mês lunar, então cada um dos nossos meses corresponde a um desses símbolos.

Isto não ocorre por acaso, como é possível perceber em alguns exemplos. O primeiro mês do ano, Nissan, o seu signo é capricórnio – carneiro – e, justamente no mês de Nissan, sabemos que há o cordeiro pascal; o carneiro é o mês do corban de Pessach. É o mês no qual nós também vencemos os egípcios, que adoravam e veneravam este animal.

O segundo mês do ano é touro. Observando bem, podemos notar que os dois primeiros meses do ano são animais. Isto porque nestes dois meses trabalhamos com a nossa alma animal a fim de melhorar a nossa má inclinação para receber a Torá no terceiro mês, que é o mês de Sivan, gêmeos. E gêmeos, que são dois, representam a comunicação, a outorga da Torá, o casamento entre D’us e o povo de Israel, que muitas vezes seus amores são semelhantes a gêmeos. Gêmeos também representa a Torá escrita e a Torá oral, pois a Torá sempre foi dupla, e foi outorgada por uma dupla, Moshé e Aaron, parecidos como gêmeos.

O signo do sexto mês, o mês de Elul, é virgem, que representa a pureza, o branco, a santidade. O mês de Elul é exatamente o mês da pureza, da teshuvá, do retorno a D’us. O mês no qual fazemos os preparativos para Rosh Hashaná.

O mês seguinte é balança, Tishrei, quando D’us julga a humanidade e coloca os nossos atos em uma balança e realmente decide como será o próximo ano.

Segue-se Cheshvan, cujo símbolo é escorpião, um inseto que vive nas águas.

Cheshvan, de fato, é o mês do dilúvio, quando começou a famosa inundação que quase destruiu a humanidade. Sabemos que, em hebraico, escorpião é acrav, que se escreve também acar beit, aquele que destrói a casa, destrói o mundo. O dilúvio quase destruiu o beit, o universo.

E poderíamos prosseguir com cada um dos meses para demonstrar como eles correspondem entre si.

Aliás, temos dois destes símbolos do zodíaco que estão no plural: gêmeos, que é o mês de Sivan, e peixes, o mês de Adar. Peixes vivem na água, um símbolo de pureza e Adar é o mês da festa de Purim, o mês da volta, da pureza, do retorno a D’us na época de Mordechai. Adar, entretanto, possui o símbolo no plural porque de vez em quando subdivide-se em Adar I e Adar II. Por isto o signo de peixes, no plural, é mantido para ambos os meses, quando ocorre um ano bissexto, com 13 meses.

Os nossos sábios nos dizem que quando Yaacov e Essav resolveram dividir a sua influência sobre os meses, Yaacov escolheu Nissan e Iyar, carneiro e touro, enquanto Essav ficou com Tamuz e Av, câncer e leão. Como vimos, estes são meses difíceis para o nosso povo, são meses nos quais os descendentes de Essav – Roma – causaram uma grande aflição para o povo de Israel. Ocorre que no mês de Sivan ambos têm a mesma influência. Por isso, o signo é gêmeos, pois Yaacov e Essav eram irmãos gêmeos.

Existe uma correlação entre os doze signos do zodíaco e as doze tribos de Israel?

É óbvio que existe uma correlação entre ambos. Há doze meses judaicos e doze signos do zodíaco, denominados mazalot, e há doze tribos de Israel e o Arizal explica que há uma correlação, uma afinidade entre eles. Vejamos alguns exemplos:

O mês de Nissan, cujo símbolo é carneiro, representa a tribo de Yehudá, que é a dinastia que gerou o rei David. Os reis, os monarcas, os líderes, são sempre descendentes da tribo de Yehudá. Nissan é o primeiro mês, a Torá (Êxodo 12:2) diz: “Hachodesh haze lachem rosh chodashim”, este mês será para vocês o líder dos meses. Lachem tem as mesmas letras que melech, rei, e aqui percebemos a conexão com Yehudá, que sempre foi o primeiro a viajar no deserto e cujos descendentes são os reis de Israel.

O segundo mês é touro, o mês de Iyar, que de acordo com os nossos sábios representa a tribo de Yissachar. Iyar representa o preparo para receber a Torá; é o mês no qual as pessoas se imergem no estudo da Torá ao máximo. Esta é a tribo de Yissachar, pois os nossos sábios ensinam que Yissachar era composta por grandes eruditos, já que todos eram muito diligentes no estudo da Torá. (Pelo fato de eles serem financiados por Zevulun, que eram os armadores e os comer-ciantes. Aliás, disto surge o assunto de gêmeos. Zevulun e Yissachar são como gêmeos, o símbolo do próximo mês.) Yissachar são os grandes sábios que exceleram no conhecimento da astronomia, sendo representados pelo mês de Iyar, o mês de preparo para o recebimento da Torá, o mês do Ômer.

Então temos o próximo mês, Sivan, gêmeos, o mês de Zevulun. Zevulun vem da palavra zevul, firmamento, uma das conotações de céu. E justamente neste terceiro mês se juntaram céu e terra e houve comunicação entre a parte espiritual e material na revelação do Sinai.

O quarto mês é Tamuz, cuja tribo é Reuven. Temos aqui, novamente, uma alusão interessante, porque os próximos meses, Reuven e Shimon, câncer e leão, são dois meses que demonstram ser negativos e sob a influência de Essav.

Dois episódios aconteceram com a tribo de Reuven e de Shimon, que corresponde a Tamuz e Av. Infelizmente, parte da tribo de Reuven rebelou-se contra Moshe na época da revolta de Corach, fato que resultou, obviamente, em coisas negativas para o povo de Israel.

Também no mês de Av nós temos uma relação com Shimon. Sabemos que a tribo de Shimon também enfrentou um episódio negativo quando um de seus líderes se juntou abertamente com uma midianita, filha de um príncipe de Midian, a famosa Cozbi, um episódio assimilatório que resultou em muitos mortos. Estes dois eventos com Reuven e Shimon corres-pondem ao que ocorreu com o povo de Israel em Tamuz e Av, os dois meses de câncer e leão.

Da mesma maneira podería-mos prosseguir com todos os meses do calendário, demonstrando que há, sem dúvida alguma, uma correlação entre os doze signos e as doze tribos. Ao nos aprofundar-mos no zodíaco, veremos que também cada um dos 12 meses sofre uma influência de um planeta específico.

O mês de Nissan, por exemplo, é o planeta Marte, Iyar é Vênus, Sivan é Mercúrio e assim por diante.

Cada mês judaico, que já possui o seu símbolo e já tem a sua tribo, também corresponde a uma parte do corpo humano. Por exemplo, o mês de Nissan é a cabeça, Tamuz (Reuven) corresponde à visão, e Av (Shimon) é o sentido da audição. O coração é o mês de Tishrei, o famoso mês das festas que está se aproximando.

Que D’us ajude o nosso coração a se voltar para o Todo-Poderoso neste mês de Tishrei, o mês do balanço, no qual D’us julga a humanidade. Que todos tenham um ano feliz, um shaná tová umetuká, amén! [3]

Fontes: [1] Chabad, Torá e Estudo: http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1687724/jewish/Livre-Arbtrio.htm

[2] Revista Morasha,Edição 30 – Setembro de 2000: http://morasha.com.br/conteudo/ed30/judaismo.htm

[3] Mulheres no Judaismo: http://mulheresnojudaismo.blogspot.com.br/

Coordenador: Saul Stuart Gefter



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