Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

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Por Yaakov Astor (trecho de “Soul Searching”, Targum Press)

A escatologia judaica é composta de três peças básicas: A Era de Mashiach (Messias). O Mundo Vindouro. O Mundo da Ressurreição.

A Era Messiânica – Mashiach, segundo as tradicionais fontes judaicas, será um ser humano de carne e osso, nascido de mãe e pai, ao contrário da ideia cristã que o retrata como o filho de D’us concebido imaculadamente. De fato, Maimonides escreve que o Mashiach completará seu trabalho e morrerá como qualquer pessoa.2

Qual é o seu trabalho? Terminar a agonia da história e introduzir uma nova era para a humanidade em geral.3 O período no qual ele emerge e completa sua tarefa é chamado de Era Messiânica. Segundo uma opinião talmúdica não é uma era de milagres revelados, onde as regras da natureza são descartadas. Em vez disso, o único elemento novo introduzido ao mundo será a paz entre as nações, com o povo judeu vivendo em sua terra sob a própria soberania, livre de perseguição e anti-semitismo, livre para buscar suas metas espirituais como nunca antes.4

O Mundo Vindouro – O Mundo Vindouro em si é chamado nas fontes tradicionais de Olam Habá. No entanto, o mesmo termo é usado para se referir ao renovado mundo utópico do futuro – o Mundo da Ressurreição, olam hat’chiá (conforme explicado no parágrafo a seguir).5 O anterior é o local aonde as almas dos justos vão após a morte – e elas têm ido para lá desde a primeira morte. Aquele local também é algo às vezes chamado de Mundo das Almas.6 É um local onde as almas existem num estado desencarnado, apreciando os prazeres da proximidade de D’us. Assim, as genuínas experiências de quase morte são presumivelmente lampejos ao Mundo das Almas, o lugar no qual a maioria das pessoas pensa quando o termo Mundo Vindouro é mencionado.

O Mundo da ressurreição – O Mundo da ressurreição, em contraste, “nenhum olho viu”, declara o Talmud,7 é um mundo, segundo a maior parte das autoridades, onde corpo e alma são reunidos para viver eternamente num estado realmente perfeito. Aquele mundo somente virá a existir após Mashiach e será iniciado por um evento conhecido como o “Grande Dia do Julgamento.” (Yom HaDin HaGadol)8

O Mundo da Ressurreição é então a suprema recompensa, um lugar no qual o corpo se torna eterno e espiritual, ao passo que a alma se torna ainda mais espiritual.9 Em comparação a um conceito como o “Mundo Vindouro”, a reencarnação não é, tecnicamente falando, uma verdadeira escatologia. A reencarnação é meramente um veículo para atingir um fim escatológico. É a reentrada da alma num corpo inteiramente novo no mundo atual. A ressurreição, em contraste, é a reunificação da alma com o corpo anterior (novamente reconstituído) ao Mundo Vindouro, uma história que ainda não foi testemunhada.

A ressurreição é então um puro conceito escatológico. Seu propósito é recompensar o corpo com a eternidade (e a alma com maior perfeição). O propósito da reencarnação geralmente é duplo: ou compensar uma falha numa vida anterior ou criar um estado novo, mais elevado, de perfeição pessoal ainda não atingido.10 A ressurreição é então um tempo de recompensa; a reencarnação um tempo de reparo. A ressurreição é a época da colheita; a reencarnação o tempo de semear.

O fato de que a reencarnação é parte da tradição judaica é uma surpresa para muitas pessoas.11 Apesar disso, é mencionada em vários locais nos textos clássicos do misticismo judaico, começando com a importante fonte da Cabalá, o Livro do Zohar.12 Se a pessoa é mal-sucedida em seu propósito neste mundo, o Eterno, Bendito seja, o desenraíza e o replanta muitas vezes mais. (Zohar I 186 b)

Todas as almas estão sujeitas à reencarnação; e as pessoas não sabem os caminhos do Eterno, Bendito seja! Elas não sabem que são levadas perante o tribunal tanto antes de entrarem neste mundo quanto depois que o deixam; são ignorantes das muitas reencarnações e obras secretas que têm de passar, e do número de almas nuas, e de quantos espíritos nus vagam no outro mundo sem poder entrar no véu do Palácio do Rei. Os homens não sabem como as almas se revolvem como uma pedra que é atirada de um estilingue. Porém chegará a hora em que estes mistérios serão revelados. (Zohar II 99 b)

O Zohar e a literatura relacionada13 estão repletos de referências à reencarnação,14 abordando questões como qual corpo é ressuscitado e o que acontece com aqueles corpos que não atingem a perfeição final,15 quantas chances uma alma recebe para atingir a compleicão através da reencarnação,16 se marido e mulher podem reencarnar juntos,17 se uma demora no enterro pode afetar a reencarnação,18 e se uma alma pode reencarnar num animal.19

O Bahir, atribuído ao sábio do Século Primeiro, Nechuniah ben Hakana, usava a reencarnação para discutir a clássica questão de teodicéia – por que coisas más acontecem a pessoas boas e vice-versa.

Por que há uma pessoa boa a quem coisas boas acontecem, ao passo que [outra] pessoa justa tem coisas más lhe acontecendo? Isso é porque a [última] pessoa justa fez o mal numa vida prévia, e agora está sentindo as consequencias… Como é isso? Uma pessoa plantou uma vinha e esperava cultivar uvas, mas em vez disso, cresceram uvas azedas.

Ele viu que seu plantio e colheita não foram bons, portanto arrancou tudo e plantou novamente. (Bahir 195)20

A reencarnação é citada por comentaristas autorizados, incluindo o Ramban21 (Nachmanides), Menachem Recanti22 e Rabenu Bachya.23 Dentre os muitos volumes do sagrado Rabi Yitschak Luria, conhecido como o “Ari”,24 a maioria dos quais chegou a nós pela pena de seu principal discípulo, Rabi Chaim Vital, são ideias profundas explicando temas relacionados à reencarnação. Na verdade, seu Shaar HaGilgulim, “Os Portões da Reencarnação25”, é um livro devotado exclusivamente ao assunto, incluindo detalhes sobre as raízes da alma de muitas personalidades bíblicas e quem eles reencarnaram desde os tempos da Bíblia até o Ari.

Os ensinamentos do Ari e seus sistemas de ver o mundo se espalharam como fogo após sua morte em todo o mundo judaico da Europa e no Oriente Médio. Se a reencarnação tinha sido aceita em geral pelo povo judaico e pelos intelectuais anteriormente, tornou-se parte do tecido do Judaísmo e da erudição após o Ari, habitando o pensamentos e os escritos de grandes eruditos e líderes dos comentaristas clássicos sobre o Talmud (por exemplo, o Maharsha, Rabi Moshê Eidels)26 ao fundador do Movimento Chassídico, o Baal Shem Tov, bem como o líder do mundo não chassídico, o Gaon de Vilna.27

A tendência continua até hoje. Mesmo algumas das maiores autoridades que não são necessariamente conhecidas pela sua inclinação mística, assumem a reencarnação como uma doutrina básica aceita. Um dos textos que os místicos gostam de citar como uma alusão escritural ao princípio da reencarnação é o seguinte versículo no Livro de Iyov (Jó):

Veja, todas essas coisas que D’us realiza – duas, até três vezes com um homem – trazer sua alma de volta do poço para que possa ser iluminada com a luz dos vivos. (Jó 33:29)

Em outras palavras, D’us permitirá que uma pessoa volte ao mundo “dos vivos” vinda do “poço” (que é um dos termos bíblicos clássicos para Gehinom ou Purgatório) uma segunda ou terceira vez (ou múltiplas) vezes. Falando de maneira geral, no entanto, este versículo e outros são entendidos pelos místicos como meras alusões ao conceito da reencarnação. A verdadeira autoridade para o conceito está enraizada na tradição. _______________________________

Notas:

  1. Maimônides, Melachim 11:3
  2. Comentário sobre a Mishná, Sanhedrin 10:1; cf Sanhedrin 99a
  3. Maimônides, Melachim 11:3, 12:5
  4. Sanhedrin 91b, 99a, Berachot 34b, Pesachim 68a; Shabat 63a; Maimonides, Teshuvá 9:2, Melachim 12:2.
  5. Tosafot, Rosh Hashaná 16b, s.v. leyom din; Emunos V’deyos 6:4 (final), Raavad, Hilchos Teshuvá 8:8; Kesef Mishná, Teshuvá 8:2; Derech Hashem 1:3:11
  6. Ramban (Nachmanides) Shaar HaGemul. Segundo o Ramban e outras autoridades, o :Mundo das Almas” é freqüentemente mencionado como o Jardim do Éden.
  7. Sanhedrin 99a.
  8. Ramban, Shaar HaGemul. Citando fontes talmúdicas e midráshicas, o Ramban escreve que há três dias de julgamento, i.e., três vezes a alma é julgada.

1) Rosh Hashaná, quando revisa o ano que passou e determina as circunstâncias materiais para o ano vindouro;

2) Dia da morte, quando revisa a vida que passou e determina o que precisa para continuar a experiência de mais revisão ou está pronta para o Paraíso.

3) O Grande Dia do Julgamento, que é quando todos que viveram são ressuscitados, os justos para a vida eterna (num mundo físico espiritualizado, segundo o Ramban) e os perversos por aquilo que falta para terminar (segundo outros haverá uma categoria intermediária daqueles que são dignos de continuar num espírito desencarnado, mas não na forma física mais rara do corpo ressuscitado num mundo ressuscitado). Haverá também aparentemente diferentes graus de recompensa (i.e., vivenciando a presença de D’us) neste Mundo Renovado após o Grande Dia de Julgamento, tudo dependendo das ações da pessoa durante a vida. Tem sido questionado: Se uma pessoa é julgada após a sua morte quanto ao seu status no Mundo Vindouro, qual é o propósito do Grande Dia do Julgamento? Uma das respostas diz que depois que uma pessoa morre, todos os filhos, as boas e as más ações e a influência que ela teve sobre os outros ainda “estão em movimento”. Somente ao final da história pode ser feita a “contagem final”, então, quanto ao impacto que a pessoa teve em sua vida.

  1. Derech Hashem 1:3:13.
  2. Shaar HaGilgulim, cap. 8; Derech Hashem 2:3:10.
  3. Muitos ficam surpresos ao descobrir que a reencarnação era uma crença aceita por muitas das grandes mentes da civilização ocidental. Embora o Judaísmo, obviamente, não concorde necessariamente com todos os pensamentos e filosofias dele, apesar disso Platão, por exemplo, (em Meno, Faedo, Timeus, Fedrus e na República), defende a crença na doutrina da reencarnação. Ele parece ter sido influenciado por mentes gregas clássicas anteriores como Pitágoras e Empédocles. No Século Dezoito, a Idade do Iluminismo e do Racionalismo, pensadores como Voltaire (“Afinal, não é mais surpreendente nascer duas vezes do que nascer uma vez”) e Benjamin Franklin expressaram uma afinidade pela noção da reencarnação. No Século dezenove, Schopenhauer escreveu (na obra: Parerga e Paralipomena): “Se um asiático me pedisse uma definição da Europa, eu seria forçado a responder-lhe: ‘É aquela parte do mundo que é assombrada pela incrível ilusão de que o o nascimento da pessoa é sua primeira entrada na vida’…” Dostoevsky (em sua obra: Irmãos Karamazov) refere-se à ideia, ao passo que Tolstoy parece ter bem definido o fato de que vivemos antes. Thoreau, Emerson, Walt Whitman, Mark Twain e muitos outros reconheceram e/ou defenderam alguma forma de crença na reencarnação. Deve-se notar, porém, que algumas autoridades clássicas da Torá, mais especificamente Saadia Gaon, do Século Dez, negava a reencarnação como dogma judaico. Emunos V’Deyot 6:3.
  4. O Talmud relata que o sábio do segundo século, Rabi Shimon bar Yochai e seu filho Elazar esconderam-se numa gruta para escapar da perseguição romana. Durante treze anos eles estudaram dia e noite sem distração. Segundo a tradição cabalista (Tikunei Zohar) foi durante aqueles treze anos que ele e seu filho compuseram os principais ensinamentos do Zohar. Oculto por muitos séculos, o Zohar foi publicado e disseminado por Rabi Moshê de Leon no século Treze.
  5. Embora o Zohar seja geralmente mencionado como uma obra de um único volume, compreendendo Tikunei Zohar e Zohar Chadash, é na verdade uma compilação de vários tratados menores ou sub-seções.
  6. Zohar I:131a, 186b, 2:94a, 97a, 100a, 105b, 106a, 3:88b, 215a, 216a; Tikunei Zohar 6 (22b, 23b), 21 (56 a), 26 (72a), 31 (76b), 32 (76b), 40 (81a), 69 (100b, 103a, 111a, 114b, 115a, 116b), 70 (124b, 126a, 133a, 134a, 137b, 138b); Zohar Chadash 33c, 59a-c, 107a; Ruth 89a.
  7. O Zohar (I 131a): “Rabi Yossi respondeu: ‘Aqueles corpos que são indignos e não atingem seu objetivo serão considerados como se não tivessem existido…’ Rabi Yitschak [discordou e] disse: Para estes corpos o Eterno fornecerá outros espíritos, e se considerados dignos obterão uma morada no mundo, mas se não forem, serão cinzas sob os pés dos justos.” (Cf. Zohar II 105b.
  8. Ex.: Zohar III 216a; Tikunei Zohar 6 (22b), 32 (76b) sugere três ou quatro chances. Tikunei Zohar 69 (103a) sugere que se mesmo um pequeno progresso é feito a cada vez, a alma recebe até mil oportunidades de reencarnação a fim de atingir sua compleição. Zohar III 216a sugere que uma pessoa essencialmente justa que passa pelas agruras de vagar de cidade em cidade, de casa em casa – até mesmo tenta abrir negócios (Zohar Chadash Tikunim 107a) – é com se passasse por várias reencarnações.
  9. A resposta é que sim, é uma possibilidade, Zohar II, 106a.
  10. “Depois que a alma deixou o corpo e o corpo não respira mais, é proibido mantê-lo insepulto (Moed Katon, 28a; Baba Kama, 82b).

 

Um corpo morto que é deixado insepulto por 24 horas provoca uma fraqueza nos membros da Carruagem e impede que o desígnio de D’us seja cumprido; pois talvez D’us tenha decretado que ele deveria passar pela reencarnação imediata no dia em que morreu, o que seria melhor para a pessoa, mas como o corpo não está enterrado a alma não pode ir à presença de D’us nem ser transferida para outro corpo. Pois uma alma não pode entrar num segundo corpo até que o primeiro seja sepultado…” Zohar III 88b.

  1. Tikunei Zohar 70 (133a). Depois os cabalistas detalham as circunstâncias que podem levar à reencarnação em forma vegetal e até mineral. Shaar HaGilgulim, cap. 22 & 29; Sefer Haredim 33, Ohr Chaim 1:26.
  2. Bahir 122, 155, 184 e 185 também discutem a reencarnação.
  3. Bereshit 38:8, Job 33:30.
  4. Ex. comentário sobre Bereshit 34:1; seu Taamei HaMitsvot (16a) diz que a reencarnação é o segredo por trás dos dez sábios talmúdicos que foram abatidos pelos romanos.
  5. Comentário sobre Bereshit 4:25, Devarim 33:6.
  6. Suas principais obras são Etz Chaim (Árvore da Vida) e Pri Etz Chaim (Fruto da Árvore da Vida), bem como o Shmonê Shaarim (Oito Portões), que tratam sobre tudo que vai do comentário bíblico até inspiração Divina e reencarnação.
  7. Sefer HaGilgulim, “O Livro das Reencarnações,” por Chaim Vital é também um livro inteiro dedicado a este tópico.
  8. Comentário sobre Niddah 30b.
  9. Comentário ao Livro de Jonah, e muitos outros locais. Por exemplo, R. Meir Simcha de Dvinsk em Ohr Somayach, Hilchot Teshuvá 5, s.v. v’yodati; R. Israel Meir HaKohen [o Chofets Chaim] em Mishnah Berurá 23:5 e Shaar HaTzion 702:6; R. Yaakov Yisroel Kanievsky [o Steipler Gaon] em Chayei Olam.
  10. Guehinom refere-se, geralmente, a uma experiência com tempo limitado (Edyos 2:10) na vida posterior, onde a alma é purgada de suas culpas num processo, depois que tudo foi feito e dito, descrito como doloroso, embora catártico. Num sentido mais profundo, a pessoa grosseira é recompensada na mesma moeda. Assim como agiu grosseiramente ao pecar, agindo como se D’us não estivesse presente, ele é pago tendo de passar pelo Guehinom, um local diferente do Céu, onde a presença de D’us de certa maneira está oculta, ou pelo menos não aberta e livre. (O nome Guehinom vem do vale ao sul de Jerusalém, conhecido como o vale [Guei] do filho de Hinnom, onde certa vez crianças foram sacrificadas a Molech (II Reis 23:10’; Yirm. 2:23; 7:31-32; 19:6). Por este motivo o vale foi considerado amaldiçoado, e Guehinom assim tornou-se um sinônimo para Purgatório.[1]
  11. Reencarnação – A necessidade de retornar – O judaísmo acredita em reencarnação? Se sim, por quais motivos uma alma reencarna? E se uma alma já teve vários corpos, com qual deles irá voltar quando Mashiach chegar? O mais recente? O que me garante que uma família irá reencontrar todos seus entes queridos, pois alguns deles já podem estar pertencendo à outra família!

Resposta: Uma alma desce a este mundo vinda de “sob o trono da glória” – um local muito mais elevado que o anjo mais elevado – para cumprir sua missão neste mundo físico. Esta missão é constituída tanto de uma missão geral – o cumprimento de todos Mandamentos Divinos – como também de uma missão específica para esta alma.

Após o tempo que lhe foi designado, a alma retorna para ser julgada. Pode precisar purificar-se no Guehinom (Purgatório), mas ao final, estará apta a colher sua recompensa temporária, que é vivenciar no Gan Éden (Paraíso), o Mundo das Almas, a luz Divina que gerou com todas suas boas ações. Porém, em muitos casos a missão toda da alma não foi completada nesta vida. Pode ainda existir algum problema que necessite de correção, herdado ou não de uma encarnação anterior. Portanto, aquele aspecto da alma que ainda necessita ser completado deve retornar. Por este motivo as almas voltam uma e outra vez, até que sua obra esteja completa. Este conceito é conhecido na Cabalá como Guilgul.

Em casos específicos (onde a pessoa cometeu transgressões gravíssimas), esta terá somente três chances de reencarnar (além da primeira vida), para assim retificar suas falhas. Se após estas três chances ela não consegue esta retificação, a alma ficará errante e isolada neste mundo até reencarnar no reino animal, vegetal, mineral ou as vezes até em criaturas espirituais negativas. Nesse estágio doloroso, a alma não consegue sua elevação sem assistência externa. Esta ajuda poderá ser tanto intencional, através do estudo da Torá, recitação do Cadish, a prática de atos de bondade e caridade em prol dela, ou mesmo sem intenção. Por exemplo, as vezes passamos por um certo local, tendo a chance de estudar lá uma passagem da Torá ou recitar os Salmos, sem saber que na verdade há algo neste local que está aguardando nosso ato, as vezes por centenas de anos.

Vale apenas ressaltar que um filho, ou até um amigo, pode fazer bem para uma alma querida, através dos atos lembrados acima, independente se a alma encontra-se em uma situação descrita acima, ou se está no Mundo da Verdade.A regra acima (das três chances), não se aplica a um tsadic (justo). A sua alma poderá voltar muitas vezes com a missão de retificar a geração.

A maioria das almas de nossa geração são retornantes, e somente pessoas especiais sabem exatamente qual é sua missão na vida. Uma das maneiras de saber qual é nossa missão específica, é simplesmente observando quais são os assuntos onde há mais obstáculos e são mais difíceis de serem cumpridos. O Yêtser Hará (Má Inclinação) não se introduz em excesso nos assuntos que já foram retificados em vidas passadas, somente o necessário para a pessoa ter o livre arbítrio, porém na missão específica da alma nesta encarnação, há uma forte objeção por parte do Yêtser Hará.

Finalmente, todas as almas receberão como recompensa definitiva, o retorno ao seus corpos neste mundo material – a Ressurreição dos Mortos – após a vinda de Mashiach (Messias). Então todos receberemos a completa recompensa de experimentar um mundo iluminado e belo que todos construímos com a soma de todas nossas boas ações.

Sobre sua questão com qual corpo a alma voltará? Cada pessoa, mesmo aquela cuja conduta não foi das melhores, inevitavelmente também tem muitos méritos. Portanto em cada descida e encarnação, consegue retificar vários aspectos da alma. Na Ressurreição dos Mortos, cada corpo voltará com a parte da alma que foi retificada.Você poderá perguntar: se este for o caso, existirão então corpos somente com partes de alma, e não com a alma completa?

Saiba que qualquer fração da alma é composta de todas as partes, e cada uma destas tem sua estrutura independente, mesmo que ao pertencer a uma alma matriz, seja considerada somente um aspecto dela. [2]

III. Shabát Shalom le kulam – Chaguim Shabat – Segundo uma antiga lenda, D’us dirigiu-se ao povo de Israel dizendo: “Meus filhos, se vocês quiserem aceitar a Torá, e observar seus preceitos (mitzvot), garantirei a vocês o mais precioso presente.  E qual será este presente? – perguntaram os filhos de Israel.

O mundo vindouro (Olam Habá), foi a resposta. Diga-nos como é o mundo vindouro, retrucaram os filhos de Israel.  E D’us respondeu: Já lhes dei o Shabat.

 

O Shabat é apenas uma pequena amostra do mundo vindouro. Ao longo da história o Shabat sempre foi um ponto central na vida judaica. Desde os tempos bíblicos até hoje, é observado como dia de descanso e renovação espiritual. Serviu para trazer alegria às vidas que estariam cansadas de outra maneira. Famílias se reúnem no Shabat. Pais e filhos jantam juntos. Rezam juntos. Estudam e cantam juntos. Formam uma verdadeira família.

 

A essência do Shabat é expressa no livro do Exodo – Cap. 20 vs 8-10, “Lembrem-se do Shabat e mantenham-no santo. Seis dias vocês deverão trabalhar e realizar todos os seus deveres, mas o sétimo dia é Shabat para o Senhor, vocês não deverão trabalhar neste dia.”

 

Posteriormente, os rabinos acrescentaram que o Shabat é o caminho para a salvação pessoal. “Se o povo de Israel observasse pelo menos dois Shabatot consecutivos, todo o mundo seria redimido” – Shabat 118a).

 

As velas de Shabat – Duas velas são acesas, correspondendo às duas expressões “Zachor” e “Shamor” que são mencionadas nos Dez Mandamentos “Lembrar” e “Guardar” o Shabat.

 

Algumas mulheres acendem uma luz adicional com o nascimento de cada criança (pois cada criança traz mais luz ao mundo), e continuam acendendo-a através dos anos. As luzes simbolizam a alegria e serenidade que distinguem o shabat. É um dever e privilégio de toda mulher judia acender as velas do Shabat (e Iom Tov). É importante que toda menininha a partir dos três anos acenda sua própria vela. Recomenda-se que a mãe não acenda as suas primeiro, pois depois que uma pessoa acendeu as velas, o Shabat já se iniciou para ela, mesmo que seja antes do pôr-do-sol. Neste caso não poderá mais ajudar a menina a acender a sua vela se for necessário. Mesmo crianças novas sentem calor e alegria interior, quando ajudam a receber o Shabat com suas velas. Antes de acender as velas do Shabat, é um momento apropriado para observar a Mitsvá de Tsedacá, depositando algumas moedas na caixinha de caridade.

 

A noite de Shabat em casaShalom Aleichem – Este cântico de louvor, entoado na noite do Shabat, está baseado numa passagem talmúdica segundo a qual um anjo bom e um mau acompanham às suas casas todos que voltam da sinagoga sexta-feira à noite. Se eles encontram a casa preparada para o Shabat, a mesa festivamente posta, com velas reluzentes e toda família vestida em suas melhores roupas — o anjo bom diz:

“Que o próximo Shabat seja como este”, e o mau responderá, mesmo contra a sua vontade: “Amém, que assim seja”. Mas se por outro lado, acontece o contrário, e a casa não está preparada para receber a Rainha Shabat, o anjo mau diz: “Que o próximo Shabat seja como este”, e o bom, infelizmente, será obrigado a dizer “Amém”. [3]

 

Fontes: [1] http://www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/reencarnacao/home.html

[2] http://www.chabad.org.br/INTERATIVO/FAQ/reencarna.html

[3] http://mesillatyesharim.blogspot.com.br/2007/07/shabt-shalom-le-kulam.html

 

Coordenador: Saul S. Gefter



Uma resposta

  1. Muito bom! Vem ao encontro da minha percepção. Acrescentaria, apenas, a minha percepção; como leigo, de que as punições serão através do maior tribunal: a nossa consciência. Esta, quando se abrir, ao desencarnarmos-nos, nos fará ciente, dos vários ticuns – correções – ou a necessidade de outros, até o retorno, à nossa realidade: espíritos.

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