Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

Tempo de leitura: 18 Minutos

 

“Que toda (criatura que possua uma) alma louve ao D’us.”(Salmo 150)

 

  1. O que é Rolo de Torá? Por Rabino Mendy Hecht

A – Um Rolo de Torá é um Sefer Torá, que contém os Cinco Livros de Moshê (o Pentateuco) escrito à mão no hebraico original da direita para a esquerda, sem pontuações, vírgulas, pontos, números de capítulos ou versículos. É escrito sobre pergaminho, enrolado ao redor de duas hastes de madeira ornamentadas e adornados com acessórios especiais. É (geralmente) guardado na Arca de cada sinagoga, e rotineiramente lido em voz alta em todas as sinagogas. Em sua presença também oferecemos preces e bênçãos para todos aqueles que necessitam.

B – Um autêntico Rolo de Torá é uma obra prima de “fundir a cabeça” pelo elaborado trabalho manual. Compreende 62 a 84 folhas de pergaminho curado, curtido, raspado e preparado para cumprir exatamente as especificações haláchicas, contendo precisamente 79.847 palavras e 304.805 letras. O Rolo resultante leva de seis a doze meses para ser completado. Cada letra é rigorosamente escrita à tinta com uma pena sob as estritas orientações caligráficas de Ktav Ashurit (Escrita Ashurita). Embora a maioria dos Rolos de Torá tenham cerca de 60 cm de altura e pesem pelo menos 10 quilos, alguns são enormes e pesados, ao passo que outros são miniaturas, leves e com letras compactas.

C – Escrever um Rolo de Torá é a Mitsvá Positiva nº 181, e é obrigação de todo judeu adulto do sexo masculino. Como a maioria não tem tempo nem paciência e devoção nem o conhecimento das centenas (sim, centenas) de Halachot, leis judaicas, envolvidas na escrita de um Sefer Torá, contratamos um Sofer (escriba ritual) para escrever um para nós. No entanto, como isso custa uma fortuna, também, a maioria de nós apenas contribui com uma quantia pequena quando um novo Sefer Torá está sendo escrito para ajudar a cobrir os custos e simbolicamente comprar uma parte da propriedade da Torá, geralmente adquirindo uma letra, um versículo, ou mesmo uma parashá.

 

Como uma Torá é Feita? A respostat curta: Um Rolo de Torá é escrito à mão por um escriba com uma pena e tinta especial em pergaminho cuidadosamente preparado. A resposta do Askmoses: Um autêntico Rolo de Torá é uma obra prima de trabalho e talento.

Compreende entre 62 e 84 folhas de pergaminho curado, curtido, raspado e preparado segundo especificações haláchicas exatas, contendo precisamente 79.847 palavras num Rolo de Torá e 304.805 letras. O Rolo escrito à mão demora muitos meses para ser completado. Um escriba especialista escreve cada letra com uma pena, sob as intrincadas orientações caligráficas de Ktav Ashurit.

As folhas de pergaminho são então costuradas juntas com tendões para formar um longo rolo. Embora a maioria dos Rolos de Torá tenha cerca de 60 cm de altura e pese 10 a 12 quilos, alguns são enormes e bastante pesados, ao passo que outros são pequenos e leves.

O Pergaminho – Um Rolo de Torá somente pode ser escrito num pergaminho proveniente da pele de um animal casher. No entanto, o animal não precisa necessariamente ser abatido de maneira ritual. Desde que a espécie seja casher, o pergaminho pode ser usado para um Rolo de Torá.

O pergaminho feito de pele de peixe não pode ser utilizado para este fim; a pele de peixe exala um odor desagradável que não é apropriado a um Rolo de Torá. O pergaminho deve ser preparado com a intenção de ser usado para um Rolo de Torá. Portanto, um judeu deve cumprir ou, pelo menos, ajudar nesta tarefa. Antes de começar a escrever um Rolo de Torá, o escriba deve assinalar as linhas sobre o pergaminho com leves ranhuras. O utensílio usado para este fim não deve deixar qualquer marca colorida sobre o pergaminho.

A Tinta – Somente tinta preta é aceitável. Tinta de qualquer outra cor não é casher para um Rolo de Torá. Deve também ser permanente – não apagável. Nos tempos antigos, a tinta usada para escrever um Rolo de Torá era obtida através da fervura de óleos, alcatrão e cera, e coletando-se os vapores. Mais tarde, aquela mistura seria combinada com seiva de árvore e mel, e então seca e armazenada. Antes do uso, era misturada com suco de nozes de carvalho. Atualmente, os escribas preparam a tinta usando suco de nozes de carvalho e resina. A cor negra é conseguida acrescentando-se vários pigmentos.

A Pena – O escriba escreve com uma pena de ave ou re junco, enchendo sua ponta com a tinta. Uma pena de ferro não é adequada porque pode furar o pergaminho; o ferro com freqüência é usado para fazer armas de morte e destruição, e ambos se opõem ao intento da Torá.

A Caligrafia – As letras de um Rolo de Torá são grafadas na “escrita assíria”; as várias fontes e escritas nas quais o hebraico é comumente escrito ou impresso não são válidas. As linhas devem ser perfeitamente retas e iguais. Numerosas leis detalham a figura exata de cada letra, e se uma só letra estiver faltando ou, em alguns exemplos, com alguma falha ou borrão – o Sefer Torá inteiro não é casher. Um Rolo de Torá impresso, mesmo que as letras estejam na forma exigida, não é válido. Como o Sefer Torá incorpora a santidade de sua mensagem, deve concentrar-se exclusivamente em seu texto puro; quaisquer ilustrações ou enfeites artísticos são proibidos.

O Escriba – Tornar-se um escriba é tarefa que exige rigoroso estudo e treinamento – e grande habilidade. Certamente, uma pessoa que não estudou cuidadosamente as leis referentes à composição de um Rolo de Torá não pode ser escriba. Acima de tudo, porém, o escriba deve ser um homem piedoso e temente a D’us, dedicado à santidade do Sefer Torá.

O escriba não pode confiar em sua memória, mas deve copiar as letras, palavra por palavra, de um Rolo de Torá casher. Um escriba destro escreve somente com a mão direita; um escriba canhoto somente com a mão esquerda. O Sefer Torá, e especialmente os Nomes de D’us ali contidos, devem ser escritos com a maior pureza e devoção.

É costume, portanto, que o escriba faça uma imersão num micvê (piscina ritual) antes de começar seu trabalho. Ele também recita uma bênção no início de seu trabalho e antes de cada vez que escreve o Nome de D’us.

Por que as pessoas “compram” letras num Rolo de Torá? Resposta, Por Rabino Shlomo Chein) A última das 613 mitsvot ordenadas na Torá é que cada indivíduo escreva o próprio Sefer Torá completo. Nossos Sábios ensinam que o cumprimento dessa mitsvá é equivalente a receber a Torá no Monte Sinai.

  1. No caso de alguém não ser capaz de escrever um Sefer Torá por si mesmo (faltando o necessário conhecimento, tempo, meios, etc.) a pessoa pode contratar um escriba para escrever em seu lugar, ou fazer parte de um grupo que está contratando um escriba para escrever uma Torá para o grupo inteiro como uma comunidade. Se pelo menos uma letra for escrita em nome de cada indivíduo, eles todos cumprirão a mitsvá de escrever um Sefer Torá. Como cada letra é essencial para tornar a Torá casher, qualquer letra pode ser considerada aquela que completa a Torá – e completá-la é considerado como a tendo escrito por inteiro. 2. Todo judeu tem uma letra na Torá que corresponde à sua alma, a qual é a fonte do sustento daquela alma. Através da aquisição de uma letra num Sefer Torá, fortalecemos aquela conexão. 3. Porém ainda há mais. Ao participar na escrita de um Sefer Torá comunitário, nos unimos com centenas de milhares de judeus e fortalecemos a unidade judaica através da Torá, trazendo sobre nos paz e bênção. E a mitsvá final da Torá é especialmente auspiciosa durante os momentos finais de nosso exílio, aqueles tempos mais sombrios e caóticos. Certamente, essa mitsvá servirá como o grand finale e completará nossas realizações espirituais, pondo um fim a toda escuridão, conflitos e sofrimento para sempre, com a chegada de Mashiach (Messias), que seja em breve, em nossos dias! [1]
  2. Rolo da Torá – Quais são os acessórios para um Rolo de Torá? … Por Rabino Shlomo Chein – Quando o Rolo de Torá é completado (pergaminho escrito à mão), é adornado com numerosos acessórios, e juntos eles formam o Rolo de Torá como vemos na sinagoga. Os acessórios são: O Atzei Chayim: (Em hebraico, “Árvores da Vida; no singular – Etz Chayim) – são as duas hastes de madeiras presas em cada ponta do Rolo de Torá, ao redor dos quais é enrolado. Cada haste é longa o suficiente para se estender além do topo e da parte inferior do Rolo, e é usada para segurar o Sefer Torá e para rolar de porção em porção. O Cinto: … (Em idiche, Gartel) – é usado para amarrar dentro do manto, o Rolo de Torá para que a Torá permaneça fechada e segura sob sua cobertura de veludo. Quando um Sêfer Torá é considerado não-casher (…quando uma letra desbotou), e espera pela correção, seu cinto é atado ao redor da cobertura de veludo, pelo lado de fora, como um lembrete ostensivo de que está fora de uso. A Capa – (Em idiche, Mantel). Um tesouro valioso não é deixado exposto e vulnerável. Cobrimos o Sêfer Torá com múltiplas coberturas, vestindo-o numa “capa” antes de devolvê-lo ao seu lugar de honra na Arca e fechando a cortina.

A capa é um ornamento que tanto protege como embeleza a Torá, tipicamente feito de veludo e bordado com linha de ouro em seda e contas ornamentais. Nas comunidades sefaraditas o Sêfer Torá é colocado num estojo de madeira ou metal e não coberto por um manto de tecido. O Keter – (Em hebraico, coroa).

A Torá é nossa posse mais preciosa, e mostramos isso amorosamente. Nós a enfeitamos com uma coroa de prata, como um símbolo de nosso carinho e veneração. O keter é colocado sobre as hastes de madeira, que se estendem acima do Rolo. A Placa Peitoral – Em muitas comunidades o Sêfer Torá tem um item decorativo adicional: o peitoral ornamental. O peitoral é feito tipicamente de prata e gravado com símbolos ou inscrições judaicas. É preso a uma fina corrente, e quando o Sêfer Torá é fechado e coberto o peitoral pende dos Atzei Chaim na frente da Capa.

O Yad – (Em hebraico, mão). O yad é o ponteiro que o leitor da Torá usa para ajudar os outros a seguirem as palavras escritas à medida que ele lê. Geralmente feito de prata, o final do bastão tem o formato de uma mão com o dedo indicador estendido. Uma corrente presa ao outro lado pode ser usada para enrolar sobre o Sêfer Torá quando é posto de lado. [2]

  1. Leis e Tradições – O Sefer Torá – O Sefer Torá e Simchat Torá –

“Moisés recebeu a Torá no Sinai e a transmitiu à Joshua. Joshua aos primogênitos, os primogênitos aos profetas e os profetas aos homens do Templo”.(Mishná 1)

A Torá, ou os cinco livros de Moisés, são pergaminhos manuscritos de um só lado, costurados de forma contínua e enrolados em dois cabos de madeira, designados poeticamente de a “Árvore da Vida”. Esta referência baseia-se num antigo dito hebraico segundo o qual “A Torá é a Árvore da Vida para aqueles que a ela se dedicam”. O conjunto que engloba os cinco livros de Moisés, Gênese, (Bereshit), Êxodo (Shemot), Levítico (Vaikrá), os Números (Bamidbar) e Deuterônomio (Devarim) é chamado Sefer Torá, e é utilizado num dos importantes momentos da liturgia da sinagoga.

A confecção destes rolos, a particularidade de sua escrita, paginação e seus diversos ornamentos, constituem um mundo apaixonante do ponto de vista intelectual e estético. Desde a época de Ezra (IV século a.EC.), a Torá é lida em público três vezes por semana (nas segundas, quintas e sábados) nos dias de festa ou feriado religioso, em Rosh Chodesh (1º dia do mês) e nos dias de jejum.

Para que esta leitura pública seja realizada, precisam estar presentes no mínimo dez homens (Minyan) que já tiverem feito Bar-mitzvá. Antes da leitura, realizada em geral por um chazan (especialista em canto litúrgico), são chamadas de três a sete pessoas a recitar uma benção e/ou ler uma passagem.

A Torá é lida inteira durante um ano, sendo dividida em cinqüenta e quatro porções, cada uma chamada Sidrá. Sidrá significa “ordem” ou Parashá, que significa “pedaço” ou “passagem”. Em cada Shabat lê-se uma porção diferente. O início do ciclo é no Shabat após a festa de Simchat Torá (festa da Torá), que encerra as festas de outono, e o término do ciclo é em Simchat Torá do ano seguinte. Desta forma, de semana em semana, a cada sábado, a história bíblica acompanha o povo judeu desde a criação do mundo até a morte de Moisés e a entrada na “Terra Prometida”.

No mundo inteiro, todos os judeus lêem o mesmo texto, no mesmo dia. (De forma excepcional, pode haver uma leitura diferente durante algumas semanas em Israel, devido ao tempo das Festas ser mais curto que na Diáspora). Cada uma das cinqüenta e quatro porções tem um nome particular: é aquele da primeira palavra ou de uma das primeiras palavras do primeiro verso da Parashá. Assim, a primeira Parashá chama-se Bereshit, que é a primeira palavra do primeiro verso da Torá: “Bereshit bará Elokhim et hashamayim”. O Shabat o adquire ele próprio o nome da Parashá. Assim, quando falamos do Shabat Bereshit, estamos referindo-nos ao Shabat no qual é lida a “Parashá Bereshit”.

Durante o oficio público, após a leitura das bênçãos matinais, dos Salmos, do Shemá Yisrael e da Amidá são retirados os rolos da lei ou Sifrei Torá (plural de Sefer Torá) da Arca Sagrada (Aron Hakodesh ou Heichal), que se encontra no fundo da sinagoga, do lado oposto à entrada, voltada na direção de Jerusalém (Nordeste). Os homens beijam o Sefer Torá com seu talit e as mulheres “jogam” beijos para a Torá, à medida que esta vai passando.

A Arca Sagrada ou Aron Hakodesh – A Arca Sagrada é um armário que contém em geral diversos rolos da lei. Segundo o costume ashquenazita, os rolos são envoltos em mantos ricamente decorados, bordados com fios de ouro ou prata, sobre os quais podemos ler os nomes dos doadores e as ocasiões nas quais estes foram doados. Segundo o costume sefaradita, o rolo inteiro é envolto numa tira de seda pura e é colocado numa caixa cilíndrica. Esta caixa é feita de madeira entalhada ou de prata, composta de duas partes unidas por meio de dobradiças. Algumas destas caixas de metal são feitas à mão e gravadas com prata.

Os ornamentos – Placas de prata ou de outro metal são penduradas sobre o Sefer Torá. Estas plaquetas são intercambiáveis e têm gravados os nomes das Parashot da semana. Sobre os suportes de madeira encontram-se uma ou duas pequenas coroas, chamadas Rimonim (romãs). A romã, por ser cheia de sementes, simboliza a esperançosa bênção de grande fertilidade e aumento de população em Israel. A mão da Leitura ou Yad – O Yad (mão em hebraico), é uma espátula ornamental fina, feita de prata e presa a uma corrente de prata, com a forma de uma “mão”, cujo dedo indicador serve de “apontador”. Mede entre 20 a 25 cm de comprimento.

Este apontador é algumas vezes incrustado com pedras semipreciosas e adornado com uma coroa ou outro motivo, mas em geral é simples e liso, sem qualquer decoração. É utilizado para a leitura da Torá, dada a proibição de se tocar o rolo com a mão, além de ter a finalidade de indicar separadamente cada palavra do texto para que nenhuma delas seja esquecida por descuido.

A exposição da Torá ou Haguebaha – Um fiel é chamado a abrir a Arca Sagrada e levar os rolos até a mesa de leitura, situada no centro da sinagoga. Esta mesa é chamada de Tebá ou Bimá. O rolo é colocado sobre a Tebá, seus ornamentos são retirados e é aberto na porção a ser lida. Chama-se um fiel para levantar o rolo aberto e expô-lo perante todos os presentes na sinagoga. Para isso, esta pessoa faz um círculo completo, com os braços estendidos, suspendendo a Torá para o alto.

Esta apresentação pública é chamada Haguebaha, ou seja “elevação”. É uma grande honra ser chamado a ler ou recitar uma bênção, diante dos rolos abertos. Durante as grandes ocasiões, pode-se proceder a um leilão pela participação nas diversas cerimônias. Esta é uma maneira indireta de dar ao público a possibilidade de contribuir com as despesas de manutenção da sinagoga. É freqüente, também, o hábito de fazer uma doação quando se sobe à Torá.

 

Os instrumentos do escriba – Os livros da Torá, ou Sifrei Torá, são rolos feitos de couro curtido ou pergaminhado. Na época do Segundo Templo e até o início da Idade Média, a escrita era efetuada sobre couro preparado com peles de animais ritualmente limpos. Sobre estes rolos, constituídos de tiras de pele com tendões ressequidos, costurados uns aos outros, eram escritos os textos sagrados.

Para escrever os textos utilizava-se, no Oriente, uma planta entrelaçada e no Ocidente, uma pena de ganso. O escriba ou Sofer escreve à mão, seguindo um modelo para não se enganar. Utiliza uma tinta preta especial, a melhor e mais duradoura, que não se apaga facilmente e resiste ao desgaste do tempo. O pergaminho é dividido em páginas contendo quadrados, e as linhas são cuidadosamente riscadas com um estilete. Um erro comum pode ser apagado; porém, se for no nome de D’us, é considerado um pecado grave em qualquer circunstância e a página inteira deverá ser retirada e enterrada.

A estrutura do texto da Torá  – Neste texto não há nenhuma vogal. As palavras são formadas somente de consoantes, sem nenhuma pontuação, o que torna a leitura bastante difícil, fazendo-se necessária uma boa preparação para aprender a ler e cantarolar corretamente. Não há nada que assinale o ritmo ou a passagem de um ritmo a outro; pontos e vírgulas são totalmente ausentes. O fluxo dos vocábulos só é interrompido quando houver alguns espaços em branco, sem nenhum texto escrito.

O texto contido entre dois espaços em branco é chamado de Parashá, ou “passagem”. A separação entre os 5 livros da Torá é marcada por um espaço de quatro linhas. A comunidade da Síria segue as leis de Rambam na escrita do Sefer Torá. As letras da Torá devem ser embelezadas pelos taguim e cada coluna da Torá (com algumas exceções) deve começar com a letra Vav (chamado vavei amudim). Certas letras são ornadas de pequenos floreios, chamados de coroas. Sete das vinte e duas letras do alfabeto hebraico são ornadas, do lado esquerdo de três pequenos traços chamados Taguim (Tag, no singular) ou Ketarim (Keter, no singular), que significa “coroas”.

Para compreender o sentido destas coroas, deve-se salientar outro ponto relacionado às letras do alfabeto hebraico. O Rabino Tsadok Hakohen, de Lublin, especifica a diferença essencial entre a maneira de escrever os caracteres hebraicos e os latinos. Trata-se da posição da letra em relação à linha diretriz.

Na escrita latina, as letras se apóiam sobre uma linha inferior, enquanto que na escrita hebraica, a letra está pendurada, suspensa à linha superior. A linha diretriz é o limite da escrita; tem um sentido simbólico, porque traça o limite entre a escrita e o “além da escrita” – o conteúdo profundo da palavra. Nota-se que nenhum corpo das vinte e duas letras do alfabeto hebraico ultrapassa este limite. Na verdade, quase nenhuma, pois há uma única exceção, a letra Lamed.

Lamed é a raiz semântica de tudo que é relacionado ao estudo e ao ensinamento. Este ensinamento está contido no significado da própria letra Lamed, “aprender”. Aprender é penetrar neste movimento que ultrapassa a linha da escrita, é ir “além do versículo”. Lamed significa “estudar”. Desta letra, vem a palavra Talmud, livro chave do pensamento judaico.

No Talmud, encontra-se a chave da sabedoria, mas o verdadeiro saber somente é atingido através de muita perseverança, questionamento e dedicação. Um dos seiscentos e treze mandamentos da Torá é escrever um Sefer Torá ou tornar possível a publicação de um livro religioso de estudo. Assim, é comum encontrar nomes de pessoas ou famílias que contribuíram com a edição de um livro na primeira ou última página deste. Certas comunidades se cotizam para escrever um livro da Torá, comprando uma letra, um capítulo ou uma porção inteira.

Um Sefer Torá velho, os livros de reza velhos, as mezuzot e os tefilin danificados, não são destruídos. São enterrados respeitosamente em uma ala do cemitério judaico, ou reunidos em uma sala nas redondezas da sinagoga. Este local é chamado de Guenizá. A Guenizá do Cairo, descoberta no final do século XIX, revelou-se de uma importância inestimável para as buscas históricas.

Continha manuscritos muito antigos de numerosos textos sagrados e indicações muito preciosas sobre a vida, o comércio, os costumes e as viagens de numerosos judeus por um período bastante amplo. Na comunidade síria, os Sifrei Torá são colocados na Guenizá durante o mês de Elul e em outras ocasiões específicas. A Guenizá se encontra no cemitério da congregação. Os Sifrei Torá são examinados semanalmente pelo chazan ou pelo sofer, que revisa a porção semanal cuidadosamente antes do Shabat. Se, por infelicidade, alguém deixar cair um Sefer Torá, aqueles que puderem deverão jejuar e os que não puderem devem fazer tsedaká.“Hakol Talui Bamazal Afilu Sefer Torá Shebahechal – Tudo depende da sorte, até mesmo o Sefer Torá, que está na Arca”.

Cerimônia de dedicação de um novo Sefer Torá de acordo com os costumes da comunidade síria – O doador traz o Sefer de sua casa até a sinagoga, sob uma chupá, acompanhado de um grande cortejo de músicos, de sua família e amigos cantando ao longo do percurso. Ao chegarem na sinagoga, os Sifrei Torá pertencentes à sinagoga são retirados do Hechal e levados para dar as boas-vindas ao novo Sefer que está sob a chupá, junto com cânticos e músicas. A complementação das letras finais da Torá é ordenada, distribuindo-se a honra de escrever a letra a vários convidados de honra, junto ao escriba.

O privilégio de escrever as letras que concluem o texto da Torá é habitualmente reconhecido por uma contribuição à sinagoga por parte de cada um dos participantes, que foram honrados nesta cerimônia de “Siyum hasefer”. O novo Sefer é então colocado na Arca, juntamente com os outros. O pergaminho no qual o Sefer Torá é escrito pode ser descolorido antes da escrita ser feita. A pena de qualquer pássaro casher é utilizada na escrita da Torá. A forma específica das letras utilizadas para escrever o Sefer Torá da comunidade síria é conhecida como ketab velish.

 

Simchat ToráA festa de Simchat Torá é celebrada no oitavo dia de Sucót, em Israel, e na Diáspora no nono dia. Nesta festa é lida a última seção dos “Cinco Livros de Moisés”, concluindo o ciclo de um ano, que é iniciado em seguida com a leitura do primeiro capítulo do Gênese. Este procedimento ratifica a idéia de que o estudo da Torá é infinito. Chatan Torá (noivo da Torá) é o título dado à pessoa que é honrada com a leitura da seção conclusiva do Deuteronômio, enquanto Chatan Bereshit (noivo do Gênese) é o título dado àquele que é honrado com a leitura da seção inicial da Torá. Um dos aspectos que se sobressaem é a volta feita ao redor da sinagoga por sete vezes, Hakafot.

Todos dançam alegremente carregando os rolos de Torá. Cada adulto da congregação tem a honra de participar, carregando os rolos da Torá, seguido por crianças. Algumas comunidades têm o costume de colocar um candelabro aceso dentro da Arca após a remoção dos rolos, para que a Arca não fique totalmente sem luz. O candelabro simboliza a luz da Torá que ali se encontra constantemente. Em muitas comunidades judaicas, é hábito ler a Torá na noite de Simchat Torá.

Os costumes variam de acordo com o trecho lido e cada comunidade segue sua própria tradição. Na comunidade síria, durante o serviço de Yom Kipur, costuma-se anunciar quem terá a honra de ser os shushbinim e os chatanim para Simchat Torá. As aliyot para o dia de Simchat Torá no serviço de Shacharit são as seguintes: Cohen, Levi, Yisrael, Shushbin revii, Shushbin chamishi, Chatan Meona, Chatan Torá, Chatan Bereshit, e Chatan Maftir.Enquanto estes não sejam os únicos que recebem aliyot no dia de Simchat Torá, não é factível chamar a todos, mas serão chamados tantos quantos for conveniente, sendo que cada comunidade tem hábitos diferentes. Há uma aliyá especial para as crianças, que são cobertas pelos talitot e recitam a berachá em uníssono.

Para legitimar a aliyá, um rapaz com idade superior a de Bar-mitzvá também recita a berachá. A congregação então une-se entoando Yigdal, reza que introduz a retirada de todos os Sifrei Torá, que são colocados sobre as mesas. A partir deste instante, o rabino pega um Sefer Torá e começa a dançar na parte da sinagoga entre a Tebá e o Hechal. É dada a oportunidade a outras pessoas para dançar com a Torá, enquanto os pizmonim são cantados com muita alegria.

Bibliografia: Enciclopédia Judaica – Nathan Ausubel;  A Treasury of Sephardic Laws and Customs – Rabbi Herbert C. Dobrinsky; Growth through Torah – Rabino Zelig Pliskin; Jewish Art Masterpieces – Israel Museum; Symboles du Judaisme – Marc-Alain Quaknin [3]

 

Fontes:[1] Judaismo Sefaradi: http://judeusefaradi.blogspot.com.br/2010/11/o-que-e-rolo-de-tora.html

[2] Chabad: http://www.chabad.org.br/interativo/FAQ/rolo_tora.html

[3] http://leisecostumes.tripod.com/id22.html

Coordenador: Saul Stuart



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