Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

Tempo de leitura: 12 Minutos

 

Faça Luz, Não Escuridão

  1. Introdução – Havdalá, a cerimonia do fim do Shabat –

“Abençoado sejas Tu, ó Senhor nosso D’us, Rei do Universo, que distingues entre o sagrado e o profano, entre a luz e a escuridão, entre Israel e as nações, e entre o sétimo dia e os outros seis dias de trabalho”.

Havdalá é uma cerimônia profundamente poética, realizada sempre no final do Shabat e das festas. Marca a passagem de um dia sagrado para um dia de rotina, ou seja, do Shabat para o restante da semana. A Havdalá, palavra cuja origem vem do hebraico Le’Havdil – separar ou diferenciar – marca também o fim de todas as leis especiais e as proibições relativas ao Shabat. Após essa cerimônia, é permitido recomeçar a rotina semanal do viver cotidiano. A Havdalá é recitada em pé, ao anoitecer de sábado, após o aparecimento das primeiras três estrelas médias. Esta prece pode ser feita em casa ou na sinagoga e não requer um minian (quorum de dez judeus).

É um mandamento que tanto homens quanto mulheres devem seguir. Se não for possível realizar a cerimônia inteira, deve-se fazer, ao menos, a bênção abreviada (Baruch Hamavdil Ben Kodesh Lechol) antes de acender as luzes. Entre sombras e luzes produzidas pela chama de uma vela comprida e trançada, pronunciam-se quatro bênçãos, todas relacionadas com os nossos sentidos: a primeira sobre uma bebida – geralmente vinho; a segunda sobre especiarias ou uma planta perfumada; a terceira, sobre a luz da chama; e a quarta e última, em louvor a D’us, confiantes que Ele nos dará a força e a determinação para enfrentar os desafios da nova semana.

A cerimônia começa ou termina com uma canção que fala sobre Eliahu Hanavi (Elias). O profeta anuncia o Messias que, segundo a tradição, não virá no Shabat, pois este representa o sabor do mundo vindouro. Portanto, quando o Shabat termina, pode-se voltar a ter esperança de que o profeta Eliahu está por vir, prenunciando a época messiânica. O mundo, então, será transformado em um longo Shabat.

As bênçãos – As bênçãos são feitas em sequência específica, o que pode ser entendido como um aprimoramento, uma elevação espiritual: dos lábios para o nariz, daí para os olhos e, finalmente, para o cérebro. Isto é, enquanto o vinho deve ser tomado, as especiarias bastam ser aspiradas para elevar e alegrar nossa alma.

A vela nem precisa estar muito próxima para que sua luz derrame claridade, enquanto que para nos conscientizarmos do término do Shabat não se faz necessário nenhum dos sentidos, é como se nosso cérebro o compreendesse de pronto. Assim como o Shabat começa com o kidush – a bênção sobre o vinho – também termina, na Havdalá, da mesma forma.

O vinho tem uma conotação de alegria e de celebração. Existe o costume de encher o copo de vinho até transbordar, para atrair a bênção da abundância (Salmo 23). Apesar de ser a bebida mais adequada para a reza, se não houver vinho, pode-se usar qualquer líquido considerado importante, exceto água. Contrariamente ao do kidush, o vinho da Havdalá não é distribuído aos presentes, sendo unicamente ingerido, ao final da cerimônia, por aquele que pronuncia a bênção. Há também entre as diferentes comunidades o costume de esfregar vinho nas têmporas ou atrás da orelha. Os sefaraditas costumam passá-lo atrás da orelha, nas têmporas, na nuca e nos cantos dos bolsos, para trazer sorte.

A bênção sobre as especiarias é a segunda. Esta é a uma das raras vezes no ri-tual judaico em que se usam aromas. Desconhecemos a origem do costume, pois esta já se tinha perdido quando o Talmud foi escrito. Qual seria o significado deste ritual perfumado? Por que devemos inalar o aroma de especiarias (bessamim, em hebraico) no final do Shabat? Segundo os ensinamentos cabalísticos, na véspera do Shabat o homem recebe uma alma suplementar, que em hebraico é chamada neshamá yeterá.

Quando esta alma adicional retorna a seu mundo, ao término do Shabat, o homem, sentindo a perda, mergulha em profunda nostalgia e utiliza o perfume para se reerguer e reanimar o corpo. Diz o Zohar que “o espírito entristecido se reanima ao cheirar as especiarias da Havdalá”. Os místicos consideram a Havdalá uma proteção contra as forças negativas que voltam a atuar ao término de cada Shabat. Atualmente, costuma-se usar especiarias aromáticas para esta bênção, mas até o século XII usavam-se plantas aromáticas, como a mirta. Em algumas comunidades sefaraditas e orientais ainda se utilizam plantas perfumadas e água de rosas.

A terceira bênção é feita sobre a luz de uma vela trançada, que é acesa logo no início da cerimônia. Os presentes recitam a bênção sobre a luz, enquanto olham para seus dedos e unhas, o que significa que estão fazendo uso da luz, porque acender a luz sem um propósito constitui uma berachá levatalá – uma benção inútil.

A vela utilizada para a Havdalá tem mais de um pavio, pois é necessária uma combinação de no mínimo duas chamas, pois assim está escrito: “Boré me’oré ha-esh” – “Aquele que cria as luzes do fogo” (luzes, no plural). A vela trançada simbolizaria também a unidade encontrada no final do Shabat. Alguns místicos vêem a presença da mulher predominando na sexta-feira à noite; a do homem, no sábado de manhã, e os dois reunidos, no final do Shabat.

Há também uma interpretação que diz que as tranças da vela representariam os diversos tipos de judeus espalhados pelo mundo, todos parte de um mesmo povo. Os presentes observam através da chama da vela acesa os dedos e as unhas para lembrar a transparência do primeiro homem, em contraste com nossa opacidade. Segundo a tradição, Adão, o primeiro homem, descobriu o uso do fogo quando terminou o Shabat da Criação, pois D’us lhe dera duas pedras que esfregou, uma na outra, até que se fez o fogo. Ao ver o fogo, Adão fez uma bênção.

O costume de colocar os dedos curvados sob a luz permite que, ao se vislumbrar a sombra sobre os dedos, possa-se notar a distinção entre a luz e a escuridão. No caso das unhas, a explicação é que, com seu crescimento constante, são um símbolo de prosperidade para a semana que se inicia. O fogo da chama representa a criatividade física evitada durante o Shabat e que, nesse momento, volta a ser utilizada.

A quarta bênção, a prece da Havdalá – Birchat Havdalá – é finalmente recitada, louvando a D’us, que distingue entre o sagrado e o profano, entre a luz e a escuridão, entre Israel e os outros povos, e entre o sétimo dia – dia do descanso – e os seis dias de labor. Nesse momento, as pessoas se cumprimentam, desejando Shavua Tov, que seja boa e abençoada a semana que se inicia.

As bênçãos da Havdalá são quase idênticas entre os diferentes ritos, sefaradita, ashquenazita e iemenita. A frase inicial é a mesma – “Kos yeshu’ot essa”– “Levantarei o copo da salvação”. No entanto, as sentenças de introdução são diferentes: os sefaraditas pedem para serem abençoados com coisas boas e sucesso, os ashquenazitas recitam frases bíblicas contendo o termo yeshu’á, salvação, e os iemenitas rezam por uma boa semana. Os objetos utilizados nesta poética cerimônia, têm um grande valor simbólico.

Este simbolismo serviu de inspiração para os artesãos de arte judaica, levando à produção artística de uma grande variedade de peças lindíssimas e muito procuradas: os suportes de vela trançada de Havdalá e as caixas de bessamim ou hadás, utilizadas para armazenar as especiarias – tradicionalmente cravo da Índia ou folhas de mirta. Estas caixas, que aparecem pela primeira vez nos textos do século XV, são encontradas em diversos formatos, entre os quais, moinho de vento, flor, peixe e até locomotivas de vapor e carroças. São feitas de prata, madeira ou outros materiais. Na Alemanha e nos países da Europa Oriental, estas caixas são encontradas sob o nome de Bessamimbüchse ou Gewürzbüchse.

Bibliografia: Glustrom, Simon, The Language of Judaism; Quaknin, Marc-Alain, Symboles du judaïsme; Vatitpalel Chana, Sidur para a Mulher;Wigoder, G., The Encyclopedia of Judaism

  1. Havdalá – “Cerimônia de Despedida” – A partida do Shabat é uma mistura de despedida com ritual religioso. A palavra Havdalá significa, literalmente “divisão”, e se aplica ao ritual colorido realizado com vinho ou outra bebida (não água), uma vela acesa e uma caixa com especiarias.

Faz-se o vinho transbordar do cálice, o que é uma simbologia para representar a esperança de que a semana que entra será repleta de bençãos divinas. A luz representa o primeiro produto da Criação de D’us e a vela acesa simboliza o início da semana de trabalho. As especiárias nos lembram da fragrância da ‘alma adicional do Shabat’, que neste momento já partiu. [1]

III. Separação entre luz e trevas –  À medida que a Rainha Shabat parte e a escuridão se instala, a cerimônia da Havdalá nos enche de esperança e coragem. Havdalá significa “separação” (ou divisão ) – entre luz e trevas, entre o sagrado e o mundano. Havdalá é uma experiência multi-sensorial. Se houver um grupo, uma pessoa recita enquanto todas participam e dizem “amen”.

Você precisa de: um livro de orações,(Sidur), copo, vinho ou suco de uva, uma vela (com pavios múltiplos, se possível) {Caso não consiga uma vela de Havdalah, basta utilizar duas velas brancas de shabbat, juntas} e ervas aromáticas (cravos são populares) {Você pode utilizar: – Cravo, canela em pau, canela em pó, anis estrelado, erva doce} entre outras.A fragrância do bessamin reanima e acalma a alma quando o Shabat se despede

  1. Encha o copo até a borda. Erga-o com a mão direita (a menos que seja canhoto).
  2. Recite os versículos preliminares. Faça uma pausa quando chegar a: “Para os judeus houve luz, felicidade, júbilo e honra – assim seja para nós!” e faça com que todos recitem juntos em uníssono.
  3. Recite a bênção Hagafen sobre o vinho.
  4. Pouse o copo. Recite a bênção sobre as ervas aromáticas. Dê a todos a chance de aspirar. As fragrâncias são para reviver e acalmar a alma pela despedida do Shabat.
  5. Recite a bênção sobre a vela. Todos olham para as unhas e para a luz da vela. No primeiro sábado à noite após a Criação, a escuridão engolfou o mundo pela primeira vez. D’us deu a Adam a sabedoria para esfregar duas pedras e provocar o fogo – pelo qual agora agradecemos.
  6. Erga novamente o copo, e recite a bênção de conclusão da Havdalá.
  7. Sente-se e beba pelo menos 50 ml.
  8. Apague a vela no vinho que transbordou para o prato debaixo do copo. Muitos mergulham um dedo neste vinho e passam sobre as pálpebras (outros ainda tocam a boca, ouvidos, coração e bolso… para enxergar, ouvir, falar sentir coisas boas e ter sustento).

Notas Técnicas: Depois que o sol se pôs na noite do sábado, não comemos ou bebemos até depois da Havdalá. Se a sua refeição começou antes do pôr-do-sol, você pode continuar até a noite. Qualquer atividade proibida no Shabat ainda está proibida até Havdalá, ou até pronunciar a seguinte frase: “Baruch amavdil ben codesh le chol” – “Bendito seja Aquele que separa entre o sagrado e o mundano.”

O significado da havdalá  – Quando o Shabat inicia-se na sexta-feira ao entardecer, o recebemos com muita honra e alegria.

Durante mais de 25 horas nos é concedida uma alma adicional e o espírito ímpar de Shabat; agora que se aproxima o momento de sua partida, não podemos deixá-lo sair desapercebido. Sua retirada também é anunciada com vinho e bênçãos. O Shabat chega ao fim quando três estrelas são visíveis no céu, a olho nu. Porém ensina a Cabbalah, através do Zohar, que devemos esperar, mas trinta minutos, para não estarmos mandando embora tão brevemente a Shechinah Divina. Entretanto, antes de ser permitido fazer qualquer trabalho deve-se verbalizar o início da nova semana com as palavras: “Baruch, hamavdil ben côdesh lechol” (“Bendito é Ele que separa entre o sagrado e o comum.”)

Depois que terminar o Shabat é dita a havdalá para marcar a distinção entre o “sagrado e o comum”, entre o Shabat que finda e os dias da semana que se iniciam. A havdalá é pronunciada sobre um cálice de vinho, com uma bênção (suco de uva, cerveja e alguns outros líquidos também podem ser utilizados). Além desta, mais três bênçãos são recitadas. A primeira é dita ao aspirar a fragrância de especiarias que têm o poder de revigorar espíritos alquebrados; quando o Shabat parte, junto com ele se retira a alma espiritual adicional, e é nessa hora que nosso estado de espírito precisa ser estimulado e revivido.

A segunda é a bênção do fogo, recitada sobre à luz de uma vela trançada (combinando diversos pavios ou, na falta desta, juntando as chamas de duas velas ou dois fósforos). Uma das razões desta oração é a lembrança do fogo que foi aceso por Adam (Adão), esfregando duas pedras, quando vivenciou pela primeira vez a escuridão que ocorreu na noite do primeiro Shabat. Normalmente, quando uma bênção é pronunciada, esta deve ser seguida por um ato. Assim, após a bênção do fogo, erguemos as unhas à luz, para perceber o contraste da luz e da sombra refletido na palma da mão. A última bênção é a havdalá – o reconhecimento da separação entre os opostos.

A havdalá – O ritual que finaliza o Shabat: Segura-se na palma da mão direita um cálice de vinho ou cerveja (contendo no mínimo 86 ml), e recita-se a havdalá, de pé, em voz alta:

Hinê E-l yeshuati; evtach velô efchad, ki ozi vezimrat Y-a, A-do-nai, vayhi li lishuá. Ush’avtêm máyim bessasson, mimaayenê hayshuá. L’A-do-nai hayshuá; al amechá birchatêcha, sêla. A-do-nai Tseva-ot imánu; misgav lánu, E-lo-hê Yaacov, sêla. A-do-nai Tseva-ot, ashrê adam botêach Bach. A-do-nai hoshía; ha’Mêlech yaanênu veyom cor‘ênu. (Os presentes costumam recitar o seguinte versículo em voz alta e o condutor o repete:) Layhudim hayetá orá, vessim-chá, vessasson, vicar; ken tihyê lánu.

Eis que D’us é minha salvação; confiarei e não temerei, pois o Eterno é minha força e canção, e Se tornou minha salvação. Portanto, hauri com alegria água das fontes de salvação. A salvação cabe ao Eterno; Tua bênção está sobre Teu povo, para todo o sempre. O Eterno dos Exércitos está conosco; o D’us de Yaacov é nossa fortaleza, para todo o sempre. O Eterno dos Exércitos, louvado é o homem que confia em Ti. Salva, ó Eterno; responde-nos, ó Rei, neste dia em que chamamos.

(Os presentes costumam recitar o seguinte versículo em voz alta e o condutor o repete:) Para os judeus houve luz, alegria, júbilo e glória; que assim seja para nós.

Cos yeshuot essá, uvshêm A-do-nai ecrá. Savri maranan: Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu, Mêlech hao-lam… quando sobre vinho: …borê peri hagáfen (quando sobre cerveja: …shehacol nihyá bidvarô).

Elevarei o copo da salvação, e em nome do Eterno chamarei. Atenção Senhores: Bendito és Tu, ó Eterno, nosso D’us, Rei do Universo… quando sobre vinho: …que cria o fruto da vinha (quando sobre cerveja: …que tudo vem a existir por Seu verbo). Passa-se o cálice com o vinho para a mão esquerda e, na direita, segura-se a caixa contendo especiarias (como cravo e/ou canela), recitando a seguinte bênção: Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu, Mêlech haolam, borê minê bessamim.Bendito és Tu, ó Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que cria diversos tipos de especiarias aromáticas.

Depois de cheirar as especiarias, o condutor passa-as para os presentes. Cada um recita a bênção das especiarias antes de cheirá-las. Um dos presentes segura uma vela trançada acesa (ou, na falta desta, duas velas simples de modo a fazer uma só chama dos dois pavios) e o condutor, com o cálice novamente na mão direita, recita a bênção do fogo: Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu, Mêlech haolam, borê meorê haesh. Bendito és Tu, ó Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que cria as chamas do fogo.

O condutor coloca o cálice na mesa e dobra o polegar da mão direita debaixo dos quatro dedos, mirando o contraste da luz e da sombra refletido na palma da mão, provocado pelas chamas da vela. Ele repete o processo com os dedos da mão esquerda.

Os homens presentes fazem o mesmo (as mulheres geralmente não o fazem). Em seguida, o condutor pega novamente o cálice na mão direita e termina a havdalá. Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu, Mêlech haolam, hamavdil ben côdesh lechol, ben or lechôshech, ben Yisrael laamim, ben yom hashevií leshêshet yemê hamaassê. Baruch Atá A-do-nai, hamav-dil ben côdesh lechol. Bendito és Tu, ó Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que distingue entre santo e corriqueiro, entre luz e trevas, entre Israel e as nações, entre o sétimo dia e os seis dias de trabalho. Bendito és Tu, ó Eterno, que distingue entre o santo [Shabat] e o comum [os dias da semana].

Shavua Tov Lekulam! Uma Boa Semana a Todos!!! [3]

Fonte: [[1] Morasha, Edição 37 – Junho de 2002: http://www.morasha.com.br/shabat/havdala-a-cerimonia-do-fim-do-shabat.html [2] WebJudaica: http://webjudaica.com.br/chaguim/textosFestaDetalhe.jsp?textoID=108&festaID=26#

[3] Judaismo Na Web: http://judaismonaweb.blogspot.com/2013/02/havdalah.html

Coordenador: Saul Stuart Gefter



Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *