Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

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  1. Introdução – O que é Shavuot? – Este ano de 2014: 06 de junho (véspera) a 07 de junho até o pôr-do-sol. Shavuot é o segundo dos três maiores Dias Festivos (Pêssach é o primeiro e Sucot o terceiro), e vem exatamente cinqüenta dias após Pêssach. A Torá foi outorgada por D-us ao povo judeu no Monte Sinai há mais de três mil e trezentos anos. Todos os anos, neste dia, renovamos nossa aceitação do presente de D-us. A palavra Shavuot significa “semanas”: assinala a compleição das sete semanas entre Pêssach e Shavuot (o período do ômer), durante o qual o povo judeu preparou-se para a Outorga da Torá. Durante este tempo, purificou-se das cicatrizes da escravidão e tornou-se uma nação sagrada, pronta a entrar em uma aliança eterna com D-us, com a Outorga da Torá. Shavuot também significa “juramentos”. Com a Outorga da Torá, o povo judeu e D-us trocaram juramentos, formando um pacto duradouro de não abandonar um ao outro.

O que é a Torá?  

A Torá é composta de duas partes: a Lei Escrita e a Lei Oral. A Torá escrita contém os Cinco Livros de Moshê, os Profetas e os Escritos. Juntamente com a Torá Escrita, Moshê recebeu também a Lei Oral, que explica e esclarece a Lei Escrita. Foi transmitida oralmente de geração a geração e finalmente transcrita no Talmud e Midrash.  A palavra “Torá” significa instrução ou orientação.

A palavra “mitsvá” significa tanto mandamento como conexão. Há 613 mandamentos. Os positivos (faça), totalizando 248, são equivalentes ao número de órgãos no corpo humano. Os 365 negativos (não faça) são equivalentes ao número de vasos sanguíneos no corpo humano. Através do estudo de Torá e cumprimento das mitsvot conectamos a nós e ao ambiente a D-us. O propósito de D-us ao criar o mundo é para que santifiquemos toda a Criação, imbuindo-a de santidade e espiritualidade.

O papel dos filhos – Nossos sábios disseram que antes que D-us desse a Torá ao povo judeu, Ele exigiu avalistas. Os judeus fizeram várias sugestões, todas rejeitadas por D-us, até que declararam: “Nossos filhos serão nossa garantia de que o povo judeu prezará e observará a Torá”. D-us aceitou imediatamente, e concordou em dar a Torá.

Quando a Torá é lida na sinagoga em Shavuot, D-us na verdade está outorgando novamente a Torá. Portanto cada judeu, homem ou mulher, e especialmente as crianças, deveriam fazer todos os esforços para estarem presentes em uma sinagoga quando os Dez Mandamentos são lidos.

A Outorga da Torá – A Outorga da Torá foi um evento de grande alcance espiritual – que tocou a essência da alma judaica na ocasião e para todo o sempre. Nossos sábios a compararam a um casamento entre D-us e o povo judeu. Um dos muitos nomes de Shavuot é o Dia do Grande Juramento, (a palavra shavua significa também juramento). Neste dia, D-us jurou-nos eterna devoção, e nós também prometemos lealdade eterna a Ele.

Neste dia recebemos um presente do Alto, que não teríamos conseguido com nossas limitadas faculdades. Recebemos a habilidade de atingir e tocar o Divino; não apenas para sermos seres humanos refinados, mas seres humanos Divinos, capazes de se elevar acima e além das limitações da natureza.

Por que a Tora não foi outorgada em Israel?  

A Torá foi outorgada livremente, em um local público sem proprietário. Se tivesse sido outorgada na terra de Israel, as nações do mundo diriam que não têm uma porção nela. Qualquer povo que a deseje aceitar é bem vindo a fazê-lo.

Por que o Monte Sinai foi escolhido para ser o local para a Outorga da Torá? A resposta convencional é que a escolha do Monte Sinai foi para ensinar-nos a humildade, pois o Monte Sinai era a mais humilde de todas as montanhas. Se é assim, por que não foi dada em um vale profundo? Não seria esta uma lição mais forte sobre a humildade?

Daí aprendemos que um judeu deve ser capaz de distinguir entre ser orgulhoso e ser arrogante. A arrogância é de mau gosto. Orgulhar-se de suas raízes é uma virtude. Portanto, a Torá foi outorgada em uma humilde montanha.

Nomes adicionais de Shavuot – Shavuot é também chamado de Atsêret, que significa a Compleição, porque juntamente com Pêssach, completa uma unidade. Ganhamos nossa liberdade em Pêssach a fim de recebermos a Torá em Shavuot. Outro nome para Shavuot é Iom Habicurim, ou o Dia dos Primeiros Frutos.

Numa expressão de agradecimento a D-us, começando em Shavuot, cada fazendeiro na terra de Israel levava ao Templo Sagrado uma oferenda do 1° trigo, cevada, uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras que cresciam no campo. Finalmente, Shavuot é também chamado Chag Hacatsir, a Festa da Colheita, porque o trigo, o último dos grãos a ficar pronto para ser cortado, era colhido nesta época do ano.

Estudando na noite de Shavuot – Na primeira noite de Shavuot os judeus de todo o mundo cumprem o costume milenar de conduzir uma vigília que dura toda uma noite, dedicada ao estudo de Torá. Uma explicação para esta tradição é que o povo judeu não se levantou cedo no dia em que D-us concedeu a Torá, e foi necessário que o próprio D-us os despertasse. Como uma compensação por seu comportamento, os judeus adotaram o costume de permanecerem acordados durante toda a noite.

Os Dez Mandamentos – Shavuot é o dia no qual celebramos a grande revelação da Outorga da Torá no Monte Sinai, no ano 2448. Você ficou ao pé da montanha.

Seus avós e bisavós antes deles. As almas de todos os judeus de todos os tempos juntaram-se para ouvir os Dez Mandamentos, transmitidos pelo próprio D-us. Compareça à sua sinagoga para ouvir os Dez Mandamentos e reafirmar o pacto com D-us e Sua Torá.

O Livro de Rute – Em muitas sinagogas lê-se o Livro de Rute no segundo dia de Shavuot. Há vários motivos para este costume:  A – Shavuot é a data de nascimento e yahrzeit (dia de falecimento) do Rei David, e o Livro de Rute registra sua ancestralidade. Rute e seu marido Boaz foram os bisavôs do Rei David.  B – As cenas de colheita, descritas no Livro de Rute, são apropriadas ao Festival da Colheita. C – Rute foi uma convertida sincera que abraçou o judaísmo de todo o coração. Em Shavuot, todos os judeus foram como convertidos, tendo aceitado a Torá e todos seus preceitos.

Adornando a casa com folhagens e flores – Em Shavuot costuma-se enfeitar a casa e a sinagoga com frutas, flores e folhagens. O motivo disso é que na época do Templo Sagrado, os primeiros frutos da colheita eram oferecidos em Shavuot. Nossos sábios relatam também que, embora o Monte Sinai se localizasse em um deserto, quando a Torá foi outorgada a montanha floresceu e muitas flores brotaram. [1]

  1. Os Dez Mandamentos – Quando se menciona Assêret Hadibrot, mais comumente conhecida como os Dez Mandamentos, algumas pessoas possuem uma falsa impressão de que existem Dez Mandamentos que foram separados como sendo os mais importantes da Torá. Mas na verdade a tradução correta de Assêret Hadibrot é “Dez Falas” ou “Dez Ditos”, sendo que estes são dez princípios que incluem toda a Torá e seus 613 preceitos, inclusive estes dez. As próprias letras de Assêret Hadibrot demonstram este fato. Os Dez Mandamentos são escritos com 620 letras significando que D-us deu no Sinai os Dez Mandamentos que abrangem os 613 preceitos e as sete Leis de Nôe; 613 com 7 somam 620. É interessante notar que a soma dos números 6, 1 e 3, de 613 totaliza dez (Mandamentos), mostrando também que as 613 mitsvot incluem os Dez Mandamentos.
  2. Eu sou o Senhor, teu D`us, que te libertou da terra do Egito, da casa da servidão.
  3. Não terás outros deuses diante de minha presença. Não farás para ti imagem esculpida, nem nada semelhante ao que há nos céus acima, ou na terra embaixo, ou na água debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem os servirás; pois Eu Sou o Senhor, teu D`us – um D`us zeloso, que visita as iniqüidades dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração dos que aborrecem. Mas mostrarei bondade para centenas de gerações àqueles que Me amarem e cumprirem Meus mandamentos.
  4. Não jurarás pelo nome do Senhor teu D`us em juramento vão; pois D`us não absolverá ninguém que use Seu nome em vão.
  5. Lembra-te do dia de Shabat, para o santificá-lo. Por 6 dias deverás trabalhar e cumprir todas tuas tarefas, mas o 7° dia é Shabat de teu D`us; não deves fazer nenhum trabalho – tu, teu filho, tua filha, teu servo, tua serva, teu animal, e o peregrino que estiver dentro de teus portões – pois em 6 dias D`us fez os cues, a terra, o mar e tudo que neles está, e Ele descansou no 7° dia. Por isso abençoou o dia de Shabat, e o santificou.
  6. Honrarás teu pai e tua mãe, para se prolonguem teus dias sobre a terra. 


  7. Não matarás.
  8. Não adulterarás.
  9. Não furtarás.
  10. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
  11. Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, e seu servo, e sua serva, e seu boi, e seu asno, e tudo que seja teu próximo. [2]

 

III. Shavuot: Os Dez Mandamentos, por Rabino Avraham Cohen 

Shavuot, o 6° dia do mês de Sivan, é o dia mais importante do calendário judaico. Nessa data ocorreu a revelação inédita de D’us perante o povo de Israel e a outorga dos Dez Mandamentos, no Monte Sinai. Se esse dia histórico não houvesse ocorrido, não teríamos a Torá e seus mandamentos, as festas e preceitos religiosos. Seríamos um povo sem lei e sem propósito, sem princípios e sem a Terra de Israel. Enfim, seríamos pessoas sem rumo na vida. Os Dez Mandamentos foram entregues em duas tábuas de safira, conhecidas como as Tábuas da Lei. Porém, na realidade, a Torá contém 613 mandamentos, não apenas dez. Por que, então, diz-se que o Povo Judeu recebeu apenas os Dez Mandamentos no Monte Sinai? De acordo com Rav Saadia Gaon, os Dez Mandamentos sintetizam todos os 613 mandamentos do judaísmo. O grande sábio demonstrou em sua obra que todas as instruções contidas na Torá são ramificações dos Dez Mandamentos entregues no Monte Sinai. É, portanto, errôneo acreditar que a religião judaica se limita aos Asseret Hadibrot.

 

O Baal HaTurim, sábio que fez uso da Guimátria para revelar segredos da Torá, aponta que o texto dos Dez Mandamentos contém 620 letras hebraicas. Esse é o número de todos os mandamentos da Torá, pois além das 613 mitzvot há também 7 leis rabínicas que, como ensina o Talmud, foram ratificadas por D’us.

Estas incluem o acendimento de velas em Chanucá, a leitura da Meguilá em Purim, a ablução das mãos antes de comer pão e outras mais. É também interessante notar que a soma dos algarismos das mitzvot, 613 (6+1+3), equivale ao número 10, que faz alusão aos Dez Mandamentos. O número 620 também é o valor numérico da palavra hebraica Keter, que significa coroa. Isto nos ensina que aquele que cumpre todos os mandamentos da Torá merece uma coroa. No âmbito da Cabalá, Keter é a primeira Sefirá, que representa a Vontade de D’us, que se revela ao homem através dos mandamentos da Torá.

 

A Disposição dos Dez Mandamentos  – Os Dez Mandamentos foram dados por D’us em duas tábuas. Um dos motivos para essa divisão é que há uma relação intrínseca entre os ditames da tábua da direita e os da esquerda. A ordem na qual os Dez Mandamentos foram gravados nas tábuas tem um significado de máxima importância. O primeiro mandamento está relacionado ao sexto, o segundo ao sétimo e assim por diante. Eis a ordem dos mandamentos em cada tábua:

1) Eu sou o Eterno teu D’ us que te tirou do Egito; 2) Não terás outros deuses e estatuas diante de Mim; 3) Não jurarás no nome de D’us em vão; 4) Lembrarás e respeitarás o dia do Shabat ; 5) Honrarás teu pai e tua mãe; 6) Não matarás ; 7) Não cometerás adultério; 8) Não roubarás; 9) Não darás falso testemunho; 10) Não cobiçarás

 

O 1° e o 6° mandamentos estão relacionados, pois o fato de acreditarmos em D’us como o Criador do Universo, Aquele que dá a vida, leva-nos a respeitar os outros seres humanos. O homem foi criado à imagem de D’us. Desrespeitar o homem é desrespeitar a D’us. Portanto, devemos ter muito cuidado para não ferir outros seres humanos e, sobretudo, não tirar a vida de outra pessoa.

 

Há uma ligação clara entre o 2° e o 7° mandamentos, pois cometer idolatria é, essencialmente, um ato de adultério, isto é, de traição a D’us. No Monte Sinai, houve um casamento, firmou-se uma aliança eterna entre D’us e o Povo Judeu. Quem serve a ídolos, está sendo infiel ao Eterno. O mesmo vale para o casamento. A união de um homem e uma mulher simboliza o relacionamento entre D’us e o Povo Judeu. O judaísmo ensina que a fidelidade é de suprema importância e a violação do casamento é um pecado de extrema gravidade.

 

O 3° e o 8° mandamentos também são semelhantes, pois roubo e juramento em falso são, ambos, atos desonestos, cometidos em busca do proveito próprio ou do lucro indevido. Jurar em falso é tratar a D’us e à Sua palavra e Nome com leviandade; roubar é cometer um ato semelhante, pois, de certa forma, é o mesmo que negar a onisciência de D’us. Além disso, quando há suspeita de roubo, o tribunal pode exigir que um juramento seja proferido, o que pode levar o réu a jurar em falso.

 

O 4° e o 9° mandamentos também estão entrelaçados. O Shabat, o dia de descanso, é, como diz a Torá, um sinal através do qual testemunhamos que o Criador criou o universo físico em 6 dias e, no 7°, cessou de criá-lo. Aquele que conhece a Lei Judaica e sabe da importância do Shabat e, mesmo assim, o desrespeita, está testemunhando em falso contra o Criador. Há, finalmente, uma relação muito curiosa entre o 5° e o 10° mandamentos. É raro ver alguém cobiçar os pais de outros, pois isso é um fato imutável na vida do ser humano. Da mesma forma, não se deve cobiçar nada que não é seu. Assim como cada pessoa tem seus próprios pais que a trouxeram ao mundo, todo ser humano tem seu quinhão e sua missão na vida. Não se deve, portanto, cobiçar o que pertence a outrem.

 

Pensamento, fala e ação – Outro aspecto a ser analisado no estudo dos Dez Mandamentos é a sua seqüência. Os primeiros 5 mandamentos, contidos na 1° tábua, tratam do relacionamento entre D’us e o homem. Já os mandamentos da 2° tábua dizem respeito às relações entre seres humanos.

Há quem diga que o que mais importa no judaísmo é a fé em D’us. Isto, de fato, tem suma importância, tanto que é o primeiro mandamento; mas, certamente, não é o único. Crer em D’us não é o suficiente. A Torá, portanto, nos ensina que a crença em D’us deve ser traduzida por cada pessoa em pensamentos, sentimentos, palavras e atos corretos e bondosos em relação aos outros.

O 1° e 2° mandamentos tratam do pensamento: deve-se acreditar em D’us e rejeitar a idolatria. O 3° mandamento trata da fala: não se deve jurar em falso. O 4° e 5° dizem respeito a ações: os atos referentes ao respeito aos pais e o cumprimento das ordens de D’us, simbolizadas pelo Shabat, que é a aliança entre o povo de Israel e o Criador.

É interessante notar que na 2° tábua, é invertida essa ordem -pensamento, fala e ação. O 6°, 7° e 8° mandamentos tratam de ações que não devem ser cometidas: assassinato, adultério e roubo. O nono mandamento trata da fala: o não testemunhar em falso. O 10° mandamento diz respeito ao pensamento: não se deve cobiçar. A 2° tábua ensina que não é suficiente não ferir nem prejudicar os outros. Também não devemos falar ou pensar mal dos demais. De fato, o ser humano só consegue alcançar sua plenitude quando age corretamente nesses 3 campos: o do pensamento, da fala e da ação.

 

Uma revelação inédita – A revelação do Todo Poderoso no Monte Sinai foi um evento inédito – algo que nunca ocorrera antes e que nunca voltará a ocorrer. Desde a Criação, nunca houve manifestação Divina tão explícita. O povo de Israel muito se preparou para esse dia tão especial. Os judeus tiveram que se refinar, física e espiritualmente, para receber a Revelação Divina. Durante 3 dias, os judeus se purificaram espiritualmente. Foram proscritos o acesso ao Monte Sinai e as relações conjugais. Quando D’us Se revelou, 50 dias após o Êxodo do Egito, ouviram-se toques de Shofar e uma nuvem espessa cobriu a montanha. E quando D’us proferiu os Dez Mandamentos, o mundo inteiro entrou em total paralisação. Conta o Midrash que nesse momento nenhum pássaro piou, nenhuma ave voou, nenhum animal emitiu som algum; as ondas do mar pararam e o vento cessou. Todas as criaturas pararam para escutar as palavras do Eterno.

Mas se analisarmos os Dez Mandamentos, percebemos que as ordens de D’us são relativamente simples. O conteúdo parece desproporcional ao preparo que foi necessário ao povo e à reação do Universo frente à maior experiência de todos os tempos. Pode-se pensar que o Povo Judeu se decepcionou ao ouvir preceitos tão elementares e básicos, como “não matarás” e “não roubarás”. Talvez eles esperassem que D’us revelasse algo mais fantástico, completamente extraordinário – quiçá o desvendar dos segredos da Criação e de toda a existência.  Porém, o fato de os Dez Mandamentos serem relativamente simples é uma prova de que a Torá foi dada para ser seguida por mortais falíveis. A Torá e seus mandamentos se aplicam a uma vida vivida dentro da normalidade do mundo. O fato de nos ligarmos a D’us, seguindo Suas leis, não exige que vivamos uma vida sobrenatural.

A meta fundamental do recebimento da Torá é que suas leis e espírito permeiem todos os nossos atos, mesmo os mais cotidianos e mundanos.

 

Duas tábuas interligadas – Os mandamentos de nossa Torá estão divididos em 2 categorias: as mitzvot ben Adam laMakom – os mandamentos entre o homem e seu Criador; e mitzvot ben Adam leChaveró – os mandamentos entre o homem e os outros seres humanos. Um dos motivos pelo qual os Dez Mandamentos foram entregues em 2, e não em uma única tábua, foi para delinear essas duas categorias de mandamentos e enfatizar que ambas têm igual importância. O ser humano alcança a sua plenitude apenas quando age corretamente com seus semelhantes e com o Eterno. É impossível ser um bom judeu, ou se considerar observante, se não se trata os outros seres humanos com consideração, respeito e boas maneiras.

Por esse motivo, logo após a entrega dos Dez Mandamentos, as primeiras leis ensinadas ao povo foram aquelas relacionadas a indenizações e justiça social. Isto revela quão importante é para o Criador a responsabilidade financeira e o respeito em relação ao que pertence a outrem. Por outro lado, é errôneo acreditar que é possível ser um bom judeu sem preservar e respeitar os mandamentos referentes às relações entre o homem e D’us. A Torá relata que pouco após a outorga dos Dez Mandamentos, o povo de Israel pecou ao fazer um bezerro de ouro. Eles cometeram esse grave erro porque acreditaram que Moshé Rabenu havia falecido, pois, decorridos 40 dias, ele não havia voltado do Monte Sinai, como combinado.

Na realidade, o povo errou na conta e foi enganado pelo Yetzer Hará, o mau instinto. Os judeus, portanto, decidiram substituir Moshé por outro líder, o bezerro de ouro, que supostamente os guiaria. Este erro foi gravíssimo, pois violaram os dois primeiros Mandamentos que haviam acabado de receber: “Eu sou o Senhor, teu D’us” e “Não terás outros deuses”.  Está além do escopo desse artigo explicar os motivos, que na realidade não são simplórios, por trás desse erro. O que é relevante ressaltar é que o bezerro de ouro foi feito enquanto Moshé Rabenu encontrava-se no Monte Sinai, recebendo o texto da Torá, que estava sendo ditado por D’us. De repente, o Eterno ordena a Moshé que ele desça da montanha, pois o povo havia pecado produzindo um ídolo. Moshé, carregando as 2 tábuas da Lei, desce do Monte Sinai e se aproxima do acampamento de Israel.

No momento em que Moshé vê a estátua do bezerro de ouro e o Povo Judeu se curvando ao seu redor, ele quebra as tábuas. Pergunta-se: por que Moshé quebrou ambas as tábuas? É inegável que o povo pecou ao desrespeitar os mandamentos contidos na primeira delas, os que dizem respeito à relação entre o homem e D’us. Mas, por que quebrar a segunda, também? Talvez os que fizeram o bezerro de ouro respeitariam as leis entre o homem e seus semelhantes. Moshé, no entanto, sabia que ambas as tábuas eram indivisíveis, por isso assim agiu.

Quem não acredita em D’us e não O venera, mais cedo ou mais tarde acabará não respeitando, tampouco, as leis entre o homem e seus semelhantes. De fato, a história comprovou que a negação de D’us permite que o homem justifique tudo. Mesmo as civilizações culturalmente mais avançadas foram capazes de perpetrar e justificar o genocídio e a barbárie. Quando não há temor a D’us, o ser humano pode facilmente se tornar um animal irracional, sem piedade por outros, e pode banalizar à sua máxima expressão o valor da vida humana.

O grande sábio e cabalista, o Maharal de Praga (Rabi Judá Loew ben Betzalel (c. 1520- 17 de setembro de 1609EC), conhecido por ter criado o Golem, explica que a existência do ser humano é o resultado da união entre o corpo e a alma.

Ele explica que esse é mais um motivo pelo qual os Dez Mandamentos foram dados em duas tábuas. A primeira tábua – que trata de mandamentos entre o homem e o Criador – está relacionada à alma; a segunda tábua – que dita as leis entre os homens – simboliza o corpo. De acordo com o Maharal, assim como o ser humano não pode viver se não houver união entre corpo e alma, também a Torá só se sustenta quando é composta pelos mandamentos de ambas as tábuas. A beleza da Torá é revelada apenas quando há harmonia entre todas as suas leis. Todos os anos, em Shavuot, recitam-se os Dez Mandamentos nas sinagogas do mundo todo. Através dessa prática, estamos revivendo a Revelação no Monte Sinai, novamente aceitando os mandamentos e reafirmando não apenas o conteúdo de todos os preceitos, mas também as mensagens e ensinamentos que deles derivam. [3]

 

…Os Dez Mandamentos talvez sejam as leis escritas mais antigas para a perfeita convivência social. Ainda hoje, os códigos civis dos países civilizados se baseiam nos Dez Mandamentos. Sem dúvida é o maior legado do povo judeu à humanidade. Na antiguidade, a obediência ao pacto divino e às leis acabou caracterizando o povo judeu como diferente entre os demais. Resistiram a todo custo às tentativas forçadas de conversão, inclusive com o tributo da própria vida. Comunidades inteiras preferiram a morte à desonra do pacto de seus antepassados.

O fato ficou conhecido como “Al Kidush Hashem” — A Santificação do Nome de D-us. O apego às tradições e a firmeza com que se agarraram à sua fé, teria sido, para historiadores fidedignos, a causa do surgimento do ódio e do anti-semitismo.  Mas o fato é que um após outro, os conquistadores, de antigos persas, babilônios, assírios, egípcios, passando pelos romanos, gregos, otomanos, bizantinos caíram e desapareceram, enquanto o povo judeu continuou a existir. Da mesma forma, as tentativas de eliminação, as principais provenientes da Inquisição, dos nazistas e dos comunistas, não conseguiram quebrar o pacto. D-us manteve Sua palavra e Am Israel Chai — o povo de Israel vive. Até mesmo na atualidade, após esperar 2 mil anos para restaurar Eretz Israel, não cessaram as perseguições, nem o anti-semitismo ou o ódio. Os árabes que circundam Israel, mobilizaram seus recursos petrolíferos e políticos para que Israel não renascesse, moveram guerras e mais guerras para aniquilá-lo, mas perderam todas — alguém ainda duvida do Pacto Divino? — e agora ameaçam apagá-lo do mapa com bombas atômicas de um programa nuclear iraniano cantado como se para fins pacíficos fosse. Mas a fé persiste… [4]

 

Fontes: [1]Visão Judaica:  http://www.visaojudaica.com.br/Maio2008/artigos/5.html

[2] Chabad: http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1862117/jewish/Os-Dez-Mandamentos.htm

[3] Revista Morasha, Edição 64 – abril de 2009: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=793&p=0

[4] Visão Judaica: http://www.visaojudaica.com.br/Maio2007/artigos/editorial.htm

Coordenador: Saul Stuart Gefter



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