- Introdução: Os judeus já estavam presentes na China vários séculos antes do Séc. XX, que é o caso dos judeus de Kaifeng. Marco Polo atesta a presença judaica na China pelo menos desde o sec.VII . Tribos Perdidas de Israel e emissários do rei Salomão em busca de materiais valiosos para a construção do Templo de Jerusalém. Lendas abundam sobre as suas origens. Paradoxalmente a mais misteriosa e mais famosa dessas comunidades é sem dúvida a de Kaifeng, provavelmente porque foi a que durou mais na história, apesar de seu isolamento. A teoria aceite é que os judeus de Kaifeng, na China, chegam no Séc. IX pela Rota da Seda, vindos da Pérsia ou da Índia através do Afeganistão. Eles viviam em total isolamento, cultivando um judaísmo próprio, isto depois de terem sido afastados da influência dos rabinos do ocidente e fortemente influenciados pelo confucionismo. Até ao século XVI e sem nunca terem ouvido falar de cristianismo, entraram em contato com o padre jesuíta Matteo Ricci que veio para evangelizar a China e que tinha levado com ele um correligionário que os fez acreditar que a Virgem e o Menino eram a representação de Rebecca e Jacob. Após a destruição da última sinagoga em 1850, a comunidade judaica chinesa foi perdendo gradualmente toda a coesão. Pensasse que deixaram de existir como uma comunidade religiosa organizada, nos primeiros anos do sec. XX.
Hoje, não seriam mais do que cerca de 600 desses judeus em toda a República Popular da China, onde ainda vivem principalmente na cidade de Kaifeng. Como pertenciam a um status de minoria, nunca foram reconhecidos e continuam à procura da sua identidade, mesmo quando o governo lhes pede para declarar Hui (chineses muçulmanos) e Han (chinês). Sem textos religiosos, os judeus da China não têm o conhecimento real do Judaísmo e dependem das tradições familiares e da ajuda de judeus estrangeiros para tentar encontrar as suas raízes religiosas. Alguns começaram a emigrar para Israel para retornarem ás suas origens judaicas.
- Concessões judaicas – Entre os comerciantes ocidentais e empresários que se instalaram nos portos da China aberta ao comércio internacional na década de 1840, havia judeus. O nome simbólico desta abordagem é Sassoon instalado em Xangai com Elias David Sassoon (1818-1896) e Victor Sassoon (1881-1961), que construiram o actual Hotel da Paz sobre o Bund. Eles desempenharam um papel importante no desenvolvimento econômico de Xangai. O seu número foi estimado em cerca de 10.000 em 1930.
O destino da comunidade judaica em Tianjin é ilustrado pela Grande Sinagoga de Nanjing, na concessão britânica. A sinagoga foi inaugurada em 1938,encerrada em 1950,depois foi restaurada, mas só reabriu em 2008.
- O século XX – Em 1906, os judeus russos quando fugiram da guerra civil na Rússia mudaram-se para Harbin na Manchúria e a maioria foi para Xangai com a chegada dos japoneses. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial , quando os judeus fugiram da Europa em busca de um país hospitaleiro, a China recebe-os e aceita-os de bom agrado. Vinte mil refugiados da Áustria, da Polónia, da Rússia se estabeleceram no Distrito Hongkou, perto de Xangai . Hongkou era pobre, mas congratulou-se com os judeus. [1]
- Os judeus na China – Shanghai
Shangai – A primeira onda migratória judaica para Shangai (1843–1920). No mesmo tratado que cedeu a Ilha de Hong Kong aos britânicos como reparação pela Guerra do Ópio (1839-1842), Shangai e quatro outros Portos do Tratado foram abertos a mercadores estrangeiros. A História registra que o primeiro judeu a passar por Shangai foi um soldado britânico em 1841; entretanto, os primeiros colonizadores judeus não começaram a chegar em Shangai até 1848.
A primeira onda de migração judaica a Shangai é marcada pela chegada de judeus sefaraditas vindos de Bagdá e Bombaim. A mais bem sucedida destas – os Sassoon e os Hardoon – construíram muitos dos maiores impérios comerciais da cidade, e vários dos edifícios que são pontos de referência na cidade, incluindo a Sassoon House, o Hotel Metrópole, Grosvenor House, Edifício Embankment, Hamilton House e Mansões Cathay. Nos anos 1870, a comunidade oriunda de Bagdá alugou espaço para serviços religiosos, e em 1887 organizou a Sinagoga Beth El, que precedeu a Sinagoga Ohel Rachel.
- Sinagoga Ohel Rachel (estabelecida em 1920) – A Sinagoga Ohel Rachel assinalou a conquista mais marcante da primeira leva de imigração judaica em Shangai. Foi construída para acomodar a comunidade de judeus bagdalis (que no auge chegaram a 700), aberta em março de 1920, e foi consagrada por Rabino W. Hirsch a 23 de janeiro de 1921. Um edifício imponente, a Sinagoga Ohel Rachel acomodava 700 pessoas em seu santuário escavado. Pilares de mármore flanqueavam uma arca onde se podia entrar (que certa vez guardou 30 Rolos de Torá) e largos balcões com vista para o Santuário. O local abrigava a Escola Judaica de Shangai (o edifício construído em 1932 ainda permanece, à esquerda do pátio), um playground, biblioteca e micvê. Estava localizado em Seymour Road (atualmente o nº 500 de North Shaanxi Road), e no estilo português e espanhol de Bevis Marks (1701) e Sinagogas Lauderdale Road em Londres (1896).
Sir Jacob Elias Sassoon – judeu sefaradita bagdali – dedicou a sinagoga à memória de sua esposa Lady Rachel. Quando Sir Jacob faleceu alguns meses antes do término da sinagoga, a comunidade judaica decidiu dedicá-la a ambos, Sir Jacob e Lady Rachel. Sir Jacob também contemplou Hong Kong com a Sinagoga Ohel Leah, dedicada à sua mãe, e consagrada em 1900.
Hoje e para o futuro, a Sinagoga Ohel Rachel permanece o símbolo mais significativo do papel crucial dos judeus na história de Shangai. Ohel Rachel foi a primeira das sete sinagogas construídas em Shangai, e uma das únicas duas que permanecem de pé atualmente. A outra, a Sinagoga Ohel Moshê no distrito de Hong Kou, abriga um museu dedicado à história da experiência judaica em Shangai.
- A Segunda Onda de Migração Judaica para Shangai (1920-1937) – A Segunda Onda foi assinalada pela migração de milhares de judeus russos primeiro ao nordeste da China, e depois para Shangai. Este período também testemunhou um aumento substancial na prosperidade da comunidade dos judeus bagdalis, que organizaram obras de caridade para seus irmãos russos. Shangai progrediu subitamente nos anos de 1920, assim como as comunidades ashkenazita e bagdali, que tinham aumentado para uma população de aproximadamente 1700. Com suas atividades no ramo imobiliário e no mercado de capitais, estes judeus desempenharam papel ativo e importante no desenvolvimento de Shangai. A comunidade mantinha três sinagogas, duas bagdalis e uma ashkenazita, uma escola, dois cemitérios, um hospital, um clube, padarias, açougues, e muito mais. Fugindo dos pogroms e revoluções na Rússia, os judeus russos viajaram via Sibéria para cidades ao nordeste da China, como Harbin, Tianjin e Dalian. Mas não foi senão até a ocupação japonesa na Mandchúria em 1931 que os judeus russos mudaram-se para Shangai em grande número. Totalizando 4500 no seu auge nos anos 30, os judeus russos eram relativamente pobres se comparados aos bagdalis. Alguns passaram a trabalhar como pequenos mercadores, abriram pequenos cafés, ou empregaram-se como músicos que deixaram uma marca duradoura na sociedade local. Em 1928, os judeus russos convidaram Rabino Meir Ashkenazi, um membro do Movimento Chabad-Lubavitch, para liderar sua comunidade. Muito querido e respeitado por seus incansáveis esforços e devoção em prol de todos os judeus de Shangai, Rabino Ashkenazi liderou a comunidade até sua partida para New York em 1949.
- A Terceira Onda Migratória (1938-1952) – Durante a Segunda Guerra, a cidade de Shangai forneceu refúgio a uma Terceira Onda de judeus escapando da perseguição na Europa. Neste período, havia um grande contraste entre os refugiados apátridas que escapavam de uma Europa devastada pela guerra e os empresários judeus estabelecidos que prosperavam em Shangai. Agora, os sefaraditas e as comunidades comerciais russas juntavam esforços para providenciar alimentos, abrigo e vestuário para os refugiados europeus. A partir de 1938, aproximadamente 20.000 refugiados judeus da Alemanha e Áustria escaparam para Shangai, o único lugar no mundo que não exigia um visto de entrada. Dentre eles estava Michael Blumenthal, que viria a tornar-se Secretário do Tesouro dos Estados Unidos sob a administração Carter, e o falecido Shaul Eisenberg, que fundou e dirigiu o Conglomerado Eisenberg em Israel. Entre 1939 e 1940, cerca de 1000 judeus poloneses escaparam para Shangai, evitando a morte certa. Dentre esses, todos os professores e alunos da Yeshivá de Mir, 400 no total, sobreviveram por milagre e continuaram seus estudos na Sinagoga Beth Aharon, o único local religioso com espaço suficiente para acomodar a Yeshivá inteira.
Escaparam da Polônia através de Vilna, obtiveram vistos de viagem ao Japão com Sugihara Chiune, o cônsul japonês em Kovno, e finalmente conseguiram chegar a Shangai. Os japoneses invadiram a China em 1937, e mais tarde ocuparam a área ao redor de Shangai. De dezembro de 1941 a 1945, os japoneses internaram os judeus de Shangai que eram cidadãos de países Aliados. “Refugiados apátridas” oriundos da Alemanha, Áustria ou Polônia foram relocados a um gueto em Hong Kou, ao passo que aqueles originários de países neutros como Iraque e Rússia foram deixados em paz. Apesar dessas condições difíceis, a comunidade judaica adaptou-se de forma a manter sua cultura, tradição e estilo de vida social. Ao final da guerra, Shangai era o lar de cerca de 24.000 judeus. Após o término da guerra em 1945 e com a fundação da República Popular da China em 1949, a comunidade reduziu-se, com muitos judeus emigrando para Israel, Estados Unidos, Austrália e Hong Kong.
- A Comunidade Judaica contemporânea de Shangai – A abertura de Shangai ao comércio e ao investimento internacional atraiu um crescente número de judeus do mundo todo. A comunidade judaica de Shangai conta atualmente com 250 judeus – uma população que aumenta 30% a cada ano – morando e trabalhando na cidade, judeus vindos de 12 países diferentes, incluindo os Estados Unidos, Israel, França, Argentina, Venezuela, Rússia, Canadá, Austrália e o Reino Unido. Milhares de visitantes judeus passam regularmente pela cidade, incluindo homens de negócio e turistas. Em meados da década de 90, os líderes mais destacados da recém-estabelecida comunidade incluíam: David Buxbaum, Bruce Raya Feuer, Seth Kaplan, Robin Kaptzan, Elan e Michelle Oved e Albert Sassoon. Rabino Shalom Greenberg e sua esposa Dina, do Movimento Chabad-Lubavitch de New York, chegaram a Shangai em agosto de 1998. Sua energia e engajamento infundiram vida nova à crescente comunidade judaica. Implementaram serviços de Shabat e refeições casher, aulas de educação para crianças e adultos, treinamento para bar e bat mitsvá e almoços sociais. Os judeus de Shangai esperam pacientemente pelo dia em que poderão rezar regularmente na Sinagoga Ohel Rachel, e restabelecer o lindo edifício como centro da vida judaica.
- A onda do futuro – Em 1998 três líderes religiosos americanos, designados pelo Presidente Bill Clinton e convidados pelo Presidente da China, Jiang Zemin, viajaram à China. O prefeito de Shangai, Xu Kuangdi, prometeu a um dos líderes religiosos, Rabino Arthur Schneier, Presidente da Fundação Apelo à Consciência, restaurar a Sinagoga Ohel Rachel como um local histórico e abri-la ao público. O sr. Aba Toeug, antigo curador da sinagoga e atualmente morador de Israel, foi conselheiro na restauração. A cidade de Shangai despendeu mais de US$ 60.000 neste primeiro esforço de restauração.
Em junho e julho de 1998, a delegação presidencial à China, a Primeira-Dama Hillary Clinton, sua filha Chelsea e a Secretária de Estado Madeleine Albright visitaram a Sinagoga Ohel Rachel, acompanhados por Rabino Schneier. Num discurso pronunciado em 1º de julho de 1998, a então Primeira-Dama comentou: “Portanto, a restauração, [da Sinagoga Ohel Rachel] creio eu, é um ótimo exemplo de respeito pelas diferenças religiosas e um reconhecimento da importância da fé na vida das pessoas.”
Na ocasião, Rabino Schneier doou um Sefer Torá à sinagoga. A capa da Torá foi bordada com a seguinte mensagem comemorativa: “Em honra ao povo de Shangai que salvou vidas judaicas durante a Segunda Guerra Mundial e à visita do Presidente William J. Clinton e a Primeira-Dama Hillary Rhodam Clinton. Ao marco histórico restaurado, Sinagoga Ohel Rachel, Shangai. Ofertado por Rabino Arthur Schneier, Sinagoga Park East em New York, Marco Histórico irmão. 1º de Julho, 1999.”
No primeiro dia de Rosh Hashaná, em setembro de 1999, um milagre aconteceu. O governo de Shangai permitiu à comunidade judaica utilizar Ohel Rachel por 24 horas. Esta seria a primeira vez desde 1952 que um serviço religioso foi celebrado na Sinagoga. Celebraram-se os serviços matinal e noturno, com o comparecimento de cerca de 120 judeus. Esta foi a maior assistência que a moderna comunidade judaica em Shangai já tinha visto! Subseqüentemente, os judeus de Shangai tiveram permissão para usar a Sinagoga Ohel Rachel em dezembro de 1999 e abril de 2000, quando a comunidade celebrou Chanucá e Pêssach. Compareceram setenta e cinco e cem judeus, respectivamente.
- A História Judaica de Shangai em ordem cronológica – por Seth Kaplan
1841 – Um soldado britânico é o primeiro judeu a pisar em Shangai. 1842 – Termina a Guerra do Ópio. O Tratado de Nanjing abre Shangai como um Porto do Tratado. 1844 – Elias Sassoon faz a primeira visita a Shangai. 1848 – O primeiro judeu como residente permanente. 1850 – David Sassoon, Filhos e Cia. estabelecem um posto permanente em Shangai. 1862 – O Cemitério Israelita (mais tarde, “Mohawk”) abre atrás do local do futuro autódromo. 1887 – Início da Congregação Beth El. 1890s a 1917 – Pogroms na Rússia encorajam milhares de judeus a emigrarem para o noroeste da China. 1900 – Shearit Israel é consagrado. 1907 – A sinagoga russa Ohel Moshê abre na Concessão francesa. 1912 – O Clube Recreacional Judaico é estabelecido. 1917 – Revolução Russa. 1920 – Ohel Rachel abre para serviços. 1927 – Beth Aharon é aberta. 1927 – Ohel Moshê move-se para seu local atual em Hong kou. 1930 – A Casa de Sassoon (hoje Hotel Peace) é completada. 1930s– Os judeus se destacam nas áreas da música e medicina. 1930s– Sir Victor Sassoon constrói os maiores edifícios da cidade. 1931 – Ocupação japonesa na Mandchúria leva muitos judeus a fugirem para Shangai. 1932 – A Escola Judaica de Shangai muda para o complexo Ohel Rachel. 1937 – Os japoneses invadem a China, ocupando a área ao redor de Shangai. 1938 – A “Noite dos Cristais” na Alemanha leva muitos judeus alemães e austríacos a fugirem para Shangai. 1939 – A Alemanha invade a Polônia. 1939 – É fundada a Escola Kadoorie para refugiados. 1940 – Os judeus poloneses na Lituânia conseguem vistos para o Japão com Chiune Sugihara. 1941 – Os últimos refugiados de Kobe chegam a Shangai, incluindo a Yeshivá de Mir. 1941 – A Nova Sinagoga Russa é consagrada. 1941 – É aberta a Sinagoga McGregor para refugiados alemães em Hongkou; 1941–45 – Judeus com passaportes dos Aliados são enviados a campos de detenção. 1943–45 – É estabelecida uma área para Refugiados Apátridas em Hongkou. 1943–45– Ohel Rachel é ocupada pelos japoneses: os serviços mudam para a Casa Toeg. 1945 – Termina a Segunda Guerra: a comunidade reocupa Ohel Rachel. 1949 – Os comunistas vencem a Guerra Civil Chinesa.
1952 – Ohel Rachel entregue às autoridades; a última Torá é transferida para Israel. 1950s– Autoridades estabelecem um Conselho Comunitário Judaico único e unificado. 1950 – Todas as sinagogas são fechadas. 1960s– O número de judeus é reduzido a algumas dúzias; as atividades são realizadas na Casa de Abrigo. 1966 – Fechamento de todas as organizações religiosas e estrangeiras no início da Revolução Cultural. 1981 – O primeiro residente judeu permanente segue-se à criação da política de portas abertas. 1982 – Falecimento do último membro da Comunidade Judaica anterior. 1990 – Primeiras atividades organizadas pelos judeus residentes contemporâneos. 1998 – O Secretário de Estado e a Primeira Dama dos Estados Unidos visitam a Sinagoga Ohel Rachel. 1998 – O Primeiro Rabino da recém-criada comunidade. 1999 – É concedida à Comunidade Judaica de Shangai o uso ocasional de Ohel Rachel.
- Chabad em Shangai – A China foi uma das poucas nações a dar as boas vindas aos judeus que fugiam da perseguição nazista, e muitos se dirigiram a Shangai. Com a Revolução Comunista, porém, a maioria deixou o país. Agora, décadas depois, uma pequena comunidade judaica é liderada por Rabi Shalom Greenberg e sua esposa, Dena. Eles estabeleceram o Chabad de Shangai, em 1998. [2]
- Kaifeng – Um apanhado da História dos Judeus em Kaifeng, escrito pelo Professor Xu Xin
Os judeus começaram a chegar ao solo chinês em época muito remota. Historiadores e eruditos no campo dos Estudos Judaicos concordam quase unanimemente que os judeus chegaram à China não depois de 600 EC, embora alguns insistam que sua chegada aconteceu muito antes. Durante a Dinastia Tang (618-907), os judeus eram bastante ativos em muitas cidades chinesas. Um dos testemunhos mais antigos existentes sobre sua presença data do início do século oitavo. É uma carta comercial, escrito em judeu-persa, descoberta por Sir Aurel Stein em Khutan, um posto avançado do Império Chinês na famosa Rota da Seda.
Entretanto, devido à falta de sólida evidência histórica, não se pode provar que quaisquer comunidades judaicas permanentes tenham sido estabelecidas na China durante este período. A maioria dos judeus que foi à China por volta desta época, podemos presumir, era de mercadores e homens de negócios. Viajavam entre o oriente e o ocidente com propósitos comerciais, sem desejo de viver permanentemente na China. A comunidade judaica na cidade de Kaifeng era talvez a única exceção a este padrão. Kaifeng, conhecida como Bianliang durante o período em que foi capital da Dinastia da Canção do Norte (960-1126), foi uma das cidades mais antigas da China. Situada na margem sul do Rio Amarelo, próxima à sua junção com o Grande Canal, Kaifeng era um ponto de encontro para contatos comerciais com a Ásia Central, e países mais longínquos a oeste.
Os judeus de Kaifeng chegaram à cidade com as famílias e nunca mais a deixaram, depois de se estabelecerem e lá começarem a vida. As origens da comunidade remontam ao século onze.
Acredita-se que o grupo original de colonizadores incluía cerca de setenta clãs judaicos, totalizando talvez quinhentas pessoas. Os judeus de Kaifeng estavam muito envolvidos na economia local, e levavam também uma vida comunitária ativa.
Em 1163 foi construída uma sinagoga, que foi reconstruída muitas vezes no decorrer dos séculos, até ser finalmente destruída em meados do século dezenove. Os judeus engajaram-se em todas as profissões e negócios praticados na cidade, e a comunidade prosperou bastante.
Durante a Dinastia Ming (1368-1644), o judaísmo de Kaifeng atingiu o auge, com uma população de aproximadamente cinco mil. Seu status econômico e social era mais elevado que jamais o fora antes. Uns poucos judeus atingiram posições proeminentes no funcionalismo público e no exército. Embora a influência da cultura chinesa fosse óbvia e inevitável, as tradições e costumes judaicos foram bem preservados e bastante seguidos, de forma geral. Grande parte da história e vida judaicas em Kaifeng foram descritas em três estelas erigidas no pátio da sinagoga nos anos de 1489, 1512 e 1663, e passadas às gerações posteriores. Os anos seguintes assistiram ao gradual declínio da comunidade. Casamentos mistos, assimilação, isolamento do resto do mundo judaico, desastres naturais (por exemplo, as destrutivas enchentes do Rio Amarelo), e guerras, todos estes fatos cobraram seu tributo.
Em meados do século dezenove, o último rabino faleceu sem deixar sucessor, diminuiu o número de freqüentadores da sinagoga, e a comunidade praticamente deixou de existir. Apesar disso, permaneceu viva a identidade judaica de muitos indivíduos cujos ancestrais tinham sido membros da comunidade. Até mesmo na última década do século vinte, os jovens descendentes dos judeus de Kaifeng ainda se consideram judeus, e compartilham um forte senso de identidade étnica. Estima-se que existam atualmente entre quinhentas e mil pessoas na China que se consideram descendentes da histórica comunidade judaica de Kaifeng. Alguns ainda moram em Kaifeng, mas muitos se encontram em outras cidades chinesas.
Embora os judeus de Kaifeng vivessem pacificamente lado a lado com seus vizinhos chineses por centenas de anos, atraíram pouca atenção dos escritores e eruditos chineses. Dentre as razões para este fato, muito provavelmente, está o número enorme da população chinesa. Em meio a milhões e milhões de chineses, um grupo totalizando apenas uns poucos milhares, não importa quão singular seja seu estilo de vida, era um minúsculo fragmento que passou quase despercebido. Por causa disso, fontes chinesas clássicas mal mencionam os judeus de Kaifeng. Entretanto, sua existência nesta terra tão distante atraiu a atenção dos acadêmicos ocidentais depois que as notícias do encontro entre um judeu de Kaifeng e um missionário jesuíta em Pequim em 1605 espalhou-se pela Europa. Desde então, o estudo e o interesse por esta comunidade judaica jamais cessou. Atualmente, existem uns 100 descendentes de judeus em Kaifeng que reivindicam “identidade” judaica, como se pode reconhecer pelos seus sobrenomes sino-judaicos.
Na sua maioria, estão completamente assimilados, e ignoram as tradições judaicas básicas. Um extrovertido descendente de judeu de Kaifeng é o Sr. Moshe Zhang Xingwang que leva turistas judeus para conhecer Kaifeng, e os apresenta a outros descendentes de judeus de Kaifeng.
- História Judaica em Kaifeng
58EC-75 – Primeira evidência de judeus na China durante o reinado Mingdi do Imperador Han. 881 – Geógrafos árabes mencionam os judeus em Cantão. 960-1126 – Dinastia Canção do Norte (Northern Song); os judeus se estabelecem em Kaifeng pela primeira vez. 1163 – A primeira sinagoga consagrada em Kaifeng. 1279-1368 – Dinastia Yuan; os judeus assumem cargos na burocracia mongol. 1286 – Marco Polo faz a primeira referência ocidental a judeus na China. 1368-1644 – Dinastia Ming: os judeus atingem o número de 5000, e alguns obtêm cargos oficiais. 1489 – Estela registra história da Comunidade Judaica Kaifeng. 1512 – Segunda Estela. 1605 – Jesuíta Matteo Ricci encontra Kaifeng Jew Ai Tian em Beijing
1642 – Uma enchente destrói a sinagoga. 1644-1911 – Dinastia Qing; comunidade judaica Kaifeng em declínio. 1663 – Terceira Estela – perdida, mas o texto foi preservado. 1679 – Quarta Estela. 1722 – Padre Jean Paul Domenge esboça a Sinagoga Kaifeng. 1810 – Morre o último Rabino, a comunidade perde conhecimento do hebraico. 1841 – As enchentes do Rio Amarelo levam pobreza à comunidade. 1851-66 – A Sinagoga está destruída, desmantelada
1866 – Visita de W.A.P. Martin. Apenas 300 a 400 judeus sobrevivem, empobrecidos
1899 – Vigário apostólico adquire a Torá e outros documentos menores. 1901-2 – Judeus Kaifeng viajam a Shangai e encontram líderes como E. Ezra Judeus de Shangai e Londres angariam fundos para a Sinagoga Kaifeng. Os fundos para a sinagoga Kaifeng são enviados para ajudar os judeus na Rússia. 1910-33 – Bispo William Charles White vive em Kaifeng
1911 – Bispo White adquire as Estelas, com a condição de que jamais saiam da província de Henan. 1914 – A Missão do Bispo White compra o local da sinagoga. 1923 – Escrituras hebraicas encontradas à venda no mercado. 1924 – A Sociedade Shangai envia delegados a Kaifeng para oferecer ajuda. 1952 – Judeus de Kaifeng enviam delegação para participar das celebrações do Dia Nacional, mas não recebem status oficial de minoria. [2]
III. China comemora a libertação do gueto de Xangai, ocorrida há 70 anos
A China será pela primeira vez anfitriã de um evento em comemoração à libertação do gueto de Xangai, ocorrida há 70 anos.
O evento, feito em parceria com Congresso Judaico Mundial, acontecerá no final de 2015. “É nosso dever promover a amizade, o intercâmbio, a cooperação e a compreensão mútua entre o povo chinês e o povo judeu. Ambos sofreram nas mãos das forças fascistas, mas conseguiram a vitória final após uma luta inquebrantável. Vamos comemorar este momento histórico”, disse o ministro chinês para Assuntos de Ultramar, Qiu Yuanpin. “A China é um dos principais atores no cenário internacional. É do maior interesse para os judeus estabelecer relações mais estreitas com Pequim”, afirmou Robert Singer, CEO do Congresso Judaico Mundial. O gueto de Xangai abrigou cerca de 23 mil refugiados judeus na China ocupada pelos japoneses, até sua libertação em 3 de setembro de 1945.
Com aproximadamente um quilômetro quadrado, era uma das áreas mais pobres e movimentadas da cidade. Os japoneses impuseram restrições crescentes, mas o gueto não foi murado, e os chineses que residiam na área, cuja condição de vida era muitas vezes tão ruim quanto a dos judeus, não deixaram o local. Famílias judias e instituições de caridade judaicas americanas doaram abrigo, comida e roupa. “Vamos lembrar oficialmente pela primeira vez uma parte da história do Holocausto que tende a receber menos atenção”, disse Ronald Lauder, presidente do CJM. “Isso é mais um passo no sentido de reforçar os laços entre os chineses e o povo judeu.” O evento será marcado pela presença de sobreviventes do gueto e 100 representantes de comunidades judaicas de todo o mundo. [3]
- Shavei Israel abre um novo centro em Kaifeng, China, Por Brian Blum
O lugar chamado de “Rua do Estudo da Torá” em chinês foi, durante séculos, o centro da vida judaica na antiga capital da China, Kaifeng. Mas desde 1850, quando a sinagoga foi fechada e o último rabino morreu, o centro “Rua do Estudo da Torá” estava mais para uma lembrança dos dias de glória do que um lugar vivo e vibrante.Agora, graças a Shavei Israel, a “Rua do Estudo da Torá” tem o potencial de retornar, embora ainda modestamente, a parte de sua antiga glória. No mês passado a Shavei Israel abriu um novo centro para os judeus de Kaifeng em um apartamento pequeno (mas bem decorado) com dois andares e um belo jardim que é caracterizado por uma árvore de ‘Grapefruit’, ao lado da rua com o famoso nome judeu.
O novo centro inclui uma grande sala para orações e aulas, uma sala para receber os visitantes da comunidade, uma cozinha, uma sala de jantar e uma sala separada para estudo on-line via Skype. O centro é dedicado à memória do Sr. Harry Rosenthal, avô do diretor da Shavei Israel, Michael Freund. Rosenthal foi um líder sionista americano e um homem de negócios que viajava para a China com frequência, fazendo com que Freund criasse um interesse no país desde uma idade precoce. O novo centro em Kaifeng é notável por uma outra razão: repara um cisma que afetou a comunidade nos últimos anos, no momento que haviam duas escolas judaicas operando simultaneamente para uma pequena comunidade de 150 pessoas, concorrendo, assim, pelos alunos. Agora, existe apenas uma escola para todos. Eran Barzilay é o coordenador da Shavei Israel para a comunidade judaica de Kaifeng. Um israelense que fala chinês e passou o ano de 2010, em Kaifeng como parte de seus estudos no Departamento de Estudos do Leste Asiático da Universidade Hebraica.
Eran descreve algumas das atividades que aconteceram no centro desde a sua criação: “A comunidade se reúne toda sexta à noite para as orações de Shabat seguidas de uma refeição em grupo. Aos domingos, há aulas por Skype, atualmente de Pirkei Avot com Ari Schaffer, que visitou Kaifeng como convidado da Shavei Israel e ensina o grupo, diretamente dos EUA.” … Existir, existe, mas já teve uma época muito maior. Alcançou cerca de 5.000 pessoas em seu auge, durante a Idade Média. Judeus chegaram à Kaifeng, originalmente, como mercadores da Pérsia ou do Iraque, através dos negócios pela ‘Rota da Seda’. Mais informações sobre a comunidade e sua história pode ser encontrada em nosso site.
Barzilay, em seu posto na Shavei Israel, divide sua atenção entre as necessidades da comunidade de Kaifeng e os judeus chineses que viajaram para Israel. Isso inclui sete jovens que tiveram seus processos de conversão em Israel recentemente concluídos. Agora, estes sete homens voltarão à China para as primeiras férias desde que começaram o processo formal de conversão ao judaísmo com a ajuda de Shavei Israel há mais de três anos atrás. Voltar para a China não é tão fácil quanto parece pois, a China não aceita a dupla cidadania, e assim cada um deles deve candidatar-se a um visto de turista padrão.
Para a China, eles são agora 100% cidadãos israelenses. A maioria pretende ficar um mês mas um deles deverá ficar seis meses para estudar para ser cozinheiro chefe e abrir um autêntico restaurante de comida chinesa em Israel. A maioria deles servirá algum tempo no exército de Israel quando retornarem ” eles aguardam ansiosamente por isso”, disse Barzilay. ” Eles vêem o exército como uma maneira de se tornar “mais israelenses” e, claro, melhorar o hebraico”.
A comunidade judaica de Kaifeng não é particularmente rica hoje. “Kaifeng, em geral, é uma cidade pobre”, diz Barzilay. A maioria dos judeus aqui têm pequenas lojas têxteis, alguns trabalham no governo e um deles trabalha em um banco. Também não é fácil praticar o judaísmo em público. A universidade local de Kaifeng oferece especialização em judaísmo mas, diz Barzilay, “Os alunos desta especialização não estão autorizados a reunir-se com os judeus de Kaifeng. Na verdade, é até ilegal para eles dizerem que são judeus.
Há 56 minorias na China, mas o judaísmo não é uma delas”. Barzilay diz que sua experiência com a comunidade de Kaifeng o deixou mais observador, religiosamente. Ele conta a história de um membro da comunidade que começou a comer kosher: “Este homem ia a todos os tipos de reuniões e aí serviam todos os tipos de carne, incluindo carne de porco e até cães (alimento popular em Kaifeng), mas ele diz que não pode pois é judeu. “Quando vi o quanto esforço fazia para comer Kosher na China, eu senti que eu também queria ser assim”. Parece que o centro “Rua do Estudo da Torá” está, na verdade, voltando a ser aquilo que seu nome representa. [4]
Fontes: [1] Eterna Sefarad: http://www.zivabdavid.blogspot.com.br/2012/04/os-judeus-de-kaifeng-china.html; http://fr.wikipedia.org/wiki/Histoire_des_Juifs_en_Chine
[2] Judeus da China: http://www.coisasjudaicas.com/2012/01/os-judeus-na-china.html;
[3] CONIB: Boletim Informativo da Confederação Israelita do Brasil | 04/03/2015
[4] Shavei Israel. 22/12/2013: http://www.shavei.org/other_languages/portugues/artigos-diversos/shavei-israel-abre-um-novo-centro-em-kaifeng-china/?lang=es
Coordenador: Saul Stuart Gefter
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