CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISA
(OBS: As informações apresentadas neste trabalho, são de várias fontes e não representam o ponto de vista da Congregação Judaíca Shaarei Shalom e nem sempre o ponto de vista judaíco. Os objetivos primarios de nosso Centro de Estudos e Pequisas é para estimular interesse e debate entre os participantes e motivar pessoas para investigar e estudar as materias e para iluminar e elevar as proprias mentes e almas.)
“Ivdu et Adonai b’simchá” (“Sirvamos a Deus com alegria”)
OS SEFARDITAS
(Parte 2)
- Historía em breve – Os Sefarditas (em hebraico םידרפס, sefardi; no plural, sefardim) é o termo usado para referir aos descendentes de Judeus originários de Portugal, Espanha, etc. A palavra tem origem na denominação hebraica para designar a Península Ibérica (Sefarad דרפס ).
Os sefarditas fugiram das perseguições que lhes foram movidas na Península Ibérica na inquisição espanhola (1478 -1834), onde eram perseguidos pela Igreja Católica, dirigindo-se a vários outros territórios. Uma grande parte fugiu para o norte de África, onde viveram durante séculos. Milhares se refugiaram no Novo Mundo, principalmente Brasil e México, onde nos dias atuais concentram milhares de descendentes dos fugitivos. Os sefarditas são divididos hoje em Ocidentais e Orientais. Os Ocidentais são os chamados judeus hispano-portugueses, enquanto os orientais são os sefardim que viveram no Império Otomano.
Com o advento do sionismo e particularmente após a crise israeli-árabe de 1967, quando as minorias judaicas nos países árabes foram alvo de ataques, muitos dos judeus vivendo em países árabes foram viver em Israel, onde formam hoje um importante segmento da população, com uma tradição cultural diferente dos outros asquenazi.
Por isso, o termo sefardita é frequentemente usado em Israel hoje para referir os Judeus oriundos do norte de África. Entretanto é um erro referir-se genericamente à todos os judeus norte-africanos e dos países árabes como sefardim. Os judeus mais antigos destes países são chamados Mizrachim (de Mizrach, o Oriente), ou seja, orientais.
Houve importantes comunidades sefarditas nos países árabes, quase sempre conflitivas com as comunidades autóctones, sobretudo no Egito, Tunísia e Síria. São judeus hispânicos que quase sempre se opõem à Qabbala sefardita e mantêm um serviço religioso bem disciplinado e de melodias suaves. O rito ocidental é conhecido como Castelhano-Português.
Os Sefarditas foram responsáveis por boa parte do desenvolvimento da Cabaláh medieval e muitos rabinos sefarditas escreveram importantes tratados judaicos que são usados até hoje em tratados e em estudos importantes. [1]
- O Decreto de Alhambra – O Decreto de Alhambra foi um decreto régio promulgado pelos Reis Católicos (Isabel I de Castela e o rei Fernando II de Aragão), ordenando a expulsão ou conversão forçada da população judaica da Espanha, e levando à fuga e dispersão dos sefarditas (judeu espanhóis) pelo Magrebe, Médio Oriente e sudeste da Europa. Foi escrito por Juan de Coloma, o secretário real, e assinado em Alhambra, Granada, a 30 de Março de 1492.
Aceite com resignação por grande parte da comunidade judaica, uma notável excepção foi o rabino D. Isaac Abravanel. Um documento fictício, atribuído a Isaac Abravanel, que seria uma resposta escrita a esse decreto, foi na verdade parte de um romance de David Rafael de 1988. No seguimento do seu falhanço em convencer os reis católicos a cancelar o decreto, teria escrito uma resposta pungente e profética ao decreto, nas vésperas da sua partida. A origem real do documento encontra-se numa obra de ficção publicada em 1988, intitulada Alhambra Decree do autor David Raphael. [2]
- Depois a expulsão e a conversão forçada chegou a Insquisição: Gentes da Diaspora – Com a união dos reinos de Castela e Aragão nas pessoas dos Reis Católicos, Isabel e Fernando, inicia-se, na vizinha Espanha, uma acérrima perseguição aos judeus sefarditas espanhóis, pois a fé exacerbada de Isabel, cujo poder político real excedia o do seu consorte, levou a decretar em 1492 a expulsão de entre 130,000 a 300,000 judeus, alguns dos quais se juntaram aos cerca de trinta mil judeus sefarditas então presentes em Portugal. Outros refugiaram-se noutras regiões da Europa e Norte África.
Embora Dom Manuel fosse um dos monarcas mais tolerantes para com os judeus, exigiu-lhes tributação exorbitante numa tentativa de reforçar os cofres do reino para financiar os seus projectos de colonização no além mar e posteriormente, enviou cerca de dois mil crianças judias, com idades compreendidas entre os dois e os dez anos, para o “branqueamento” das raças nativas das novas colónias portuguesas, as Ilhas de S. Tomé e Príncipe, pois as condições inóspitas das ilhas não incentivaram voluntários entre os outros seus súbditos. Após um ano, havia cerca de 600 crianças sobreviventes, mas foi quanto bastou para introduzir nestas ilhas africanas o legado sefardita.
O crescente conflito de interesses entre as potências ibéricas no tabuleiro europeu de influências, despoletado pelos seus empreendimentos marítimos e colonizadores, culminou numa aliança luso-espanhola, pelo casamento do Rei Dom Manuel I com a Infanta Dona Isabel, filha dos Reis Católicos, numa tentativa de equilibrar as forças entre as duas nações.
Embora, até então, a coroa portuguesa tivesse usufruído dos serviços de inúmeros judeus em postos de destaque nos sectores mais relevantes estatais e sociais, Dom Manuel cedeu ás pressões dos reis espanhóis, e com alguma relutância, ordenou a expulsão dos judeus do reino. Conhecendo a diligência dos seus súbditos judaicos, reconhece que a sua perda representaria o declínio económico e tecnológico do país, pelo que propõe a conversão como condição para a permanência no país, aos seus mais valiosos e produtivos súbditos, a que muitos resistem.
Cerca de 20,000 resistentes aglomeram-se no cais, prontos para partir sem renunciar à sua fé. O rei decretou que estes comparecessem na praça principal de Lisboa, onde ordenou ao Bispo de Lisboa que os baptizasse da sua varanda palaciana. Declarou-os todos Católicos, apresentando, por altura do esponsalício real, um país perfeitamente evangelizado e aceitável aos seus poderosos sogros espanhóis! Numa hábil manobra política, proíbe qualquer inquérito pertinente à fé religiosa dos seus súbditos “convertidos”, proibição que perdurou até ao advento da temível Santa Inquisição, em 1536, a maior mácula de toda a história da Igreja de Roma! Mas este interregno de paz relativa mais consolidou e reforçou a presença e influência judaica no tecido social e legado genético da nação portuguesa, como a actualmente conhecemos.
A perseguição dos judeus pelo Santo Ofício levou ao êxodo progressivo de um grande número de sefarditas para outros centros europeus, tais como Hamburgo e Amsterdão, onde a sua cultura e conhecimento eram grandemente apreciados, tendo os judeus portugueses prestado grande contributo à medicina, arte, ciência, economia e filosofia. Não esqueçamos Bento ou Barouk Espinosa, cuja obra filosófica, A Ética, revolucionou o pensamento filosófico e teológico europeu do seu tempo. Muitos partiram para outras partes do mundo junto de outros perseguidos, tais como os hugenots franceses, para colonizarem as terras recém achadas da América e África. [3]
III. Alguns Grandes Rabinos e Sabios Sefarditas e Orientais na história Judaica
- Hasdai Ibn Shaprut (Córdoba, Espanha muçulmana 915- 970 EC) – De carismática personalidade e aguçada inteligência, Ibn Shaprut foi o primeiro de um grande grupo de dignitários judeus que serviram reis e príncipes. Médico, diplomata e ministro da corte do califa de Córdoba, era encarregado das negociações com delegações estrangeiras que chegavam ao Califado, o que fazia com grande habilidade. É um exemplo vivo da multiplicidade de áreas em que atuavam os judeus de Sefarad.
- Rabi Yitzhak Al-Fassi, o RIF(Marrocos 1013-Espanha 1103 EC) , – Considerado por muitos como Pai do judaísmo sefardita, o RIF, revolucionou a erudição judaica e escreveu um tratado que é um dos pilares que sustentam a Lei Judaica.
- Rabi Moses ben Maimon, Maimônides (Córdoba, Espanha,1135- Fostat, Egito,1204 EC) – O Rambam, Rabino Moshe Maimônides , rabino, filosofo, astronomo, medico de Cálifa Saladino) detalha em seu livro Mishnê Torá (Fundamentos da Torá), no 5° capítulo, que se uma pessoa fala num tom agradável com os demais, demonstra respeito e preocupação com os outros e é honesto em seus negócios, está pessoa estará fazendo um grande Kidush Hashém. Eis a linguagem do livro: “Então será digno de elogios e benquisto pelos demais. E as pessoas desejarão imitá-lo. Esta pessoa terá santificado o nome do Todo-Poderoso”. Este é o jeito que um Judeu deve viver em seu dia-a-dia!
- Nachmânides “O Ramban”, rabino Moisés Ben-Nachman (1194 Girona, Espanha-Israel 1270 EC) – No século XIII, surgiu no firmamento judaico da Espanha uma nova estrela que brilhou com poderosa luz. Um dos principais autores da literatura talmúdica da Idade Média, cabalista, filósofo e escritor renomado. Mais conhecido por seus comentários místicos do Pentateuco, destacou-se no campo da lei rabínica além de ser um poeta litúrgico de grande expressão.
- Rabi Yossef Caro, autor do Shulchan Aruch (Espanha 1488- Israel 1575 EC) – Rabi Yossef Caro foi um dos mais influentes sábios em toda a história judaica. Orgulho e glória da comunidade sefardita mundial, é o celebrado autor do Shulchan Aruch, Código da Lei Judaica.
- Rabi Shlomo HaLevi Alkabetz (Salônica, século 16 EC) – Escrita pelo poeta e cabalista sefardita do século 16, o Lechá Dodi foi adotado por todas as comunidades judaicas, sefarditas e asquenazitas.
- Rabi Chaim Ben Attar, Or HaChaim Hacadosh (Marrocos, século 18EC) – Dentre os maiores sábios de todos os tempos, é um dos poucos a quem nosso povo adicionou, ao nome, o aposto ‘Hacadosh’, o santo. Respeitado por seu conhecimento e o alcance de seus extraordinários dons espirituais, era tido como homem que realizava prodigiosos milagres.
- Rabi Moshé Cordovero (Israel, 1522-1570 EC) – Cabalista dos maiores de todos os tempos, foi o primeiro a sistematizar o estudo do misticismo judaico.
- Rabi Isaac Luria, O ARI (Israel, 1534-1572 EC)- Chamado também de Leão Sagrado, foi um dos grandes estudiosos da Cabala do século 16. Viveu apenas dois anos em Safed, para onde mudou-se atendendo a determinação do profeta Eliahu. Seus ensinamentos foram divulgados através das obras de seu fiel discípulo, rabino Chaim Vital.
As marcas do Ari em todos os níveis do judaísmo são inegáveis. A partir do século 17, as idéias luriânicas e inovações rituais haviam-se disseminado em grande parte do mundo judaico. Os livros do rabino Chaim Vital são muito famosos em meio às comunidades sefaraditas, que os estudam com profundo respeito e devoção. Posteriormente, no século 18, a Cabala Luriânica exerceu forte influência sobre o chassidismo, que divulgou as idéias cabalísticas. O conceito de “elevar as centelhas”, a idéia de que toda a existência material é animada pela divina, que mesmo a atividade mais mundana pode servir de oportunidade para-se descobrir D’us, impregnou o pensamento e a vida judaica.
- Rabi Aboab da Fonseca (Portugal 1605-1693 EC, Holanda ) Quando Pernambuco e outras capitanias do Norte estiveram sob o domínio da Holanda, período compreendido entre 1630 e 1654, milhares de judeus sefaradim e alguns ashquenazim, originários da Península Ibérica e do Norte da Europa, para lá se transferiram com as suas famílias. Alguns deles, porém, dedicavam-se ao comércio de escravos que, trazidos pelos barcos da Companhia da Costa da África, eram arrematados em leilões e vendidos a prazo aos senhores de engenho.
Na Rua dos Judeus funcionava um mercado de escravos, Merckt opt Jodesnstraat, que Zacarias Wagener denominou de Slavenmarkt e o retratou na sua série de aquarelas, pintadas no Recife entre 1634 e 1641. É desta época o surgimento, no Recife, da primeira sinagoga das Américas, a Kahal Kadosh Zur Israel (Santa Comunidade Rochedo de Israel) estabelecida na Rua dos Judeus (atual Rua do Bom Jesus) no primeiro semestre de 1636. Nesta primeira sinagoga do Novo Mundo exerceu o rabinato o célebre Isaac Aboab da Fonseca. Retornando aos Países Baixos, em 1654, o rabino Isaac Aboab da Fonseca empenhou-se na construção da Grande Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, seguindo o traço do arquiteto holandês Elias Bouman, tendo a cerimônia de inauguração acontecido perante o Príncipe de Orange, em 2 de agosto de 1675.
- Rabi Yossef Hayim (Iraque 1833-1907 EC), Rabi Yossef Hayim de Bagdá foi o lider espiritual do judaísmo oriental, tornando-se conhecido por sua mais famosa obra, denominada Ben Ish Hai. Seu profundo conhecimento tanto da Halachá como da Cabalá, assim como sua obra escrita, transformaram-no em um dos maiores mestres do judaísmo das últimas gerações.
- Rabi Yitzhak Kaduri z”l (Iraque 1897- 2006, Israel) , – Inúmeras são as histórias sobre a vida de Rabi Kaduri. Muitos lhe atribuíam poderes milagrosos. No universo da Cabalá, era considerado autoridade suprema. Para o mundo judaico, suas previsões eram um alerta para os doentes, pobres e desamparados, seus conselhos e bênçãos, um alento.
- Rabino Mordechai Eliahu, ZT’l (Israel, 1929-2010) – Reverenciado líder espiritual, que durante 10 anos ocupou o posto de Rishon Le Zion, Rabino Chefe Sefaradi de Israel. Grande autoridade na Halachá e na Cabalá, ele era muito respeitado por sua erudição e brilhantismo por todas as correntes da vida judaica, bem como pelo público, em geral, e pelos líderes religiosos de sua geração.
- Joaquin Diaz e a música sefardita – a música sefardita é a musica da tradição judaica ibérica, diz-se a música sefardita é música popular da península, no século xvi, e que os sefardís guardaram na memória até aos dias de hoje, digo eu quando os judeus foram expulsos da península levaram com eles, juntamente com a chave da porta das casas que foram forçados a abandonar …, as suas tradições e as memórias das terras que abandonavam. uma das coisas que levaram foi a música que se cantava na peninsula. não a música religiosa, mas a música popular. no seu caminho por marrocos, turquia, ou norte da europa, os sefardís (ou ‘da península’) guardaram esta tradição de gereção em geração.
Nos anos 60 do século passado (soa estranho isto de dizer anos 60 do século passado…) houve alguma preocupação de tentar reunir estas músicas dispersas pelas diversas comunidades sefardís e foi, principalmente nas comunidades de marrocos e da turquia, por serem minoritárias e, consequantemente mais fechadas, que se encontraram mais vestígios desta imensa tradição. ao judeus da península se deve o facto de hoje podermos saber como seria a música popular desse tempo, uma vez que apneas existem registos escritos da música escrita pelos monges, padres, ou músicos à igreja ligados. a esmagadora maioria das canções sefarditas são canções de amor, outras são os tradicionais romances que nós conheços de um modo ou outro. nenhuma é o que poderíamos chamar uma canção ‘judaica’. a primeira pessoa que ouvi a cantar uma canção sefardita foi Joaquin Diaz.
Joaquin Diaz é um daqueles quase absolutamente desconhecidos em portugal e quase absolutamente ignorados na sua espanha. o que joaquin diaz fez pela música tradicional das várias nações e povos de espanha pode ser comparado ao que o Alan Lomax fez nos estados unidos (e mais alguns sítios..), o A.L. Lloyd no reino unido, o José Afonso (na sua versão ‘cantos velhos, rumos novos’) em portugal. por estranhas razões, qualquer destas imensas personalidades caíu no esquecimento (no caso do José Afonso é injustamente esquecida a face de recupareção e divulgação na música tradicional portuguesa). O Joaquin Diaz gravou mais de 100 canções sefarditas e abriu caminho para muitos outros cantores (dos quais a espanhola Rosa Zaragoza e a brasileira Fortuna serão talvez as mais representativas).
Com um respeito enorme pelas versões originalmente recolhidas e com um trabalho de divulgação notável que se estende a tudo o que fez e divulgou, Joaquin Diaz merece um lugar no pequeno grupo dos que merecem as unanimidades. em jeito de post scriptum, segue uma das canções mais bonitas da tradição sefardita, que aprendi a cantar com harmonização de Paul ben-Haim :
tres hermanicas eran,blancas de roz
ay, ramas de flor
tres hermanicas eran,tres hermanicas son las dos eran cazadas, blancas de roz
ay, ramas de flor
las dos eran cazadas,la una se deperdio su padre con verguenza, blancas de roz
ay, ramas de flor
su padre con verguenza, a rodes l’anbió en medio del camino, castillo le fraguó varón es que lo supo, blancas de roz
ay, ramas de flor
varón es que lo supo, a la mar ya se echó a la mar ya se echó [5]
- A brasileira que canta em ladino – Um dos trabalhos musicais mais singulares no Brasil é o da cantora paulista Fortuna. Em boa parte dele, Fortuna realizou um garimpo no cancioneiro sefardita. Descendente de judeus – família Safdie – que saíram da Espanha para a Síria, antes de se radicar no Brasil, a artista ousa cantar em ladino, em espetáculos e álbuns premiados, como Cantigas e La Prima Vez. “Fui buscar essas canções na tradição oral da Grécia, da Turquia, do Marrocos, da Bulgária e em outros países que receberam a imigração sefardita após o Édito de Expulsão promulgado em 1492”, conta.
Depois de iniciar a carreira como mais uma cantora de MPB, Fortuna passou a ter sonhos que revelavam suas remotas origens ibéricas. Uma viagem a Jerusalém a ajudou a encontrar o caminho estético. Só depois, com o apoio do diretor teatral do Iacov Hillel, a cantora montou shows com o repertório sefardita e figurinos de época. “As canções falam das mudanças históricas e também da vida errante, das festas, das dores e alegrias dos povos”, diz. [6]
VII. A Bíblia de Cervera, uma das mais antigas Bíblias sefarditas – 11-12-11 – Manuscrito medieval da Biblioteca Nacional em destaque no Metropolitam Museum de Nova Iorque
A Bíblia de Cervera, uma das mais antigas Bíblias sefarditas, pertença da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) «é a peça central em exposição na Galeria da Europa Medieval do Metropolitan Museum of Art», de Nova Iorque.
A informação divulgada pela BNP refere que a Bíblia sefardita, «uma das mais antigas e notáveis», ficará em destaque na exposição do museu nova-iorquino até 16 de Janeiro. A Bíblia de Cervera (Biblioteca Nacional de Portugal, IL. 72) é a peça central em exposição na Galeria da Europa Medieval do Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, de 22 de Novembro de 2011 a 16 de Janeiro de 2012.
O códice é uma das mais antigas e notáveis bíblias sefarditas medievais que sobreviveram às consequencias da destruição de grande parte das comunidades judaicas de Castela e Aragão, a partir de 1391, e da expulsão dos judeus de Espanha, em 1492, e de Portugal, em 1498. Raro exemplo da paleografia hebraica peninsular do seu tempo, a Bíblia de Cervera é um manuscrito sobre pergaminho em língua e caracteres hebraicos, realizada na localidade de Cervera (Lérida, Espanha) em 1299-1300.
O códice é formado por 451 folios (a 2 colunas, 31 linhas) profusamente iluminado a ouro e cores com motivos de arte moçárabe e da religião judaica, compreendendo os livros do Antigo Testamento, a massorah (exame crítico do texto da Bíblia, com notas sobre a escrita, vocabulário, pronúncia e outros comentários) e um tratado gramatical por Rabi David Qimhi (1160?-1235?).
Para além da antiguidade e da excepcional qualidade técnica e artística, esta Bíblia apresenta notáveis características de identidade que lhe conferem um lugar muito especial na linhagem das bíblias sefarditas. É um dos poucos exemplos de manuscritos hebraicos datados e assinados, em que surge não só o nome do copista (Samuel Ben Abraham ibn Nathan) mas também, o que é uma rara excepção, a identidade do iluminador (Joseph Asarfati), cada um com a sua página de cólofon.
O cólofon do copista (f. 434) menciona o lugar (Cervera) e as datas de início (30 Julho de 1299) e de conclusão (19 de Maio de 1300) do seu trabalho; originalmente, incluía também a identidade do proprietário do códice, posteriormente rasurado e deixado em branco, provavelmente a quando de uma mudança de dono. Além disso, o nome do copista da massorah é também identificado (Josue ben Abraham ibn Gaon), surgindo inscrito em 20 lugares dotexto massorético. Estas características relacionam o manuscrito de Cervera com outros importantes manuscritos hebraicos, como a Bíblia de Paris (BNF, Paris, ms. Hébr. 20, executada em Tudela, Espanha, em 1301), cuja massorah foi escrita pelo mesmo copista (ibn Gaon), e, sobretudo, com a famosa Bíblia Kennicott (Bodleian Library, Oxford, Ms. Kenn. 1, executada em La Coruna, Espanha, em 1476) para a qual a Bíblia de Cervera serviu de modelo directo.
Elaorada a uma distancia de 176 anos, a Bíblia Kennicott evidencia um paralelo inequívoco com a de Cervera, tanto no estilo como na iconografia, incluindo aspectos mais raros nas bíblias congéneres do seu tempo, como a página de cólofon do artista iluminador, com o nome inscrito em grandes letras zoomórficas e antropomórficas, que existe em ambos os códices.
Na Exposição do Metropolitan, as páginas da Bíblia de Cervera serão viradas a cada semana, dando assim oportunidade a que os visitantes possam ver várias das suas belíssimas ilustrações.
A imagem mostradas nesta página corresponde a um dos fólios que estão a ser exibidos.
Diário Digital / Lusa
NOTA: Sefarditas …é o termo usado para referir aos descendentes de Judeus originários de Portugal, Espanha, etc. A palavra tem origem na denominação hebraica para designar a Península Ibérica (Sefarad ). Os sefarditas fugiram das perseguições que lhes foram movidas na Península Ibérica na inquisição espanhola (1478 -1834), onde eram perseguidos pela Igreja Católica, dirigindo-se a vários outros territórios. Uma grande parte fugiu para o norte de África, onde viveram durante séculos. Milhares se refugiaram no Novo Mundo, principalmente Brasil e México, onde nos dias atuais concentram milhares de descendentes dos fugitivos. [7]
Fontes:
[1] Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sefardita
[2] Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Decreto_de_Alhambra
[3] Gentes da Diaspora: http://www.adiaspora.com/_port/gentes/artigo/sefarditas.htm
[4] Revista Morashá:
[5] Blogspot – Rua Das Dias Que Voam: http://diasquevoam.blogspot.com/2005/01/joaquin-diaz-e-msica-sefardita.html
[6] Clube de Taro: http://www.clubedotaro.com.br/site/r64_6_espanha_judaica.asp
[7] http://www.iqc.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=7541:manuscrito-medieval-da-biblioteca-nacional-em-destaque-no-metropolitam-museum-de-nova-iorque-&catid=1:ultimas-noticias&Itemid=1
Coordenador: Saul S. Gefter – 11 de Tevet de 5772 – 06 de janeiro de 2012
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