Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

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  1. Introdução – Maior monarca na história judaica, líder justo e inteiramente devotado a seu povo, David foi, acima de tudo, um homem da mais profunda fé, responsável por abrir as portas do arrependimento para todas as gerações futuras. Um dos “Sete pastores” do povo judeu, o rei David alcançou o ápice da grandeza espiritual e o Zohar o equipara aos três Patriarcas por ter sido, como eles, um homem que dedicou sua vida a servir a D’us.

Guerreiro poderoso e invencível, David consolidou as 12 tribos de Israel em uma única nação, forte e unida. Derrotou seus inimigos, transformando-a em uma terra segura e próspera, que legou de herança a seu filho, o rei Salomão. David deixou a todos os judeus – e a toda a humanidade – um legado de fé e coragem, o Tehilim, Livro de Salmos, bem como a dinastia real de Israel da qual sairá o Mashiach, seu descendente, que virá inaugurar uma era de paz e prosperidade para o mundo todo.

Ascensão de um novo Rei de Israel – Na edição anterior de Morashá, concluímos o artigo “David, pastor e guerreiro” com o relato da batalha na qual Israel foi derrotado pelos filisteus e o rei Shaul e seu filho, Yonatan, perderam a vida. Após a derrota, o povo judeu sente-se desolado e sem rumo. Mas, quando tudo parecia perdido, emerge um novo líder para restaurar a glória de nosso povo.

Apesar de o rei Shaul tê-lo perseguido com persistência, a ponto de o forçar ao exílio, David lamentou, no mais profundo de seu ser, a tragédia que se abateu sobre o primeiro monarca de Israel. E, quando toma conhecimento da batalha contra os filisteus e de seu resultado, David rasga suas vestes, chora e jejua durante um dia, em sinal de luto pela derrota de seu povo e pela morte do Rei e de Yonatan, a quem tinha como amigo. Como expressão da profunda angústia que lhe ia n’alma, David compõe um lamento que foi imortalizado nas páginas que abrem o segundo Livro de Samuel.

Contudo, apesar de ter sido ungido Rei de Israel pelo profeta Samuel, David, numa demonstração de humildade que marcaria toda a sua vida, não reivindica o trono por não saber se chegara a hora. Aliás, nem mesmo volta à Terra de Israel sem antes obter de D’us a permissão. Após ter recebido a ordem Divina, David ascende à cidade sagrada de Hebron, onde se estabelece. De acordo com o Zohar, ele não poderia se tornar Rei de Israel antes de ir àquela cidade e se unir espiritualmente com os três Patriarcas, lá enterrados na Caverna de Machpelá. É nessa cidade, Hebron, que, ungido rei pelos líderes da Casa de Yehudá, David inicia seu reinado.

Enquanto David reinava sobre Yehudá, Avner, comandante dos exércitos reais, conduz Ish Boshet, filho do rei Shaul, ao trono de Israel. Trava-se, então, uma longa guerra entre a Casa de David e a de Shaul e, na medida que esta ia enfraquecendo, a de David ia-se fortalecendo. E quando Ish Boshet, após uma amarga discussão, se desentende com Avner, aquele que o levara ao poder, este último percebe haver chegado a hora de ajudar David a obter o reino de Israel.

Avner declara, então, sua lealdade a David, informando a todas as tribos de Israel que, como determinara o Eterno, é ele o seu legítimo rei. Em seguida, vai até Hebron para se encontrar com David, propondo-lhe congregar representantes de todas as tribos, para firmar oficialmente uma aliança com David e assim alçá-lo ao trono de toda Israel. Mas, ao retornar do encontro, Avner é morto por Yoav, sobrinho de David e comandante de seus exércitos. Yoav matou Avner porque este matara seu irmão, Asahel.

Obviamente, as suspeitas recairiam sobre David; afinal, Avner empossara Ish Boshet como sucessor de Shaul. No entanto, o óbvio não se realiza, pois David fica sinceramente condoído e enlutado pela falta de Avner, a quem muito respeitava. Esta reação diante da morte daquele que era considerado seu adversário lhe traz a confiança da nação.

Segue-se o assassinato de Ish Boshet, enquanto dormia, por dois de seus comandantes. Estes acreditavam que, assim agindo, conquistariam favor aos olhos de David. Em seu entender, estava removida a última barreira à coroação deste último como Rei de Israel. Portanto, após cometer o assassinato, dirigem-se a ele para lhe relatar o ocorrido. São surpreendidos pela reação de David que, estupefato com a traiçoeira covardia contra um inocente e que era, sobretudo, o Rei de Israel, ordena que ambos sejam executados.

Mais uma vez, David demonstrava que Israel, seus líderes, a Palavra de D’us e a justiça lhe eram mais importantes do que a concretização da profecia – de que ele, David, tornar-se-ia Rei de Israel. Esta atitude foi uma constante ao longo de sua vida. Como revela em seus Salmos, David não via valor em si próprio; mas via um valor supremo, incomensurável, em D’us, na Torá e no Povo Judeu. Após a morte de Ish Boshet, concretiza-se a profecia de Samuel. Representantes de todas as tribos vão a Hebron pedir a David que reine sobre eles. E assim, aceito por toda a Nação Judaica, consuma-se de fato a unção que lhe dera, anos antes, o profeta Samuel.

Jerusalém: Cidade de David – A primeira prioridade de David após assumir o trono de Israel foi conquistar Jerusalém, que o Eterno escolhera para ser sua Morada terrena.

Destemido, prepara-se para conquistar Metzudat Tzion, fortaleza mantida por jebusitas. O nome Tzion derivava de uma palavra hebraica que significa “destacada”, em virtude do grande destaque da fortaleza por sua invulnerabilidade a ataques. Após a conquista, o nome Tzion se torna sinônimo do Monte do Templo e de toda a cidade de Jerusalém. Após ter capturado a cidade, David fixou residência real na fortaleza que, assim como toda a cidade, passou a ser chamada de “Cidade de David”. Além de fazer de Jerusalém capital de seu reino, o rei a declarou “Capital Única e Eterna do Povo Judeu”.

O Livro de Samuel II relata que David tinha 30 anos quando iniciou seu reinado, que duraria 40 anos – 7 dos quais em Hebron e 33 em Jerusalém. O novo Rei restaura a glória de seu povo e sua fama se estende muito além da Terra de Israel. O Livro de Samuel diz que “David tornava-se cada vez maior e o Eterno, D’us dos Exércitos, estava com ele”. Contudo, apesar de seu crescente poder e prestígio, o Rei permaneceu humilde como sempre fora – e por este motivo, D’us sempre esteve com ele.

David anseia por construir o Templo Sagrado – Desde o início de seu governo, David teve que defender Israel dos filisteus que, preocupados ao ver a ascensão de um novo líder, novamente se voltam contra a pátria judaica. David, rei e profeta, consulta D’us antes de sair à guerra e recebe a promessa de que “os teria em suas mãos”.

E, de fato, com a ajuda Divina, David golpeia os tradicionais inimigos de Israel de forma tão incisiva que o Reino de Israel finalmente obtém a almejada paz e segurança. Mas, homem de profunda fé que era, o Rei não desejava deixar um legado de vitórias militares. Esperando que fosse sua maior e mais duradoura contribuição a D’us e a Israel, sonhava erguer uma morada permanente para a Shechiná – a explícita Presença de D’us neste mundo.

Os pré-requisitos para a construção do Templo são detalhados no quinto livro da Torá. E está escrito: “Quando cruzardes o Jordão e vos estabelecerdes na terra… e Ele vos livrará e fará descansar de todos os vossos inimigos, e habitareis em segurança; e lá será o lugar que o Senhor, vosso D’us, escolheu para descansar o Seu Nome…” (Deuteronômio 12: 10-11). Apesar de o rei David ainda vir a travar muitas batalhas, a Terra de Israel, sob sua liderança, não mais foi vítima de ataques de exércitos estrangeiros.

Quando julgava necessário para a proteção de seu povo, ele mesmo empreendia ataques preventivos contra vizinhos hostis, conseguindo conquistar a todos. Por isso, vendo que em seu reinado Israel vivia em segurança, dentro de suas fronteiras, acredita ter chegado a hora dos Filhos de Israel erguerem uma morada permanente para abrigar a Presença Divina na terra – o Seu Templo Sagrado. Mas, valendo-se do profeta Nathan, o Altíssimo envia uma mensagem a David, Seu servo – título com o qual poucos foram agraciados e que indica total submissão a D’us. O profeta diz ao Rei que não caberia a ele ser o construtor do Templo, mas a seu filho. Uma das razões para não merecer a permissão era o fato de ser um guerreiro – fizera derramar muito sangue, ainda que para defender o Povo Judeu e em obediência a D’us. Nachmânides escreveu que o rei David não recebeu a permissão de construir o Templo por simbolizar a justiça, ao passo que o Templo, como fonte de arrependimento e do perdão Divino, deveria representar o Divino atributo da Misericórdia.

D’us tinha ciência de que David acalentava o sonho de construir a Sua Morada, e, apesar de lhe negar o pedido, dá-lhe o mérito de se dedicar, até sua morte, aos preparativos para a construção. E para que não imaginasse não ser digno, D’us lhe promete criar uma dinastia eterna através de sua descendência. Todos os futuros reis legítimos de Israel, culminando com o Mashiach, seriam descendentes diretos do rei David. Com tal promessa, D’us lhe outorga uma honra jamais vista por nosso povo desde os dias de Aaron, o Cohen – a dizer, a condição de permanente hereditariedade.

Tomado de júbilo pela grande honra, o rei David irrompe em cânticos de louvor e graças ao Eterno. E, assim como prometera a David, D’us coroa de êxitos todos os seus feitos. Subjugando os inimigos do povo de Israel, o Rei consolida seu reinado. Foi profeta e um dos maiores conhecedores da Torá de nossa história. E, mais do que qualquer outro que o antecedera ou iria suceder, David conquistou o amor e admiração eterna de seu povo. Responsável por compor as mais belas orações da liturgia judaica, foi, paralelamente, um bravo guerreiro e um governante iluminado.

Diz o Livro de Samuel que “David distribuía justiça e bondade a todo o povo”. Mesmo em tempo de guerra, era um ser humano exemplar, admirado até por aqueles a quem derrotou. Era conhecido por demonstrar respeito pelos inimigos; honrando a tradição judaica de santificação da vida, David ha-Melech providenciava o enterro dos inimigos caídos em batalha.

David abre as portas do arrependimento – O episódio mais intrigante na vida do Rei David envolve uma mulher de nome Bat Sheva. Uma leitura literal do Livro de Samuel indica que o Rei David tomou para si uma mulher casada, arquitetando a morte de seu marido para acobertar o que fizera.

Espantoso para um homem da estatura moral do rei David. Mas o Talmud, em nenhuma instância apologético, afirma claramente que “aquele que disser que David pecou comete um erro” (Shabat, 56a) e que Bat Sheva estava predestinada a ser mulher de David desde o início da Criação (Sanhedrin, 107a).

Há provas que atestam que David não cometeu adultério: se Bat Sheva fosse casada quando David se uniu a ela, a Lei judaica o teria proibido de desposá-la ainda que já fosse viúva. A verdade é que naquela época, todos os integrantes dos exércitos que saíam às batalhas concediam previamente o divórcio a suas esposas, pois se não retornassem a suas casas, as mulheres poderiam voltar a se casar. Bat Sheva não fora exceção e recebera o divórcio de Uriah, seu marido. Ademais, além de David tê-la desposado, o resultado dessa união foi o nascimento do rei Salomão, a quem coube o mérito de construir o Templo Sagrado, bem como de ser o primeiro de uma dinastia que culminará com o Mashiach. Isto é prova cabal de que o Rei não cometeu o pecado que lhe atribuem os que desconhecem os fatos.

Que erro teria sido, então, o seu, a ponto de despertar a “ira” Divina e lhe trazer tão imenso desgosto? David precipitou os eventos. Se tivesse sabido esperar, teria chegado o dia em que Bat Sheva seria sua mulher, mas ele se antecipou – e, por tê-lo feito, cometeu graves erros de julgamento – uma atitude inaceitável para um homem de seu calibre espiritual. Valendo-se de sua capacidade profética, David reconheceu em Bat Sheva a sua prometida. Mas, como revela o Zohar, não era chegado o momento certo para sua união, por isto D’us a deixara desposar outro homem, Uriah. E, ainda que seja verdade que Uriah cometeu um ato de insubordinação contra o rei David, merecendo, como era de costume à época, a pena de morte, o Talmud nos ensina que o Rei deveria ter deixado que o Sanhedrin julgasse o militar rebelde – e não tê-lo enviado à morte, em batalha.

O verdadeiro enigma desta história reside no seguinte: como poderia o rei David, o mais devoto dos homens, cometer tamanho erro, manchando assim sua reputação? Segundo o Talmud, o Rei pediu que D’us testasse a sua devoção como fizera com nossos patriarcas – algo que homem algum jamais deve fazer. No entanto, há outra explicação, mais generosa, para o incidente. Como vimos acima, Bat Sheva estava destinada a ser mulher de David e a trazer ao mundo o rei Salomão e a dinastia messiânica. D’us poderia ter determinado que ela não desposasse Uriah ou que seu casamento com ele terminasse antes que David a conhecesse.

Diz o Talmud que a Divina Providência engendrou o incidente daquela maneira para que o arrependimento de David servisse de exemplo a todos nós. Mesmo quando alguém comete um erro deplorável, D’us nunca lhe fecha os Portões do Arrependimento e do perdão. Ensinam nossos Sábios que D’us de fato levou David a errar para que este pudesse personificar, posteriormente, o modelo humano do arrependimento, fosse por sua própria contrição, fosse pela eloqüência e emoção contidas em seu dramático Salmo 51.

Na obra Chovat HaLevavot (Deveres do Coração), de Rabi Pakuda, consta que “Às vezes, um pecado tem maior efeito sobre o indivíduo do que uma série de boas ações”. Imediatamente após a dura repreensão do profeta Nathan por ter tomado Bat Sheva como sua mulher e enviado Uriah à morte, o rei David admite seu grave erro. Ele não se justifica, apesar de ter argumentos em sua defesa, como outros fizeram. Em vez disso, segue a trilha do arrependimento que o leva a aniquilar o mau instinto que nele residia. Seu erro o impulsionou a alcançar as Alturas. Mais ainda, conseguiu abrir as portas do arrependimento também a nós, seu povo.

Quando um judeu peca, quando se entrega à mercê de D’us, especialmente no Yom Kipur – ele encontra conforto na idéia de que mesmo um homem da estatura de David ha-Melech cometeu erros. Mas se arrependeu. E o confessou. E, por isso, foi perdoado.

Se os maiores homens mencionados na Torá, entre eles, Adão, Moshê e o Rei David, não tivessem errado, que esperança nos restaria, a nós, simples judeus?

A grandeza do Rei David – Ninguém teve uma vida mais difícil do que David, desde que nasceu até o último de seus dias. Cresceu no ostracismo. Mesmo após vencer Golias e fielmente servir ao rei Saul, foi constantemente perseguido pelo monarca. Quando este morreu, outros sete anos transcorreriam até que o povo aceitasse David como seu rei – ainda que tivesse sido ungido pelo profeta Samuel. E, enquanto Rei, enfrentou a violenta insubordinação do mais valente general de Israel, Yoav; o polêmico episódio que envolveu Bat Sheva; assassinatos, tragédias e revoltas no seio de sua família – e as punições Divinas que recaíram sobre ele.

Contudo, a despeito de tudo o que vivenciou, suas facetas de grandeza humana permaneceram inalteradas. Ao longo de sua vida, sua fé em D’us era completa e inabalável, por mais desestimulantes que fossem as circunstâncias. Incondicionalmente devotado a seu povo, mesmo como Rei, nunca hesitou em enfrentar perigo mortal para defender os seus. Foi um valente guerreiro e um líder carismático, que alçou seu povo de uma humilhante derrota e do desespero nacional ao triunfo e à autoconfiança. E, quanto mais poderoso se tornava, mais humilde ficava. Reverenciava a D’us e à Sua Torá e aos Profetas. Estava aberto à repreensão, pronto a admitir seus erros. David veio ao mundo para ser, por todo o sempre, o mentor do arrependimento.

Os Salmos de David, que levam o selo indiscutível de um homem sobre quem D’us repousou a Sua Presença, constituem grande parte das orações da liturgia judaica e são recitados dia após dia, inclusive no Shabat e nas festas judaicas. Até hoje, como há milhares de anos, os Salmos têm revigorado o espírito dos seres humanos, inspirando e consolando não apenas o povo judeu, mas toda a humanidade.

Todos os atos do rei David foram em favor de D’us e de Israel. Sua devoção a nosso povo se reflete no último capítulo do segundo Livro de Samuel. O povo de Israel é punido com uma praga terrível, e o Rei que não consegue tolerar o sofrimento de seu povo, suplica a D’us: “Senhor, é fato que pequei… mas este Teu rebanho – que mal fizeram eles?” Em sua devoção a Israel, David aceitava qualquer culpa sobre si para evitar o sofrimento de Am Israel. Sua vida, tão cheia de percalços, deve ser analisada à luz da História Judaica, que demonstra que D’us desejava que os eventos que levariam à vinda do Mashiach transcorressem em meio a dificuldades, para fazer ver ao homem que os grandes êxitos podem ocorrer mesmo em meio às mais insólitas e difíceis situações.

Salta aos olhos o fato de os eventos que levaram ao nascimento do rei David e de sua dinastia – na verdade, o instrumento da Era Messiânica – somente terem sido possíveis através de uma cadeia de desafios e de milagres. Assim como Moshê, que pôde ver, mas não entrar na Terra Santa, também David pôde ver o local do Templo Sagrado que seria erguido por seu amado filho, Salomão. É possível que o filho de David ha-Melech e Bat Sheva tenha merecido construir o Templo por ter sido seu pai quem implorou pelo privilégio de erguer uma Morada Divina sobre a Terra. Efetivamente, é David quem coloca as fundações do Templo: pôde avistar o seu futuro local, construiu um altar e engajou todas as tribos de Israel na divisão equânime que permitiria a sua aquisição.

É ele, David, e não Salomão, quem compra a terra sobre a qual se erguiria o Templo, e se dedica, por inteiro, a organizar os recursos para a sua construção. E por sua dedicação à construção, o Templo levará o nome de Casa de David (Reis I, 12:16; Salmo 30:1).

No artigo da edição passada sobre o rei David, mencionamos ter vivido 70 anos. E que esses anos lhe foram legados por Adão, o primeiro homem, que, por sua vez, foi informado por D’us que o rei David estava fadado a morrer logo após seu nascimento. David continha em seu íntimo a alma do primeiro ser humano, fruto da Obra Divina, cuja alma, por sua vez, continha a alma de todos os homens. Diz-nos o Zohar que as três letras do nome Adão – Alef, Dalet e Mem – representam as iniciais dos nomes de três homens: Adão, David e Mashiach. “Ao que Adão começou, David deu continuidade e o Mashiach concluirá”, ensina o Zohar.

David ha-Melech viveu num passado distante, mas seu legado permanece mais vivo do que nunca. Hoje, após dois mil anos de exílio, o povo de David retornou à sua Terra e à Capital que ele fundou para nosso povo, para todo o sempre. Hoje, ansiamos pela reconstrução da Casa de David. E como foi ele, David, quem abriu a porta do arrependimento para nosso povo, e é ele quem nos consola com seus Salmos e quem estabeleceu as fundações para um futuro novo e glorioso para seu povo, fazemos do seguinte ensinamento do Talmud uma canção em nossos lábios e nos de nossos filhos: “David, Melech Israel, Chai VeKaiam!” – “David, Rei de Israel, está vivo e assim permanecerá” (Trat. Rosh Hashaná, 25a).

Bibliografia: Rabbi Scherman, Nosson, Samuel I-II, The Early Prophets,with commentary anthologized from rabbinic writings, The ArtScroll Series, Mesorah Publications; Tehillim, with commentaries by Rabbi Avrohom Chaim Feurer, Mesorah Publications. [1]

  1. A Festa de Shavuot e Rei David – A festa de Shavuot é estreitamente ligada ao rei David, o salmista e pai da casa real, pois David nasceu e faleceu em Shavuot.

Quando David nasceu em Beit Lechem, na terra de Yehudá, no ano 2854 após a criação, ele estava distante apenas dez gerações de Yehudá, o quarto dos doze filhos de Yaacov (Jacó). David pertencia a principesca família de sua tribo, que deu a Israel príncipes e líderes. Um de seus antigos ancestrais, Nachshon, tornou-se famoso por ter sido o primeiro a entrar no Mar Vermelho quando este foi dividido para o povo judeu após a saída do Egito.

Desde então, Nachshon foi o mais honrado de todos os príncipes de Israel. Ele também sobressaiu-se ao ser o primeiro a levar oferendas ao Mishcan (Tabernáculo), o qual foi erigido no deserto no ano seguinte.

O bisavô de David, Boaz, foi o décimo juiz de Israel. Os juizes foram os lideres de Israel durante o espaço de tempo entre Yehoshua e o rei Shaul. Boaz regeu durante sete anos. Foi um dos homens mais eruditos de sua geração. Suas propriedades eram grandes, e sua generosidade bastante conhecida. Através dos anos, as tradições da ilustre família, que provinham de Yehudá e Yaacov, foram mantidas por Yishai, pai de David. Era uma casa de erudição, devoção, benevolência, generosidade e fortuna. E as mais nobres características desses notáveis e famosos ancestrais foram outorgadas a David.

O rei David continuou o aprendizado tradicional da Torá, sendo o sucessor espiritual do profeta Shemuel. Ele cercou-se de um grupo de profetas e eruditos e, juntos, estudaram a Torá. Não ligava para os confortos materiais e mundanos que seu palácio real podia lhe oferecer e, diferentemente de outros reis, levantava-se antes do nascer do sol e cantava salmos em louvor a D’us, o Rei dos reis.

O rei David faleceu no Shabat que coincidia com a Festa de Shavuot, no ano 2924 (837 anos antes da Era Comum). Seu reinado durou quarenta anos (2884-2924); nos primeiros sete, ele reinou em Chevron (Hebron) sobre a tribo de Yehudá; e nos trinta e três restantes em Jerusalém, sobre todo Israel. Os profetas assinalam que Mashiach será um descendente de David, rei de Israel. [2]

Fonte: [1] Revista Morashá; Edição 58 – Setembro de 2007: http://www.morasha.com.br/profetas-e-sabios/david-rei-de-israel.html

[2] Chabad: http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1538417/jewish/O-Rei-David.htm

Coordenador: Saul Stuart Gefter



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