(1) Parashát Êkev (Devarim/Deuterônomio 7:12-11:25) – Êkev começa com Moshê encorajando os filhos de Israel a confiar em D’us e nas maravilhosas recompensas que Ele lhes dará se guardarem a Torá. Moshê assegura-lhes que derrotarão com êxito as nações de Canaã, quando deverão remover todo e qualquer vestígio de idolatria remanescente na Terra Santa.
Moshê os lembra sobre o miraculoso maná e as outras maravilhas com que D’us os cumulou pelos quarenta anos passados, e ele adverte o povo judeu para estar consciente das armadilhas de sua futura prosperidade e orgulho das façanhas militares, o que pode fazê-los esquecer D’us. Ele os relembra ainda de suas transgressões no deserto, recontando toda a história do bezerro de ouro, e descrevendo a abundante misericórdia de D’us.
Moshê enfatiza que a geração do deserto tinha uma responsabilidade especial de permanecer leal às mitsvot, preceitos da Torá, por causa dos muitos milagres que vivenciaram pessoalmente. Após detalhar as numerosas virtudes da Terra Prometida, Moshê ensina ao povo o segundo parágrafo do Shemá, que enfatiza a doutrina fundamental de recompensa e punição, baseada em nosso cumprimento das mitsvot.
Esta Porção da Torá conclui com a promessa de D’us, uma vez mais, de que Ele protegerá o povo judeu se eles cumprirem as Leis da Torá.
D’Var Torá – Esta Parashá contem alguns paradoxos. A palavra “Êkev” tem um significado muito elevado, falando das “RECOMPENSAS” que recebemos quando seguimos a Torá. Ao mesmo tempo, “Êkev” também significa “CALCANHAR”, o nível mais baixo do corpo de uma pessoa. De modo a receber as mais altas recompensas prometidas por D’us, devemos ser humildes como um calcanhar, percebendo que tudo o que temos é realmente um presente…
O Midrash (o comentário da Torá) diz: quando Moisés estava no Monte Sinai, D’us mostrou todas as gerações futuras. Mas quando ele viu a nossa geração tão baixa, privada do entendimento e sentimento por D’us (como o calcanhar que pode entrar na água quente e não sentir queimar) e ainda assim observando a Torá, ele se sentiu fraco. Moisés tinha dúvidas se até ele mesmo conseguiria servir HaShem nessas condições. E nós conseguimos porque somos a última geração do Exílio e, se chama, a primeira da Redenção Final!!
(2) Para Contemplar – Alimento espiritual – “… o homem não vive apenas do pão, mas que o homem vive de tudo aquilo que procede da boca do Senhor”. (Devarim/Deuteronômio 8:3). Disse o Rabino Itzchak Luria – O Ari Hakadosh (o grande cabalista, Século XVI, Safed, Israel): Na realidade, é bem difícil o entendimento. Como poderá, então, a alma, quando todo o seu poder não consta senão de espiritualidade, e sendo espírito, como poderá se nutrir de alimento material?
Porém, sendo que todo o ser criado não tem a sua existência a não ser através da palavra do Senhor Abençoado Seja, no momento da criação (“Da palavra do Senhor foram feitos os céus”, “Com dez ditos foi criado o mundo”) pois que o mesmo poder da fala Divina que está contido dentro do alimento, ele é exatamente também o alimento da alma. No momento em que uma criatura de Israel toma de um fruto, e pronunciando esta bendição: “Abençoado sejas tu D’us, nosso Senhor e Rei do Universo”, estão a se despertar as forças espirituais internas contidas dentro do fruto, oriundas da força do verbo Divino no momento da criação, e estas palavras e o fruto vêm a ser o alimento espiritual para a alma. É isto, precisamente, o que está entendido no escrito: “… o homem não vive apenas do pão” – não somente do pão exterior e concreto vive o homem – “mas que o homem vive de tudo aquilo que procede da Boca do Senhor”* – pois que, pelo mérito da fala que saiu da Boca Divina, Seja Abençoada, no momento da criação, o que dá o poder de existência ao pão, pois que esta força espiritual vem a ser exatamente aquela que é o alimento para a alma…
* Importante frisar que ao se referir a “boca” de D’us, não se refere a boca física, como se D’us fosse um ser com cabeça, olhos, boca, ouvidos, braços, pernas, etc. Deixo aqui um excerto do terceiro dos treze princípios da fé judaica de Maimônides:
“Creio com plena fé que o Criador não possui um corpo. Conceitos físicos não se aplicam a Ele. Não há nada que se assemelhe a Ele”.
O Terceiro Princípio é que D’us não é físico, não tem corpo. Como D’us é infinito, os conceitos de fisicalidade não se aplicam a Ele, em hipótese alguma, pois tudo o que é físico é, por definição, finito. O universo, por exemplo, em sua imensidão, é finito. O conceito de infinitude, portanto, apenas se aplica a D’us.
É importante observar que a Torá fala, com frequência, de D’us como se Ele tivesse atributos físicos (como “os olhos de D’us”) e como se Ele tivesse reações humanas (D’us “se recorda”, ou “se zanga”). Quando se refere a D’us, a Torá emprega metáforas para que até mesmo uma criança possa relacionar-se com seus ensinamentos. Se, em vez de dizer, “D’us se zangou”, a Torá dissesse que “o Atributo de Guevurá Divina foi despertado”, muitos de nós não entenderíamos o que a Torá estava a nos transmitir.
Podemos perguntar, “Se D’us é Onipotente, o que o impede de assumir forma física ou humana?” Na verdade, o princípio de que a fisicalidade não se aplica a D’us parece desafiar o conceito de que D’us é onipotente. Diante de tais paradoxos, devemos ter em mente que, pelo fato de D’us estar acima de quaisquer limitações, não podemos empregar a lógica humana para O entender. Isso não significa que a crença em D’us é ilógica. Significa que como um ser finito não pode entender o Infinito, tudo o que podemos conhecer acerca de D’us é o que Ele nos fez conhecer através de Sua Torá. Quanto a questionar se D’us pode assumir forma física ou humana, isso não é nada diferente do que perguntar se D’us pode cometer suicídio ou criar uma divindade mais forte do que Ele ou mesmo uma pedra que Ele mesmo não consiga levantar. Esses paradoxos não se aplicam a um Ser Onipotente e, de fato, são insolúveis e intermináveis. Considerem o seguinte: como D’us é Onipotente, Ele pode, sim, criar uma pedra que Ele Próprio não consiga levantar, mas, como Ele é Onipotente, após ter criado essa tal pedra, ele consegue levantá-la.
A mente humana, finita e falível, conhece apenas uma parte infinitesimal acerca do universo finito em que habitamos. Muito menos é o que sabemos sobre D’us.
O pouco que sabemos é o que D’us nos revelou através de Sua Torá. Na Torá, Ele nos diz que Ele não muda. Isso é fácil de entender: como D’us é atemporal, e a mudança é uma função do tempo, o conceito de mudança não se aplica a D’us. Portanto, Ele, por definição, não faz nada que possa causar uma mudança em Si mesmo. Sua infinitude, Sua onipotência, Sua unicidade, Sua eternidade e Sua não-fisicalidade, entre todos os Seus demais atributos, são atemporais e, portanto, eternos e imutáveis.
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