Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

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frase no sentido de que as ações de Rivca foram tão boas e tão íntegras como as de Sarah, sua sogra. (Onkelos era um converso famoso a Judaismo em tempos de Talmudicos (35-120 E.C.) e sobrinho do imperador Romano Titus.  É considerado ser o autor do famoso Targum Onkelos (110 E.C.)).

Segundo a interpretação de Rashi (Rabi Shlomo Yitzhaki, 1040 E.C.- 1105 E.C., foi um rabino da França, famoso como o autor dos primeiros comentários compreensivos sobre o Talmud, Torá e Tanach),  Rivca (Rebeca) assumiu as características de Sarah em relação a três mitsvot fundamentais. Em primeiro lugar, quando acendiam as velas na sexta-feira à tarde em honra ao Shabat, as velas não se extinguiam no período normal de tempo, mas permaneciam milagrosamente acesas desde a tarde de sexta-feira até a tarde da sexta-feira seguinte. Em segundo lugar, a chalá que assava para o Shabat também se mantinha milagrosamente fresca durante toda a semana. Em terceiro lugar, devido a sua meticulosa observância de Taharat Hamishpachá (Leis de Pureza Familiar), a Divina Presença pairava sobre sua tenda na forma de uma nuvem especial (Gur Ariê).

Por que Rashi apresentou as mitsvot nesta ordem: velas, chalá e depois Taharat Hamishpachá? Acender as velas do Shabat é a primeira mitsvá feminina que se confia a uma menina. Rivca foi levada pela primeira vez à tenda de Sarah e acendeu ali as velas com a idade de três anos. Os eruditos da Torá deduziram portanto que três anos é a idade, desde tempos imemoriais, em que as meninas começam a acender as velas em honra ao Shabat.

A chalá é uma referência à mitsvá de separar e queimar uma pequena quantidade de massa ao assar o pão. Esta mitsvá também é ensinada às meninas se, e quando, começam a assar, obviamente algum tempo depois de completarem três anos e está ligada com a mitsvá de cashrut.

Taharat Hamishpachá se menciona em terceiro lugar por que esta é, cronologicamente, a última das mitsvot especialmente encomendadas à mulher. Na noite anterior ao casamento a mulher judia tem a mitsvá de submergir no micvê. Deste modo, santifica seu matrimônio desde o início, como aprendemos com os exemplos de Sarah e Rivca, pois cada uma destas três mitsvot traz grandes bênçãos ao lar judaico.

Quando uma mulher não está presente ou não se encontra em condições de fazê-lo, o homem deve cumprir a mitsvá de acender as velas e separar a massa. Portanto, devemos supor que Avraham, que observava a Torá em todos os seus detalhes, acendeu as velas durante os três anos posteriores ao falecimento de Sarah, até que Rivca foi levada à sua tenda. No entanto, o texto menciona unicamente que a bênção retornou somente quando Rivca acendeu as velas, embora esta tivesse apenas três anos de idade. Isto nos ensina que as mulheres e as meninas têm o poder inerente de fazer com que a luz e a paz espirituais se manifestem no mundo físico.

  1. O casamento e os Dez Mandamentos – Com a entrega dos Dez Mandamentos aprendemos importantes ligações entre a Torá, a mulher judia e o casamento em geral. D’us entregou as tábuas a Moshê (Moises) “quando terminou de falar com este” (Shemot/Êxodo 31:18). A palavra hebraica kejalotô (quando ele termina) se relaciona etimologicamente com a palavra calá (noiva).

Nossos Sábios ampliam e desenvolvem este conceito de forma muito bonita: as tábuas foram escritas pelo dedo de D’us. Do mesmo modo se decreta no céu que um casal em particular se una em matrimônio. Havia duas tábuas separadas, mas estas estavam unidas por um inseparável vínculo de pedra. Também eram idênticas em tamanho e formato. No casamento, duas pessoas separadas se unem como iguais. Elas fundem o afeto que sentem uma pela outra e se unem. As tábuas eram feitas de uma substância material – a pedra – mas a inscrição era Divina, uma escritura Celestial (gravada na pedra). O casamento significa união física, mas esta união deve conter também os elementos espirituais do respeito, afeto, lealdade e devoção. Estes são atributos que aliviam as responsabilidades contraídas no casamento, assim como as letras Celestiais faziam com que as tábuas ficassem leves para que Moshê as pudesse carregar.

Segundo a tradição, Moshê enriqueceu devido a uns pedaços de pedra preciosa que havia encontrado. D’us ordenou que estas pedras pertencessem a Moshê. Do mesmo modo, nossos Sábios nos ensinaram que as riquezas e o êxito material, a paz e a luz no lar estão diretamente ligadas com as mitsvot da mulher e o poder que ela tem de atrair bênçãos ao mundo e a sua família, em particular.

Assim como as duas tábuas de D’us nunca se dividiram, mas permaneceram juntas, o casal deve resolver enfrentar o futuro juntos, com esperança, coragem e determinação para conseguir o êxito. Assim como os mandamentos de D’us preencheram as tábuas, nossa vida familiar deve abraçar a mensagem Divina.

Marido e mulher devem dedicar sua vida conjugal aos princípios de nossa Torá e prestar atenção especial às leis da pureza familiar, Taharat Hamishpachá. Tendo D’us como parceiro neste sagrado projeto, todo casamento tem o potencial pleno e a segurança quase absoluta de conseguir êxito e satisfação completas e duradouras. [1]

  1. A importância da pureza familiar – Se você está para casar, ou já completou um, dez, vinte, cinqüenta anos de união conjugal, leia com atenção, pois nunca é tarde demais para entender a importância da pureza familiar. O Talmud ensina que o relacionamento entre marido e mulher é uma união concebida nos céus, a forma mais elevada de amor interpessoal. Um casamento judaico é uma instituição sagrada onde o amor entre o marido e mulher é puro e santificado. A santidade do relacionamento matrimonial, os fortalecimentos do lar e da família são regidos pelas leis de pureza familiar (preparativos e normas prescritos pela lei judaica para imersão na Mikvê)

O cumprimento desse mandamento bíblico exerce profunda influência sobre todas as gerações, passadas e futuras. Taharat Hamishpachá (Pureza Familiar) revigora o casamento mensalmente. Pode-se dizer que o marido e a mulher que cumprem esse preceito são os verdadeiros “românticos”, em lua-de-mel doze vezes por ano.

Em resumo, Taharat Hamishpachá rege que um casal pode manter relações conjugais até a chegada da menstruação. Depois de sete dias que o fluxo menstrual cessou (e não antes do décimo segundo dia desde o início das regras), a mulher mergulha na Mikvê (traduzindo literalmente, Mikvê significa um ajuntamento de águas). É geralmente uma pequena piscina que armazena água natural, conservada a uma temperatura morna e prazerosa. A Mikvê, construída meticulosamente de acordo com a lei judaica tem a profundidade de 1m20cm, com acesso por meio de degraus. As Mikvaots são limpas, bonitas e prezam pela intimidade de suas freqüentadoras, com dependências adjacentes contendo todas as facilidades necessárias para a preparação da imersão. Após cumprir essa Mitzvá, marido e mulher podem voltar a ter relações conjugais. Dessa forma, a intimidade é elevada a uma experiência sublime.

Durante o período que o casal abstém-se de contato físico, relaciona-se de maneiras não físicas, aprendendo a dialogar e a compartilhar. O casal desenvolve outras formas significativas de expressar amor, afeição e apreço, transcendendo o físico.

D’s, em sua bendita sabedoria, nos deu esses mandamentos relativos às leis de pureza familiar.

Para quem não está acostumada a seguir a tradição judaica, essas leis podem parecer absurdas e até mesmo com muitas restrições. Mas certamente quem começa a conhecê-las e praticá-las, verá que é um manual de como fazer um casamento dar certo e ser feliz. Ao casar, o marido e a mulher se tornam uma alma só, e durante a vida conjugal, podem manter relações no tempo permitido.

As leis de pureza familiar são a base da santidade do lar judaico. Através do cumprimento desse preceito podemos sentir uma santidade maior em nossas vidas. O motivo mais profundo dessa Mitzvá está além de nossa compreensão, porém através de pesquisas e estatísticas podemos entender melhor essa Mitzvá.

Pesquisas mostram que o cumprimento dessas leis trazem uma felicidade maior para o casal, saúde para o homem e para a mulher e satisfação mútua na vida conjugal, enquanto que as relações sexuais nas horas erradas podem atrapalhar o ciclo menstrual, trazer infecções e até mesmo câncer de útero. Através das verificações feitas pela mulher em si mesma para saber se está impura, ela pode detectar doenças numa fase inicial, o que facilita a sua cura.

Em mulheres que cumprem as leis de pureza familiar a chance de virem a ter câncer de útero é vinte vezes menor. Pesquisas indicam que onze dias após o começo da menstruação, o útero está como uma ferida aberta e, a partir do décimo segundo dia, não há mais risco da doença.  Médicos e especialistas dizem que não manter relações nesse período pode salvar a mulher de muitas doenças. O afastamento na época de Nidá (período em que a mulher está impura devido a menstruação) é somente na parte prática. Na parte sentimental é justamente a hora do marido e mulher aumentarem o amor mútuo, conversando, ouvindo, se entendendo e um fortificando o outro com respeito, tudo isto sem fazer amor através do sexo e sim através da palavra.

Cuidar das leis de pureza familiar fortifica ainda mais o relacionamento do casal. Milhares de divórcios todos os anos são causados por uma vida rotineira. Sem as leis de pureza muitas vezes o casal da desculpa um para outro, porém com a vida de pureza familiar sempre há uma renovação do amor e do respeito de um perante o outro. Cumprindo essas leis as pessoas se salvam de muitas doenças. Além disso, a proibição de ter relações com uma mulher impura é comparado com comer em Yom Kipur, ou comer pão em Pessach. Por isso numa cidade a construção da Mikvê tem que vir antes da construção de uma sinagoga e até mesmo antes da compra de um Sêfer Torá.

Está escrito na Torá  que a maior bondade existente é o fato de lavar ou enterrar uma pessoa morta, um ato que traz impurezas, pois o morto não poderá retribuir por essa Mitzvá. Da mesma forma que essa impureza é positiva, a menstruação apesar de ser impura não é algo negativo nem um pecado, e sim algo natural que traz impureza.

Está escrito no Zohar (cabalá) que a impureza mais forte existente é a impureza da menstruação.

Impureza neste caso, não é um pecado ou algo negativo e nem sujeira física, por isso, mesmo com todos os banhos e sabões do mundo, a mulher continuará impura até que vá ao Mikvê. É importante saber que mesmo em Israel pessoas nada religiosas se esforçam em cumprir essa Mitzvá da Torah dada a sua importância. Assim sendo, mesmo mulheres não religiosas, não devem se envergonhar em ir ao Mikvê.

Muitas pessoas perguntam como pode a Mikvê purificar as mulheres. A resposta é que qualquer coisa espiritual como por exemplo o fogo e o ar, sua natureza é subir. Um fósforo, por exemplo, suaa chama sobe e vai para cima, assim como um utensílio com ar, ao colocarmos na água, o ar subirá e por isso, a mulher que está impura, ao entrar na água da Mikvê, a impureza subirá e sairá dela.  É bom lembrar, que isso faz muito bem ao casal, pois fará com que nos dias que não podem se tocar e ter relações aumente o diálogo e a amizade do casal, e nos dias que podem se tocar e ter relações mantenham sempre a chama do amor acesa. [2]

III. Relações de gênero e religiões: os papéis designados à mulher – …

No judaísmo, apesar de os homens serem considerados elevados perante as mulheres, são também considerados incompletos até se casarem. A mulher judia é chamada de “Akeret Habayit” – a fundação do lar. É ela que tem a capacidade e as características de segurar uma casa. Além disso, ela deve manter acesa a vela da religião, para isso, deve manter a pureza da alimentação kosher, de taharat hamishpachá (santidade da vida conjugal) e da educação dos filhos desde os primeiros passos dentro do judaísmo. Na sinagoga, pessoas de diferentes sexos são separadas, as mulheres sentam-se atrás de uma mechitsá e são privadas de exercer algumas funções permitidas apenas para os homens. No entanto, há argumentos de que isso não seria uma “diminuição” da mulher e sim uma diferença nos papéis designados para cada sexo. [3]

  1. Notas Sefaraditas – O movimento chassídico surgiu entre os judeus ashkenazim na Europa Oriental. O fundador desta corrente religiosa foi o Rabino Israel b.Eliezer Baal Shem-Tov (1698-1760 E.C.), o BESHT, descendente de um tsadik (justo) sefaradita (Rabino Baruch Batlan Portugali, “sefaradi descendente de judeus expulsos de Portugal e da Espanha), que formou vários discípulos para disseminar esta releitura do Judaísmo. Eles acrescentaram ao pensamento fundador, interpretações peculiares, dando origem a várias seitas chassídicas. Cujos seguidores se dividiram em pequenos “reinos” dentro das nações, obedecendo a uma liderança com o título de Rebbe ou Admor, seguindo uma sucessão hereditária destes líderes, que assim constituíram várias dinastias rabínicas. O casamento endogâmico e mesmo entre as diferentes dinastias, resultaram na formação de uma aristocracia rabínica. Várias delas chegaram até os nossos dias. É possível nomear algumas: Teitelbaum, Rokeah, Schneersohn, dentre outras. …

…Menahem Mendel Schneersohn, o 7º Lubavitcher Rebbe  – O Rebbe, como era conhecido, foi um homem incomum, fruto de gerações dedicadas à elevação espiritual.

Ele dedicou-se inteiramente ao seu Povo, usando os mais modernos recursos de comunicação eletrônica para ampliar a sua audiência, promovendo a difusão de sua visão religiosa, baseada principalmente na educação. Promovendo as campanhas das mitsvot: amar o seu irmão judeu (ahavat Israel), educação (chinuch), estudo da Torá, colocação dos tefilim e da mezuzá, fazer caridade todos os dias da semana (sedacá), posse de livros sagrados, acender as velas do shabat e nas festas, obedecer as leis alimentares (cashrut) e pureza familiar (taharat hamishpachá). [4]

  1. O Livro, Taharat Yosef-La Pureza de Yosef (Taharat Yosef: As Leis da Pureza Familiar para Sefaradim) –  é um resumo claro e conciso do vasto corpo de leis que compõem o mitzvah de pureza familiar. É o livro de referência perfeita para casais interessados ​​em devida observância deste mitzvah complexo. Escrita e compõe por Harav Avraham Yossef, rabino-chefe de Cholon. Este livro é atualizado, revisado e re-editado edição do Torat HaTaharah, escrito por Rav David Yossef  Shlita que foi baseado na famosa obra  Habayit Taharat  escrito por o Maran  Rishon Le Zion, Rabeinu Ovadia Yoseff  Shlita, com base nas decisões do Maran Rav Yosef  Karo. [5]

Fontes:

[1] Chabad: http://www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/hamishpacha/home.html

[2] http://www.kolelrio.com.br/artigos/relacionamento/rel002.asp

[3] XI Salão de Iniciação Científica PUCRS, Kyndze Rodrigues Hörlle, Ana Pereira Terra, Alice Einloft Brunnet, Adolfo Pizzinato (orientador), Dulce Baldo (Orientadora), Faculdade de Psicologia, PUCRS: http://www.pucrs.br/edipucrs/XISalaoIC/Ciencias_Humanas/Psicologia/84232-KYNDZERODRIGUESHORLLE.pdf

[4] Boletim da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil, fev 2004: http://www.ahjb.org.br/pdf/jornal_feb04.pdf

[5] Seforim Center: http://www.seforimcenter.com/product.asp?cookiecheck=yes&numPageStartPosition=1&P_ID=6758&strPageHistory=cat&strKeywords=&strSearchCriteria=&PT_ID=72

 

Coordenador: Saul S. Gefter



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