Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

Tempo de leitura: 17 Minutos
  1. Tsedacá: Caridade ou Justiça? Nas Grandes Festas, quando comparecemos perante D’us para o julgamento de nossas ações, lembramos que por pior que seja o nosso rol, sempre é possível evitar a má sorte através de Teshuvá, Tefilá e Tsedacá – arrependimento, prece e caridade. O arrependimento sincero das falhas cometidas no passado deve incluir a firme resolução de fazer apenas boas ações no futuro. A prece é o meio de comunhão com D’us e nossas três orações diárias – de manhã, à tarde e à noite – estão contidas no Sidur.

Analisemos mais detalhadamente a caridade. – Nossos sábios falam freqüentemente de Tsedacá como uma grande mitsvá que pode até mesmo salvar da morte certa. A razão pela qual a Tsedacá é tão importante reside no fato de que ela representa o esforço “total” por parte do doador. Isto quer dizer que, enquanto as outras mitsvot são cumpridas com uma determinada parte do corpo – por exemplo: Tefilin são colocados no braço e na cabeça; o estudo da Torá requer concentração mental, etc. – Tsedacá é uma contribuição feita de corpo inteiro, pois requer o envolvimento total do indivíduo, tanto físico como mental pelo trabalho que leva a ganhar dinheiro. Qualquer quinhão da quantia ganha doada para caridade é parte deste esforço “total”. Além disto, a caridade dada a um pobre salva sua vida ou, pelo menos lhe permite viver por um determinado período. Por isto a Tsedacá tem a qualidade de “salvar vida”.

Traduzimos Tsedacá como “caridade” somente porque é difícil achar em português uma palavra que traduza o seu verdadeiro sentido. Pois, do ponto de vista judaico, Tsedacá é diferente de caridade. Em geral, as pessoas pensam, que ao doar algo a um pobre ou a uma instituição de caridade, dão algo que lhes pertence integralmente e, portanto, fa-zem um ato de bondade para o qual merecem agradecimento. Mas a palavra Tsedacá em hebraico significa na realidade “um ato de justiça”. Dar Tsedacá é algo que devemos fazer, não como um ato de bondade, mas como um dever e obrigação, tal como pagar uma dívida.

Nós acreditamos em D’us – não somente por ter Ele criado o mundo, mas também porque Ele conduz e determina tudo: os destinos individuais dos homens, dos animais, da plantas e até a última partícula de areia da praia. Tudo que temos é dado por D’us, pois tudo é d’Ele. Quando doamos algo a um necessitado, não damos algo que nos pertence, mas sim algo que é de D’us; somos os “agentes” d’Ele. Portanto, não se trata de um ato de graça devido à nossa bondade, mas de um dever e de uma dívida. É como se alguém nos desse uma soma em dinheiro, dizendo: “Tome uma parte para você e distribua o resto entre os pobres.” Desfazer-se do dinheiro é como se fora um teste. E, embora sejamos tentados a repartir o menos possível,

D’us nos recompensa generosamente ao darmos Tsedacá “da Sua conta” e por isso, a Tsedacá é um ótimo investimento, sob qualquer ponto de vista.

Quanto devo dar? Temos algo mais a dizer sobre esta grande mitsvá. A questão é: quanto devemos dar como Tsedacá? Qualquer mitsvá tem suas regras quanto ao tamanho e quantidade. Por exemplo, Tsitsit devem ter quatro fios dobrados perfazendo oito em cada um dos quatro cantos e a própria veste deve ter um certo tamanho; da mesma forma, os Tefilin devem ter certas dimensões; a Sucá tem as suas medidas estabelecidas e assim por diante. A Tsedacá também tem seus regulamentos. De acordo com a Lei da Torá, devemos dar pelo menos um décimo dos nossos ganhos para Tsedacá. Se acharmos que devemos dar mais, podemos dar até o dobro dessa quantia.

O primeiro Rebe de Chabad, Rabi Shneur Zalman de Liadi, disse que se queremos dar mais que um quinto dos nosso ganhos para Tsedacá, podemos “quebrar” essa Lei sem entrar em nenhum problema; pelo contrário, só nos trará benefícios. Se uma pessoa pode dizer com toda certeza que nunca transgrediu nenhuma lei da Torá e conduz sua vida estritamente de acordo com o Código da Lei Judaica, pode seguir estritamente também a lei da Tsedacá no valor de dez a vinte por cento dos seus ganhos. Mas quem pode fazer honestamente esta afirmação? Certamente bem poucos. É portanto aconselhável para a maior parte das pessoas não levar em consideração o limite de 20% e doar mais do que isso.

Doar Tsedacá acima da quantia limite, certamente colocará a pessoa em uma situação melhor, principalmente quando quiser reparar algum ato errado que porventura tenha cometido. Além do mais, diz este sábio, quando oramos, não pedimos a D’us que nos dê as coisas apenas em medida restrita e exata; rezamos por Sua bondade e misericórdia que são infinitas e incomensuráveis. Rezamos a D’us para que seja bondoso e generoso, mesmo quando não o merecemos. De qualquer modo, D’us não nos deve absolutamente nada e, no entanto, nos dá com generosidade o tempo todo. Assim, o mínimo que podemos fazer é agir da mesma maneira para com os outros que necessitam de ajuda. É especialmente importante lembrar disto durante o período dos Dez Dias de Arrependimento, em particular nos Dias de Julgamento de Rosh Hashaná e Yom Kipur, quando as boas ações e as falhas são colocadas na balança da Justiça. Se o julgamento Divino fosse conduzido estritamente de acordo com as anotações, quem poderia ter certeza sobre o veredito? Não queremos arriscar al-go assim. Antes, oramos a D’us para que Ele deixe de lado as balanças e os pesos e pedimos que nos dê vida, boa saúde e todas as coisas boas sem medida. Seria, portanto, conveniente também agir dessa mesma maneira – esquecer as medidas de Tsedacá e dar mais do que a lei exige.

Os sábios dizem, que não importa qual seja o motivo, é sempre bom dar Tsedacá, pois, antes de tudo, o pobre deve ser alimentado e vestido e as instruções da Torá devem ser mantidas. Portanto, mesmo que alguém queira dar Tsedacá porque quer se destacar na comunidade, se tornar rico, porque há doença na família ou porque não suporta ver alguém necessitada – ainda é uma mitsvá.

A forma mais elevada de doar Tsedacá, todavia, é aquela que é dada porque D’us nos mandou dar, sem pensar em nenhum proveito pessoal. Por isto, a forma mais elevada de Tsedacá é a contribuição anônima, na qual aquele que se beneficia desconhece o doador e nem mesmo sabe a quem agradecer, a não ser a D’us. Mas não somente o rico é obrigado a dar Tsedacá. A Lei aplica-se igualmente a todos, rico ou pobre. Mesmo um pedinte que vive de Tsedacá deve também dar Tsedacá. Até um jovem que recebe mesada de seu pai deve doar uma parte como Tsedacá.

Convém lembrar que Tsedacá não é necessariamente uma contribuição em dinheiro. A ajuda prestada pode ser de muitas outras maneiras: dedicar parte do esforço ou tempo; animar com uma palavra de encorajamento. Acima de tudo, há a Tsedacá de ajuda espiritual. Há homens ricos, não em dinheiro, mas em conhecimento. Quando uma pessoa que conhece mais Torá ensina alguém de menor conhecimento, está repartindo Tsedacá espiritual, que talvez seja uma mitsvá maior que a ajuda financeira. Neste campo também há várias possibilidades, especialmente para os estudantes de Yeshivá que podem praticar Tsedacá com jovens de sua idade – “pobres” em conhecimento de Torá. Embora a Tsedacá seja tão importante e possa até salvar vidas, não devemos pensar erroneamente que somente com Tsedacá cumprimos todas as obrigações e deveres de um judeu. Tsedacá é apenas uma das “pernas do tripé” sobre a qual se apoia o mundo, como afirmam os sábios: “O mundo se apoia sobre três pilares, a Torá, o serviço Divino (i.e., as preces) e a prática da bondade amorosa (da qual faz parte a Tsedacá).”

A Tsedacá torna o indivíduo um bom homem e parcialmente um bom judeu. Para ser um bom judeu na íntegra, é necessário possuir as outras duas bases também – ter participação na Torá através de seu estudo e do apoio estendido às instituições onde a Torá é estudada; além de servir a D’us através das orações e do cumprimento dos preceitos religiosos. [1]

  1. Judaísmo e justiça social por Rabino Henry I. Sobel, Z”LNo Ano Novo judaico, …, comemoramos o aniversário do universo, de toda a humanidade. A fome e a miséria em nosso país constituem um escândalo social e moral ao qual não podemos mais fechar os olhos. Nada, mas nada mesmo, é mais urgente no Brasil de 2000 do que o combate à fome. É verdade que somente a ação governamental pode cortar pela raiz esse mal tão profundo e persistente. Existem, porém, muitas medidas que nós, indivíduos e grupos de cidadãos, podemos tomar para atenuá-lo.

Para nós, judeus, ajudar os necessitados é um imperativo ético e religioso. A justiça social é uma constante em nossa Torá, o Antigo Testamento. Nossos profetas -Amós, Ezequiel, Isaías, Jeremias- condenavam a indiferença aos pobres como um pecado mais grave do que não render culto a D’us. A palavra hebraica que expressa o conceito de caridade é “tzedaká”. “Tzedaká” significa justiça. Alimentar um faminto não é um ato de condescendência, não é na verdade um ato de caridade. É um dever de justiça. O objetivo de “tzedaká” é restituir a um ser humano a dignidade que D’us lhe deu. O que a tradição judaica está nos dizendo é que, quando se trata de alimentar quem está com fome, vestir quem está com frio e abrigar quem não tem onde morar, não se pode depender unicamente do sentimento humano. Faz-se necessário um ato de justiça. No Talmud encontra-se uma afirmação interessante: “Mesmo aquele que dá a um pobre apenas uma prutá -a menor das moedas- tem o privilégio de sentir a presença divina”. Há algo de muito especial no ato de “tzedaká”; tão especial que a quantia dada é muitas vezes secundária em relação ao ato em si. Mesmo a doação mais insignificante (“insignificante” em termos monetários), quando feita no espírito certo, na hora certa e no lugar certo, permite ao doador captar o sentido mais profundo e mais alto da vida. É óbvio que a comunidade judaica não tem condições de nutrir sozinha toda uma população. Mas temos o dever de colaborar. E, ao cumprir esse dever, talvez estejamos nutrindo também nossa própria condição humana.

No folclore judaico, há várias anedotas sobre a cidade de Chelm, conhecida pela baixa inteligência de seus habitantes. Conta uma delas que certa vez criou-se em Chelm uma polêmica a respeito do shofar (o chifre de carneiro que era utilizado como instrumento musical nos tempos bíblicos e que é tradicionalmente soado nos serviços religiosos do Ano Novo judaico): o shofar deve ser soprado pelo lado mais estreito ou pelo lado mais largo? Depois de muita discussão, a questão foi levada ao rabino. Com sua grande sabedoria, o rabino percebeu que aquela pergunta, aparentemente ridícula, era muito mais profunda do que parecia à primeira vista. O que se estava questionando era a definição da identidade judaica e o próprio caráter do judaísmo. Sua resposta foi esta: “A extremidade pela qual se sopra o shofar depende da finalidade com que se sopra o shofar”. Aqueles judeus que consideram o judaísmo provinciano, estreito demais, fazem questão de soprar o shofar pelo lado mais largo. São eles os judeus cosmopolitas, sofisticados, intelectuais e universalistas que não se definem como membros de uma comunidade em particular, e sim como cidadãos do mundo. Sua lealdade é para com a humanidade como um todo. Meu próprio professor de filosofia no Hebrew Union College, Harry Orlinsky, que defendia fervorosamente a luta pela autodeterminação dos mais variados grupos étnicos e religiosos, desprezava o sionismo, considerando-o “um movimento excessivamente chauvinista”.

Aos ouvidos desses universalistas, desses “judeus não-judeus”, o protesto de toda e qualquer minoria -seja de pele branca, negra, amarela ou vermelha- ressoa nobremente, exceto o protesto da minoria judaica. Para eles, o pranto do judeu é um choramingo. A meu ver, tal cosmopolitismo, soprado pela extremidade larga do shofar, soa oco. É um idealismo ingênuo, que desconsidera a sabedoria do mandamento bíblico: “Amar o próximo como a si mesmo”. Antes de amar a humanidade em geral, é preciso amar seu próprio povo. A compaixão, a solidariedade e a filantropia começam em casa.

Não é de estranhar que muitos judeus se oponham ao pseudo-universalismo da elite intelectual judaica. O problema é que alguns caem no extremo oposto e insistem em soprar o shofar sempre pelo lado mais estreito. Vivem dizendo que a lição mais importante da história judaica, principalmente do Holocausto, é: “Im ein ani li, mi li?” – “Se nós, judeus, não cuidarmos de nós mesmos, quem cuidará?”. O argumento mais usado por esses judeus para justificar seu raciocínio é que, quando nossos irmãos estavam sendo aniquilados pelos nazistas, o mundo virou as costas. Por isso nós não devemos nada ao mundo. Devemos lealdade somente a nós mesmos.

Já são tantos os problemas que temos de enfrentar, dizem eles -os jovens que se afastam da comunidade, o ressurgimento do anti-semitismo na Europa e em outras partes do mundo-; quem tem tempo para se preocupar com o sofrimento de outros povos, de outras raças, de outros grupos étnicos? Por que acrescentar à já lotada agenda judaica a tragédia das crianças aidéticas da África ou a dos menores famintos do Brasil? Quem nos defendeu quando crianças judias estavam sendo massacradas em Auschwitz?

O particularismo daqueles que sopram o shofar pelo lado estreito também soa oco. Existe algo de moralmente irresponsável em seu conselho. Nós, judeus, que sempre nos queixamos da passividade da igreja durante os anos sombrios do regime nazista, será que temos o direito de exigir da igreja uma moralidade que não exigimos da sinagoga? Será que a lógica do Holocausto sustenta a tese “Ninguém nos ajudou, portanto não ajudaremos a ninguém”?

Por qual lado do shofar se deve soprar é uma questão com que se defronta todo e qualquer judeu pensante, toda e qualquer comunidade judaica séria. A polêmica travada em Chelm surge e ressurge diariamente. A miséria é um problema judaico ou um problema humano? A fome é um problema judaico ou humano? A violência é um problema judaico ou humano? O preconceito contra outras minorias é um problema judaico ou humano?

A própria formulação da pergunta é maliciosa. A implicação é que temos de escolher entre ser judeus ou ser seres humanos, como se fossem duas categorias excludentes. Trata-se de uma falsa escolha, que contraria o judaísmo. Existe uma resposta judaica para a miséria, para a fome, para a violência e para o preconceito. Tais respostas não provêm da cabeça de um liberal maluco, mas de uma tradição de mais de 4.000 anos.

O Talmud estipula os requisitos necessários para que um shofar possa ser usado nas grandes festas. Um shofar que se quebrou em duas partes e depois foi restaurado não é válido. E por quê? Porque o som que emite parece provir de dois shofares diferentes. A voz deve emanar de um único shofar, inteiro e perfeito. Assim como existe um D’us, um mundo, uma humanidade, o shofar não pode ser tocado em duas vozes distintas. O que está faltando é o corolário que o próprio sábio Hillel acrescentou: “U’che’she’ani le’atzmi, ma ani?” – “Se nós judeus cuidamos apenas de nós mesmos, o que somos?”

A ética do universalismo judaico é parte integrante da herança judaica. Em Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico, que se iniciou este ano na noite de 29 de setembro, os judeus não comemoram o aniversário do seu povo nem o nascimento do fundador da fé judaica. O que comemoramos é o aniversário do universo e da humanidade. Nas palavras do Machzor, nosso livro de orações, “Hayom harat olam” -“Hoje o mundo foi criado. Hoje todas as criaturas do universo são julgadas”.

O que se deve dizer àqueles que alegam que o fardo é pesado demais, que já é suficientemente difícil ser judeu, que acrescentar responsabilidade pelas injustiças no mundo inteiro é absurdo? A eles deve-se dizer que o judaísmo é uma fé inextrincavelmente ligada ao destino da humanidade. Esse é o sentido maior do judaísmo.

O nome do D’us que bendizemos é Ribono Shel Olam, não Ribono Shel Yisrael; o Soberano do Universo, não um soberano exclusivo, particular, privativo de Israel.

Ser judeu é envolver-se com seu próprio povo e, por meio de seu próprio povo, com o mundo. Nós, judeus brasileiros, vivemos num país em que 300 mil crianças morrem de fome a cada ano. Isso é problema delas ou um problema nosso? Um judeu que acredita em Deus não pode se desvincular do mundo que D’us criou. É claro que não podemos sanar todos os males do mundo. Mas devemos fazer tudo o que podemos.

Àqueles que consideram essa definição de judaísmo grande demais, ampla demais, larga demais, abrangente demais, eu pergunto: “D’us é grande demais?”. Ser judeu é ser um aliado de Deus, é ser co-criador e co-santificador do mundo. Essa é a grandeza do judaísmo; essa é sua singularidade, seu encanto, sua emoção, seu desafio.

Able Nathan, um israelense que se dedica a promover a paz, ergueu na Somália, próximo à fronteira com o Quênia, um acampamento para 40 mil crianças somalis. Na entrada de cada barraca há uma faixa com as palavras “Mi’Yerushalayim b’achavá”, “De Jerusalém, com amor”.

Grande demais, amplo demais, largo demais, abrangente demais, trabalhoso demais? Não para o povo judeu -um povo dotado de visão universal, um povo que serve ao D’us do mundo inteiro. Um povo que sopra o shofar pelo lado estreito, pelo lado da singularidade judaica, e faz sua voz irromper pelo lado mais largo, sonora e ampliada, chegando aos ouvidos de toda a humanidade.

Eabino Henry I. Sobel, Z”L, era presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista e coordenador da representação judaica da Comissão Nacional de Diálogo Religioso Católico-Judaico, órgão da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). [2]

III. A Justica Social – Uma Visao Judaica, O livro pelo Berbardo Kliksberg (Editora Saraiva) – Este livro traz: Que diz o judaísmo sobre a pobreza, a justiça e a solidariedade? Sete teses para reflexão; Um começo de século com um panorama social inquietante; 1ª Tese: O judaísmo exige o compromisso com o outro e com a ação; 2ª Tese: Para o judaísmo, a pobreza não é inevitável; 3ª Tese: O judaísmo tem se preocupado com a injustiça desde suas origens; 4ª Tese A sociedade deve intervir ativamente na solução dos problemas sociais; 5ª Tese: Cada pessoa deve assumir sua responsabilidade frente aos problemas sociais; 6ª Tese O judaísmo procura educar o coração para a solidariedade; 7ª Tese: O judaísmo tem uma proposta perante a pobreza e desigualdade;… e outros temas. [3]

  1. A luta judaica pela justiça social – Desde o início da história do mundo, vemos que as injustiças sociais acabaram por arruinar as sociedades. Este foi o caso explícito da geração do Dilúvio, de Sodoma e Gomorra e da decadência de outros impérios. Portanto, a questão da justiça social é de vital importância para a continuidade sadia da sociedade como um todo.

O judaísmo, através da mitsvá (boa ação) da tsedacá (benevolência) — que etimologicamente provém da palavra tsedec, significando “justiça” —, estabelece uma ligação entre os dois termos.

A tsedacá acarretará um tsedec na sociedade; ou, mais claramente, a bondade tem a função de estabelecer a justiça social. O fato de a Torá ter transformado a tsedacá numa obrigação reforça fortemente a noção da generosidade.

Todavia, falando da tsedacá como obrigação moral, o judaísmo se dirige ao indivíduo em linguagem singular. Apela então à consciência do homem, não a considerando uma obrigação coletiva.

A justiça social nos versículos bíblicos – Assim você encontrará nos versículos do Deuteronômio (15:7-10): “Quando, num assentamento na terra que D’us, teu Senhor, está te dando, qualquer de teus irmãos é pobre, não endureças teu coração ou feches tua mão contra teu irmão necessitado. Abre tua mão generosamente, e estende-lhe qualquer crédito de que ele necessita para cuidar de suas carências. Sê muito cuidadoso para que tu não tenhas uma ideia irresponsável e digas para ti mesmo: ‘O sétimo ano está se aproximando, e ele será um ano de remissão’. Tu podes então olhar perversamente para teu irmão empobrecido, e não lhe dar nada. Se ele então reclama a D’us a teu respeito, tu então terás um pecado. Portanto, faze todo esforço para dar-lhe e não te sintas mal em dar-lhe, uma vez que D’us te abençoará em todos os teus empreendimentos, não importa o que tu fizeres.” Observem bem como todos esses versículos estão no singular. A dimensão pessoal que a Torá enfatiza sobre o altruísmo e a benevolência se expressa na prática de duas seguintes formas: a) se a comunidade ou o governo, por qualquer motivo, não cuida da justiça social, esta continua naturalmente sendo obrigação do individuo; b) a tsedacá não se limita a uma assistência financeira.

A carência é um estado recuperável à pessoa – Os nossos sábios do Talmud aprenderam do versículo supra­citado (“qualquer crédito que ele necessita para cuidar de suas carências”) que devemos prover o carente de tudo o que ele necessita: assisti-lo moralmente, restituir a sua honra e a vida que ele estava acostumado; de modo geral, considerar a situação de cada indivíduo e reerguê-lo com dignidade. A visão judaica possui uma abordagem realista e uma vasta experiência milenar de como combater a injustiça social. Basta citar o testemunho do grande filósofo e legislador Maimônides (séc. XII): “Nunca vimos ou ouvimos falar de uma comunidade judaica no mundo que não tenha organizado o seu Fundo de Assistência (tsedacá) (Leis dos Presentes aos Necessitados, capítulo 9, artigo 3). Lembremos o que o salmista Rei David escreve (41:2): “Louvável é aquele que entende o pobre”. A literatura midráshica ressalta que não está escrito “louvável é aquele que dá”, mas “aquele que entende o pobre”. Extraído do prefácio do livro “A Luta Pela Justiça Social”) [4]

Fontes: [1] Chabad: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1830742/jewish/Tsedac-Caridade-ou-Justia.htm [2] Folha de Sao Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz3009200009.htm [3] https://www.saraiva.com.br/a-justica-social-uma-visao-judaica-459668/p [4] http://legalsaber.com.br/justica-social/

Coordenador: Saul Stuart Gefter



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