Congregação Judaica Shaarei Shalom – שערי שלום

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  1. Introdução – Entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, segundo a tradição judaica, D’us julga o mundo. É um período marcado por profunda reflexão e arrependimento e pelo compromisso de adotar condutas e posturas que nos tornem seres humanos melhores. [1]

O primeiro dia de Tishrei foi denominado pela nossa Torá como Yom Teruá (Dia do Toque do Shofar) ou Yom Zichron Teruá (Dia Rocordatório do Toque do Shofar) e pelos nosssos Sábios foi chamado Rosh Hashaná (Cabeça do Ano), Yom Hazikaron (Dia do Recordatório) e Yom Hadin (Dia do Juízo). Entre os seus diferentes nomes encontramos um múltiplo significado e a tendência deste dia.

Dia do toque do Shofar – ““E o primeiro dia do sétimo mês será sagrada convocação, não realizareis nenhum trabalho.  Será o dia do toque do Shofar” (Bamidbat/Nùmeros.29:1). O toque do shofar não é apenas o preceito Divino que caracteriza este solene dia, senão que leva consigo um grande significado espiritual, como explica Rabi Moshé ben Maimón (Maimónides):

““O mandamento de fazer tocar o Shofar neste dia tem um significado profundo:”Despertai do vosso sonho, dorminhões… e meditai sobre os vossos actos!  Recordai o vosso Criador e retornai a Ele em penitência.  Não sejais como aqueles que passam por alto as realidades na busca de sombras e perdem os seus anos na perseguição de coisas vãs que não podem beneficiar nem libertar.  Olhai bem pelas vossas almas e considerai os vossos actos, abundai cada um de vós os caminhos erróneos e os pensamentos impróprios e retornai ao Eterno” (Leis do Arrependimento 3:4).

O grande Rabi Saadia HaGaon, comentou que o shofar recorda-nos os seguintes dez aspectos:

Princípio da Criação e dia da coroação do Rei, o Shofar proclama a coroação do Todo Poderoso como Rei do Universo. Pregão de retorno ao bom caminho.

Comemoração da Revelação no Sinai.  Recordação das exortações dos profetas para não abandonar nunca o bem e o Caminho Divino.  Comemoração das destruições dos Templos e das atrocidades das guerras inimigas, recordando as causas que nos levam a ele.  Evocação do sacrifício de Isaac, indica-nos a firme disposição de Avraham e de Isaac, o primeiro a sacrificar o mais querido e o segundo a entregar a sua própria vida perante o chamamento do dever.  O som do shofar provoca temor  que nos manterá em constante alerta.  Ter presente o Dia do Grande Juízo e temê-lo, que alerta a consciência.  Profecia sobre a união das diásporas, que se levará cabo com um poderoso soar de trombetas que anunciarão, ao mesmo tempo a redenção de Israel.  Profecia sobre a Ressurreição dos mortos e da vida eterna que os justos aguardam.

Dia do Juízo – “O primeiro dia de Tishrei, Rosh Hasnaná”, expressa a Mishná.

O conceito da vida é contemplado por nossos Sábios como um ciclo que finaliza no mesmo momento onde começa.  É por isso que o primeiro dia de Tishrei converte-se na finalização do ano e no início do que entra.

Como cláusula de um ciclo, Rosh Hashaná, convida-nos à recapitulação, ao exame de consciência, ao Yom Hadin (Dia do Juízo).  A pessoa é responsável pelos seus actos e por conseguinte deve esperar o castigo ou a recompensa pelos mesmos. A liberdade de eleição impõe-nos a responsabilidade.  Apenas o escravo não está exposto ao castigo, pois não é livre no seu comportamento.

Depois do Juízo vem a esperança na Bondade Divina, como disse o Midrash Rabbá (Vaikrà /Levìtico 29:5):  “Tocai trombeta no novilúnio”.  Neste mês rectificareis as vossas acções.  O Consagrado, Bendito seja, disse:  ”Se melhorais os vossos actos, Eu serei como uma trombeta (Shofar) para vós.  Assim como o Shofar aspira (alento) por um extremo e expele pelo outro, assim Eu Me levantarei do Trono do Juízo e Me sentarei no Trono da Misericórdia… no sétimo mês”.

Dia da Lembrança – Entramos no novo ano assumindo a nossa responsabilidade, com a esperança de que o passado nos tenha servido de ensino para o futuro, com uma diferença do conceito pagão no qual o ano novo se converte numa oportunidade para o excesso, o abuso, o júbilo e até para a promiscuidade.

  1. Leis de Rosh Hashaná – “E o primeiro dia do sétimo mês (Tishrei) será sagrada convocação. Não fareis nenhum trabalho. Será o dia do toque do Shofar”. (Bamidbar 29:1)

Excepto os sacrifícios correspondentes ao dia de Rosh Hashaná, que não se podem efectuar nos nossos dias devido à ausência do Templo.  São dois os preceitos desta festa:

A proibição de realizar trabalhos, assim como em Shabat e demais festas.

O preceito de tocar o Shofar. Como todo o preceito positivo tem um tempo fixo para o seu cumprimento, estão obrigados pela Torá apenas os varões maiores de treze anos e também os menores para que se eduquem no cumprimento das mitzvot.  As mulheres podem, se o desejarem (é aconselhável que se esforcem), escutar o Shofar, pois entre os propósitos a mitzvá está o de “remover” os corações para emendar os actos e pedir bondade a D-us.

O preceito consiste em escutar o Toque do Shofar.  Também cumpre com a mitzvá aquele que não toca mas que escuta com intenção, cumprindo com a norma talmúdica de que “aquele que escuta é como aquele que diz”.

Devido a que a Torá recorda o mandamento por vezes como Tekiá (toque longo), outras vezes como Teruá, e como não sabemos se este último é parecido a um pranto (Teruá) ou uma voz cortada (Shevarim), ou ambas ao mesmo tempo, realizamos todas as combinações possíveis:

TaShRat: Tekiá-Shevarim-Teruá-Tekiá

TaShaT: Tekiá-Shevarim-Tekiá

TaRaT: Tekiá-Teruá-Tekiá.

A repetição da Teriá deve-se à repetição em parágrafo das escrituras, pois ainda que segundo a Torá são suficientes nove toques, os nossos Sábios obrigaram-nos a repeti-los até completar cem vozes do shofar. O Shofar deve ser de corno de um animal puro (excepto o do touro, por ser maciço), preferencialmente de um carneiro para recordar com ele o animal que Avraham sacrificou em vez de Yitzchak.  É preferível que seja curvado para cima para cumprir com a citação: “Sobe a D-us com a Teruá, o Seu nome com a voz do Shofar”.”. O Shofar não deve ser de adorno, em especial no interior e nos extremos, para que não mudo o som.  Da mesma maneira, não deve estar perfurado, riscado ou emendado com remendos que modifiquem o seu som original.

Nos dias de Rosh Hashaná não se deve tocar o Shofar com a finalidade de ensaiar ou por distracção, para que evidenciem os toques obrigatórios. Ainda que segundo a Torá, Rosh Hashaná consiste em apenas um dia, os nossos Sábios da época da Mishná fixaram dois dias, dando-lhes com a mesma importância e obrigações.

III. Costumes de Rosh Hashaná – O começo é o princípio do fim de todo o processo,  por isso vieram os nossos Sábios, como costume, começar o ano com alegria e doçura. É por isso que a nossa mesa também deve expressar o carácter da festa.

Costuma-se comer, na noite de Rosh Hashaná, tâmaras, romãs, abóbora e porro; todos estes vegetais servem como bons augúrios pela sua fertilidade e rápido crescimento, ou porque se interpretam os seus nomes como desejos de boa fortuna.

Na noite do Ano Novo, repartem-se porções de cada vegetal e pronunciam-se frases cujo simbolismo favorável esperamos que se cumpra.  Desta maneira, distribuem-se entre os comestíveis as tâmaras, invocando que seja a Vontade Divina multiplicar os nossos méritos como as sementes destas frutas.  Com o mesmo sentido, se untam pedaços de maçã com mel e expressa-se o desejo de que o Senhor nos prediga um ano doce e alegre (Não se costumam comer alimentos amargos ou muito picantes durante a celebração, a fim de enfatizar estas expressões de desejos). [2]

As práticas de acender velas e do ditado kidush – uma benção sobre o vinho – são procedimentos sagrados no judaísmo por fazerem a introdução ao Shabat ou a quaisquer outros dias santos. Para o Rosh Hashaná, as velas (geralmente duas) são acesas com orações especiais ou cânticos. O Chalá é um pão especial que também acompanha a celebração do Shabat e, no Rosh Hashaná, ao invés de trançado, ele é redondo simbolizando o círculo infinito da vida e a coroa do reinado de D`us sobre os homens. Algumas pessoas pincelam o chalá com mel ao invés de sal enquanto ele está assando; isto significa o desejo Rosh Hashaná por um “ano novo doce”, e também costuma-se mergulhar maçãs no mel. De fato, durante o Rosh Hashaná come-se todo tipo de comidas doces. As maçãs e o mel simbolizam a esperança por um ano doce

No Rosh Hashaná, para expressar a importância da ocasião, é costume arrumar a mesa de jantar com linho e louça finos e usar roupas novas e especiais. Na tradição sefardita, muitas pessoas colocam cestos de frutas cobertos sobre a mesa – colocados de maneira que ninguém saiba exatamente que frutas estão lá dentro – da mesma maneira que nós não sabemos o que o ano novo nos reserva.  [3]

  1. Tashlich – Outro dos costumes, difundido em todas as comunidades judaicas que demonstram o desejo de mudar e a anulação das más acções do passado, cumpre-se com o Tashlich (despojo). Esta cerimónia, que se efectua ao entardecer do primeiro dia de Rosh Hashaná (ou no caso de coincidir com Shabat, no segundo), consiste em “deitar fora” em forma imaginária as nossa transgressões à brisa do mar ou uma corrente de água: “Novamente terá compaixão dos nossos, sujeitará as nossas iniquidades. Tu lançarás todos os pecados deles às profundezas do mar” (Michá 7:19).
  2. Aseret Yemé Teshuvá – Os dez dias que medeiam entre Rosh Hashná até Yom Kipur, foram denominados pelos nossos Sábios como os dez dias de Teshuvá (do arrependimento). Assim escreveu Rambam (Maimónides): “ Ainda que o arrependimento e a dor são sempre bem recebidos, nestes dez dias, entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, são ainda melhor recebidos”.

O judaísmo, a diferença de muitas outras essências, senão que admite a reparação e arrependimento, como disse o profeta (Oshea 14:2) : “Retorna; Israel, ao Senhor, teu D-us, porque caíste na iniquidade”, ou, nos recomenda o Rei David:  “Mesmo que tenhas a espada sobre o pescoço, não te desesperes perante a desgraça”.

Enquanto a pessoa vive pode mudar o seu futuro, como disseram os nossos Sábios:  “Volta, ainda que seja no instante antes da morte”.

Para animar-nos, Rambam defende:

“Todo aquele que retorna a D-us não deve imaginar que se encontra a uma distãncia demasiado grande do justo por causa das suas transgressões e erros do passado.  Não é assim.  É amado e querido pelo Criador como se nunca tivesse transgredido…  E não só, como também a sua recompensa é ainda maior, porque ele sentiu o gosto da transgressão e separou-se dela, dominando a sua má inclinação.  Os nossos Sábios afirmam que no lugar em se encontra de pé um Baal Teshuvá, não pode  estar nem sequer o mais perfeito dos justos.  Por outras palavras, o seu nível espiritual é superior ao de aqueles que nunca pecaram.,.. Todos os Profetas clamaram ao arrependimento e à Redenção final de Israel se alcançará através dele…” (Hilcot Teshuvá 7:4-5).

Três são os passos do verdadeiro arrependimento:

O reconhecimento da transgressão realizada.

O arrependimento do acto, que deve ser expresso pelo Vidui (reconhecimento do erro) com as palavras:  “D-us, errei, transgredi e fiz o que é mal diante de Ti e fiz…etc.  É aqui que me me arrependo e me envergonho dos meus actos e não voltarei a cometê-lo mais” (Rambam, Hilchot Teshuvá 1:1).

O verdadeiro arrependimento concretiza-se quando a pessoa se encontra nas mesmas condições e na mesma situação nas quais transgrediu anteriormente e consegue sobrepor-se e não repetir a sua má acção.

03 de Tishrei: Jejum de Guedalia – Os nossos Sábios fixaram na saída de Rosh Hashaná, o Jejum de Guedalia, em memória do assassinato de Guedalia ben Achikam, por mandato de Ishmael ben Natania, acontecimento que determinou o fim do assentamento judaico em Israel, depois da destruição do segundo templo.

  1. Leis e costumes para os dez dias de arrependimento – Nestes dias costuma-se madrugar, como no mês de Elul para recitar as Selichot.

Na reza de Shemoné Ezré (Amidá), aumentam-se quatro parágrafos (nas duas primeiras e nas últimas bênçãos), que lembram o Juízo e o desejo da vida:

“Recorda-nos para a vida, Rei que desejas a vida.  Inscreve-nos no Livro da Vida; para Ti vivemos, D-us”.

“Quem é como Tu, Pai bondoso; recordas as tuas criaturas com bondade para a vida”.

“Inscreve os filhos do Teu Povo para uma boa vida”.

“No Livro da Vida, bênção e paz, de boa manutenção, salvação, tranquilidade e bons decretos; sejamos inscritos e recordados perante Ti, nós e todo o Teu Povo de Israel para uma boa voa e paz”.

Também, no cerne da terceira e oitava bênçãos recorda-se a Divindade como Rei, com as palavras: “O Rei Consagrado” e “O Rei do Juízo”.

Se a pessoa se esqueceu de lembrar os parágrafos anteriormente citados não necessita que repetir a Amidá mas se esquece da bênção na qual se muda todo o significado, terá que voltar e recitá-la correctamente.

Na véspera de Yom Kippur – costuma-se degolar um galinha por cada membro da família, em sinal de kapará (expiação) reconhecendo que os nossos erros nos fizeram culpados da morte (simbolicamente, permutamos a nossa própria vida pela da ave).

Por intermédio desta cerimónia, abrigamos a esperança de que D-us se apiede de nós, como está escrito: “Ainda que as vossas transgressões sejam como um grão, tornar-se-ão tão brancas como a neve.  Ainda que vermelhos como o carmesim, serão como a lã” (Isa. 1:18).  Este é o motivo pelo qual se costuma escolher um galo ou uma galinha branca e entregar aos pobres o valor monetário das respectivas aves.

Na véspera de Yom Kippur, costuma-se repartir Tzedacá pelos pobres, cumprindo com a frase do Profeta:  “A Tzedacá te livrará da morte”.

Também costumamos visitar as sepulturas dos tzadikim (Justos) para lembrar o dia da morte e reconhecer a nossa obrigação de louvar a D-us neste mundo, como disse o Salmo (Tehilim/Salmos 115):  “Os mortos não  louvam D-us”.

Há quem costume ser “batidos” suave e simbolicamente com 39 chicotadas , em lembrança do castigo que teríamos que receber por muitos dos nossos erros se tivéssemos Sanhedrin (A Suprema Corte Rabínica que exercia as suas funções na época do Templo).

Ao colocar em praticar em costumes, somos consequentes com o que recitamos nas orações de Yamim Noraim:  “O arrependimento, a oração e a Tzedacá anulam os maus decretos”.

Em honra ao dia que se aproxima costuma-se visitar o Mitvé (banho ritual).

No livro Vaikrá (capítulo 23), ordena-nos a Torá:  “E afligireis vossas almas no nono dia do mês, à tarde”, e no mesmo capítulo diz-nos: “E no décimo dia do sétimo mês, Yom Kippur… e afligireis as vossas almas”.  Daqui aprenderam os nossos Sábios que quem come no nono dia é como se jejuasse durante o nono e décimo.

Esta é a razão do preceito que nos obriga a comer na véspera de Yom Kippur, para que o contraste do banquete com o jejum se sinta como um duplo jejum.

Três tipos de transgressões não são perdoadas em Yom Kippur:

O dano verbal, físico ou espiritual ao próximo, até que não se peça perdão ao afectado.  O último não deve ser rancoroso nem exigente com o seu companheiro para que D-us actue da mesma maneira e seja benevolente com ele.

A pessoa que diz:  “Transgredirei e no Dia de Kippur serei perdoado”, pois demonstra a falta de arrependimento pelo que realizou.

Aquele que faz errar o seu companheiro, ainda se se arrepende disso, aquele que foi induzido a transgredir não emendou os seus actos.

Por este motivo, costuma-se na véspera de Yom Kippur a reconciliar-se e a pedir perdão aos vizinhos, amigos e familiares, ainda que não recordemos tê-los prejudicado. [2]

  1. Yom Kippur – Tradições e Costumes – Ao longo dos séculos, as várias comunidades judaicas ao redor do mundo adotaram diversos costumes – minhaguim, para este período. São costumes que, de modo geral, refletem a maneira pela qual tais comunidades vivenciam os chamados Dias de Arrependimento. Segundo o Talmud de Jerusalém (Rosh Hashaná 1:3), “Quando uma pessoa está para ser julgada, normalmente veste roupas pretas e deixa sua barba crescer de forma desalinhada, pois desconhece qual será o seu veredito. Mas os judeus não se comportam desta maneira: vestem-se de branco, os homens aparam suas barbas e alimentam-se alegremente, certos de que D’us fará milagres por eles”.

Esta passagem talmúdica dá um tom otimista ao período das Grandes Festas (Rosh Hashaná e Yom Kipur), no qual os judeus estão felizes e confiantes. A Guemará (Taanit 26b e 30b) segue a mesma linha conceitual, afirmando que Yom Kipur é um dos dois dias mais felizes do calendário judaico. Mas, neste período, há diferenças entre os costumes mantidos pelas comunidades judaicas.

Roupa Branca x Preta – Várias comunidades sefaraditas do Oriente Médio, por exemplo, mantêm a antiga tradição de usar roupas brancas em Yom Kipur. Para os judeus desta origem a conotação de pureza dos tons claros dá um espírito de otimismo e de purificação a Yom Kipur.

No entanto, judeus de outras comunidades, tanto sefaradim como ashquenazim, usam trajes escuros assim como fazem no Shabat. Estas comunidades provavelmente adotaram o uso de roupas escuras por duas razões: A primeira é que os judeus dessas comunidades simplesmente adotaram roupas comuns a seus países de origem, pois o clima em vários países europeus era mais frio do que no Oriente Médio e as roupas escuras eram mais apropriadas.

Em segundo lugar, porque roupas escuras são sinais de luto e refletem a seriedade e solenidade do Dia do julgamento. Outra prática ashquenazita muito difundida em Yom Kipur é o uso pelos homens de uma túnica branca chamada kitel. Segundo o Sêfer Ra’avyah, tal costume pode ter-se originado no conceito de que em Yom Kipur nós nos parecemos com os anjos. Usar o kitel reflete nossa pureza espiritual nesse estado elevado. O Remá (Shulchan Aruch, Orach Chayim 610:4), por sua vez, afirma que o kitel é parecido com uma mortalha e a lembrança da morte, através da túnica, remeteria ao arrependimento.

Essas explicações refletem duas maneiras opostas de entender esta prática. De acordo com Sêfer Ra’avyah, o kitel reflete pureza e otimismo, enquanto que, segundo o Remá, esta vestimenta deve despertar o medo mortal do julgamento, dando-nos, com isso, a dimensão da intensidade do dia.

A melodia de Yom Kipur – A melodia das orações também varia de acordo com as comunidades A melodia ashquenazita que permeia as orações deste dia, desperta o temor e o medo do Yom ha-Din, Dia do Julgamento, evocando uma necessidade de apagar os erros do passado.

A melodia sefaradita, no entanto, tem vários tons mais alegres, denotando uma atitude mais positiva no sentido de se melhorar a conduta. Os dois serviços religiosos despertam sentimentos de arrependimento, mas de formas diferentes.

Um judeu ashquenazita que ouvir algumas melodias sefaraditas poderá ter a impressão de que a alegria da música não é apropriada para Yom Kipur. Um judeu sefaradita, por sua vez, ao escutar a melodia ashquenazita, poderá surpreender-se com a sua falta de entusiasmo. No entanto, as duas expressões são coerentes com os diferentes temas do dia e com a maneira pela qual cada comunidade o vivencia.Isto se reflete também na oração de Unetanê Tokef, que evoca fortes emoções de temor pelo julgamento, e que é recitada somente pelos ashkenazim, sendo um dos momentos mais solenes do dia.

Selichot: dez ou quarenta dias? Tradicionalmente, Yom Kipur celebra o perdão pelo pecado do bezerro de ouro cometido pelos judeus. O recebimento da Torá representa simbolicamente o “casamento” entre D’us e o povo judeu e é descrito de forma poética por muitos sábios. O bezerro de ouro simbolizou, então, a infidelidade de Israel diante de D’us.

Desde o início do mês de Elul até Yom Kipur – um período de quarenta dias – Moisés ficou nos céus orando e pedindo perdão pelo povo, visando reatar a relação com D’us até que, em Yom Kipur, suas preces foram aceitas. Por esta razão, os sefaradim costumam recitar as Selichot durante quarenta dias. Ao fazê-lo, admitem sua culpa e se arrependem por seus pecados.

É a procura pelos fiéis do amor de D’us, como se percebe na alusão que há no próprio nome do mês de Elul, que é o acróstico de Ani Ledodi Vedodi Li – “Eu (Israel) pertenço a meu amado (D’us) e meu amado (D’us) pertence a mim (Israel)”.

Por outro lado, os ashquenazim costumam recitar as Selichot a partir da noite do sábado anterior a Rosh Hashaná, pois deve haver pelo menos quatro dias de Selichot antes de Rosh Hashaná. Esta prática está ligada ao fato de os judeus religiosos costumarem dizer Selichot e jejuar durante os Dez Dias de Arrependimento. Uma vez que em quatro desses dias é proibido jejuar (nos dois dias de Rosh Hashaná, no Shabat Shuvá – o sábado do retorno, do arrependimento – e na véspera de Yom Kipur), então, acrescentou-se um período mínimo de quatro dias precedentes a Rosh Hashaná. Os que não jejuam, recitam as orações de Selichot.

Vidui (confissão) – Alguns sefaradim e ashquenazim costumam bater com o punho sobre seu coração ao recitar as preces de confissão (Vidui). Esta prática mescla sentimentos de culpa – o coração que teria levado a pessoa a pecar – com sentimentos construtivos, pois a razão do arrependimento é modificar o coração do indivíduo e o seu ser. Sefaradim ocidentais não seguem esta prática, dando maior ênfase à força das palavras e não ao simbolismo do gesto de bater no peito durante a confissão dos pecados. [1]

Fontes: [1] Revista Morashà, Ed. 34, set.2001: http://www.morasha.com.br/conteudo/ed34/yom.htm

[2] Mesilot HaTorà, Centro para el Esclarecimiento Judìo: http://www.mesilot.org/pt/festividades/rosh_hashana.htm

[3] http://alquimyamistyka.blogspot.com.br/2012/01/rosh-hashana.html

 

Coordenador: Saul Stuart Gefter



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